O silêncio perturbador de Rodrigo Pacheco no caso da rachadinha
O presidente do Congresso se mantém mudo e inerte sobre o escândalo que envolve o senador Davi Alcolumbre, seu antecessor e ex-companheiro de partido
Há um mês, VEJA publicou uma reportagem revelando que o senador Davi Alcolumbre (DEM-AP), presidente da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), manteve registradas em seu gabinete seis funcionárias que nunca apareceram para trabalhar. Contratadas, elas recebiam apenas um valor minúsculo do salários, que variavam de 4 a 14 mil reais. A diferença ficava com o parlamentar. O esquema de rachadinha durou quase cinco anos e rendeu mais de 2 milhões de reais.
O caso, por si só, já é escandaloso, mas fica ainda mais intrigante diante da reação do presidente do Congresso, Rodrigo Pacheco. As funcionárias fantasmas contaram que eram orientadas a abrir uma conta corrente e entregar o cartão e a senha a uma pessoa de confiança de Alcolumbre. O dinheiro era sacado em um caixa eletrônico que fica a 200 metros do gabinete de Alcolumbre no mesmo dia em que o pagamento era creditado. Pacheco, desde então, mantém um silêncio perturbador sobre a denúncia.
Pré-candidato a presidente da República pelo PSD, Rodrigo Pacheco tem um estilo de não comprar briga com ninguém — o que explica apenas em parte sua inação. A relação dele com Davi Alcolumbre é um dos grandes enigmas do Senado. O presidente do Congresso nada faz para contrariar o senador do Amapá que, diga-se de passagem, foi padrinho de sua eleição à presidência do Senado. Na época, ambos pertenciam ao mesmo partido.
Em situações normais, um caso como esse da rachadinha renderia investigação pelo Conselho de Ética do Senado. O problema é que o colegiado está desativado há meses e, aparentemente, não existe nenhuma disposição da parte de Pacheco para que volte a funcionar.
“O Senado está repleto de gente viciada à velha política, ao patrimonialismo, ao fisiologismo. Todos nós levamos a fama”, reclama o senador Lasier Martins (Podemos-RS). “O Rodrigo Pacheco tem um bom discurso, é um sujeito prudente, mas fica muito em cima do muro. Ele não quer incompatibilidades com nenhum lado, porque quer ser candidato a presidente da República”, acrescenta Martins. Com a palavra, o presidente do Congresso.