O recado de Paulo Gonet na nova função de procurador-geral da República
PGR se reuniu com autoridades e buscou se afastar de comparações com o antecessor Augusto Aras ao prometer trabalhar sem pensar em recondução ao cargo

Em reuniões com autoridades nas últimas duas semanas, o procurador-geral da República, Paulo Gonet, deu pistas importantes sobre como vai conduzir investigações contra autoridades com foro privilegiado e administrar a imagem da instituição depois do desgaste reputacional atribuído a Augusto Aras, antigo chefe do Ministério Público da União.
Segundo interlocutores que participaram de encontros com Gonet, além de ter defendido a discrição como uma atribuição inerente ao cargo, o principal recado do novo PGR foi o de que ele vai exercer o mandato de dois anos como se fosse o último.
Mais um aceno à independência e menos um compromisso de fato, a ideia, disse ele conforme fontes ouvidas por VEJA, é de que ele não poderia começar o trabalho já pensando em uma eventual recondução porque, se assim o fizesse, repetiria a postura de Aras.
À frente da PGR por quatro anos, Augusto Aras foi alçado a procurador-geral em uma candidatura avulsa apoiada por um amigo do ex-presidente Jair Bolsonaro e, à frente do MP, pouco acossou o então mandatário em episódios como o endosso a atos antidemocráticos, a postura do governo no enfrentamento da pandemia e o suposto papel de incitador dos atos do 8 de Janeiro.
Entre as expectativas quanto ao recém-iniciado mandato de Paulo Gonet está a de saber como a Procuradoria-Geral da República vai tratar o ex-presidente Bolsonaro no conjunto de processos que miram financiadores, executores, instigadores e outras autoridades envolvidas nos atos que resultaram na depredação das sedes dos três poderes e no ensaio de uma virada de mesa após o resultado eleitoral ter dado vitória a Luiz Inácio Lula da Silva. Bolsonaro foi inserido em um dos inquéritos que tratam do 8 de Janeiro, mas não há previsão de quando eventuais novos desdobramentos envolvendo o ex-mandatário serão anunciados pela PGR.
O que faz um procurador-geral da República?
Como chefe do Ministério Público cabe ao procurador-geral Paulo Gonet questionar a constitucionalidade de leis, propor investigações e prisões contra autoridades com foro e – a mais delicada de todas as atribuições – denunciar em ação penal aquele que o indicou, o presidente da República.