O quarteto bombástico nos ministérios de Bolsonaro
Ganharam espaço na Esplanada pessoas marcadas pelo alinhamento ideológico com o presidente
Jair Bolsonaro afirma ser o primeiro presidente a preencher os seus ministérios com escolhas técnicas. Por outro lado, ganharam espaço na Esplanada pessoas marcadas pelo alinhamento ideológico com ele. Guru da família do capitão, o polêmico escritor Olavo de Carvalho, famoso por sua boca suja e teorias rasas, indicou dois nomes para formar o primeiro time: Ernesto Araújo assumiu o Itamaraty, enquanto o colombiano Ricardo Vélez Rodríguez ficou à frente da pasta da Educação.
Devoto do “Deus Trump”, como Araújo definiu o presidente americano em um texto no seu blog, o chanceler está longe de ser o principal representante da política externa do país. Tanto que teve uma crise de raiva quando foi excluído de uma reunião na Casa Branca para que Eduardo Bolsonaro, o filho do presidente que queria ser embaixador nos Estados Unidos, conversasse com Trump. Já Vélez fez tanta bobagem que durou só três meses.
Para o seu lugar foi escolhido Abraham Weintraub, um dos primeiros acadêmicos a abraçar a candidatura de Bolsonaro. Professor da Unifesp e outro admirador de Olavo, ele se notabilizou por vídeos constrangedores nas redes sociais (sua performance emulando a cena de Cantando na Chuva já virou um clássico do ridículo). Em vez de apresentar propostas para tirar o Brasil da rabeira nas avaliações internacionais de qualidade de ensino, ele adotou uma postura de enfrentamento com estudantes, professores e reitores. Foi alvo da primeira grande manifestação contra o governo, após anunciar o congelamento de verbas para a educação, e chegou a dizer que universidades federais mantêm “extensas plantações de maconha” — o que lhe rendeu um processo movido pela Andifes (associação de reitores).
Completam o quarteto ideológico a ministra da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, Damares Alves, e o chefe da pasta do Meio Ambiente, Ricardo Salles. “Terrivelmente evangélica”, Damares cunhou frases como “meninos vestem azul e meninas vestem rosa”. Com sua expressão sisuda e óculos de armação na cor caramelo, Salles personificou o comportamento negacionista do governo diante das crises ambientais de 2019, que envolveram queimadas na Amazônia e óleo em praias do Nordeste. Enquanto arrancou aplausos dos radicais do bolsonarismo, o quarteto constrangeu a maior parte do país com suas ideias, preconceitos e ineficiência.
Publicado em VEJA de 1º de janeiro de 2020, edição nº 2667