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O polêmico influenciador que é aposta do PT para ampliar o apelo nas redes

Thiago dos Reis diz que o partido não pode ficar usando 'estilingues' enquanto os adversários combatem com 'metralhadoras' na guerra digital

Por Hugo Marques Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO 8 dez 2024, 08h00

De tempos em tempos, a internet produz fenômenos meteóricos, influenciadores que atraem milhares de seguidores e usam certos talentos para os mais variados fins. Normalmente são jovens, dominam as técnicas e a linguagem das redes sociais e ganham muito dinheiro. O paulista Thiago dos Reis é um exemplo. Recentemente, ele foi um dos palestrantes convidados pela Fundação Perseu Abramo, entidade ligada ao Partido dos Trabalhadores, para expor seus conhecimentos sobre as novas formas de comunicação. Nas últimas semanas, o partido esteve ouvindo sugestões de especialistas sobre as melhores maneiras de enfrentar os futuros desafios da legenda, especialmente no campo eleitoral. E a comunicação, segundo lideranças petistas, está no topo das preocupações. O diagnóstico é que militantes, dirigentes e os próprios políticos do PT continuam sendo massacrados pelos opositores na “disputa de narrativas” que acontece no universo digital. Como mudar essa situação? Thiago dos Reis foi instado a dar essa resposta.

O influenciador, de 36 anos, tem mais de 3 milhões de seguidores. Do alto de sua experiência, ele receitou algumas técnicas que podem ajudar a impulsionar as ideias e reforçar as posições do partido nas redes sociais. Primeiro, é preciso aprender a enganar. Thiago sugere, entre outras coisas, que os militantes que não podem ou não querem aparecer criem “contas anônimas” e passem a postar algum tipo de conteúdo que nada tenha a ver com política, mas que atraia a atenção dos internautas. À medida que o número de seguidores for aumentando, o autor do perfil começa a inserir determinadas opiniões sobre temas, uma espécie de propaganda subliminar. “Você vai tentando crescer essa conta, falando sobre algo do seu nicho, que não seja algo de política. Vê o que dá certo, o que não dá e tudo mais. Aí você joga um pouquinho de política aqui, um pouquinho ali”, ensinou.

Filiado ao PT, o influenciador disse que esse truque já é usado pela “extrema direita” — e citou o deputado Nikolas Ferreira como exemplo. “O Nikolas tem 11 milhões de seguidores no Instagram, ganhou 3 ou 4 milhões este ano, como? Ele tem centenas de contas evangélicas que compartilham o que ele fala quando diz alguma coisa que essas contas acham que o povo evangélico vai gostar. Então ele fura a bolha”, ressaltou. Essa estratégia é capaz de criar um debate artificial que mobiliza os internautas. Num contexto eleitoral, o influenciador afirma até que esses movimentos são mais importantes do que as campanhas tradicionais. “Hoje tem mais gente que define seu voto pelo que consome nas redes sociais e no celular do que pelo que vê nas ruas”, disse ele.

MEUS VALORES - Exemplos de posts: o influenciador petista tem 3 milhões de seguidores, ataca os adversários do governo e do partido, não poupa xingamentos, já teve publicações apagadas por serem mentirosas e sua conta numa rede social foi cancelada, o que ele classificou como “censura”
MEUS VALORES - Exemplos de posts: o influenciador petista tem 3 milhões de seguidores, ataca os adversários do governo e do partido, não poupa xingamentos, já teve publicações apagadas por serem mentirosas e sua conta numa rede social foi cancelada, o que ele classificou como “censura” (./.)

A atual polêmica sobre o pacote de gastos foi citado como um caso exemplar da fragilidade petista nas redes. “O Lula está numa luta enorme com o mercado. Já tivemos editoriais dos maiores jornais do Brasil exigindo que ele corte gastos, que tem que cortar da saúde, da educação. Tem até gente de esquerda disseminando fake news de que o Lula queria cortar no BPC, que ele queria cortar o FGTS, que ele queria atacar o piso da saúde, da educação. E o Lula tá lá, ele e o Haddad, defendendo exatamente os interesses da população contra o mercado financeiro. Você não vê uma estratégia de comunicação para fazer isso chegar nas pessoas”, diz Thiago. É aí que os perfis anônimos entrariam em ação. Os “influenciadores” defenderiam a posição do governo, inundando as redes com uma “enxurrada” de mensagens favoráveis ao pacote, mas sem que ninguém soubesse que o conteúdo estaria sendo produzido por militantes ocultos. “Não tem nada de antiético nesse caso”, disse ele a VEJA. “Você não pode entrar numa guerra num terreno sem lei (que são as redes) em que o outro lado tem metralhadoras e achar que vai vencer usando só estilingues”, justifica.

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Saudado pela presidente do PT, Gleisi Hoffmann, como “um grande companheiro”, o influenciador costuma usar seus canais digitais para desqualificar os adversários do governo e do partido. Recentemente, ele chamou o deputado Nikolas Ferreira de “vagabundo”. O problema é que, eventualmente, ele também usa as tais metralhadoras para postar notícias falsas. Por conta disso, já teve publicações apagadas após verificadores independentes comprovarem que eram mentirosas e sua conta no X foi cancelada por motivos semelhantes — em 2020, ele divulgou que o então presidente Jair Bolsonaro havia sido contaminado pelo coronavírus. Na mensagem, ele deseja a Bolsonaro o mesmo que o filho do ex-presidente teria desejado a Marielle. Na época em que esse cancelamento ocorreu, a propósito, o influenciador reclamou que estava sendo vítima de “censura”. “O bolsonarismo usa milhares de contas anônimas para atacar a democracia e as instituições. O nosso lado deveria começar a usar exatamente as mesmas estratégias para defendê-­las”, ressalta. Apesar de tudo isso, Thiago é um fenômeno. Seus vídeos acumulam mais de 1 bilhão de visualizações. É essa experiência de sucesso que o PT ouve, elogia e, ao que tudo indica, pode até replicar.

Publicado em VEJA de 6 de dezembro de 2024, edição nº 2922

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