O novo cabo de guerra entre a J&F e o Ministério Público
Após ser acusado de atuar para beneficiar empresa concorrente, procurador Anselmo Lopes anunciou que vai processar holding dos irmãos Batista por difamação
O cabo de guerra entre a gigante J&F e o Ministério Público Federal ganhou um novo capítulo neste sábado, 18, com a decisão do procurador responsável pelo acordo de leniência da holding dos irmãos Joesley e Wesley Batista de apresentar uma acusação criminal de difamação contra a empresa. O motivo: a companhia acusa o procurador Anselmo Lopes de ter atuado em uma suposta parceria espúria com o consultor Josmar Verillo para prejudica-la.
Nos últimos dias, a J&F bateu às portas do Supremo Tribunal Federal (STF) com um pedido para ter acesso ao acervo de mensagens hackeadas de procuradores da Lava-Jato que, entre outras coisas, mostrou que o então juiz Sergio Moro agia com parcialidade em casos do petrolão e levou à anulação de sentenças e decisões que ele havia proferido contra o presidente Lula. É nessas mensagens, acredita a empresa, que ela conseguirá encontrar elementos para sustentar a tese de que, não só nos casos do petista, mas também nos dela própria teria havido irregularidades.
A ofensiva contra Anselmo Lopes tem como pano de fundo a disputa da J&F com a Paper Excellence pelo controle da Eldorado Celulose. A holding dos irmãos Batista alega que foi coagida a celebrar o acordo de leniência na esteira da Lava-Jato e que o então consultor da Paper, Josmar Verillo, mantinha diálogos com o procurador para prejudicar a J&F. Em petição encaminhada ao STF, a empresa acusa Anselmo de “chantagem institucional”, o que o levou a processar a empresa por difamação.
Anselmo diz que sequer conhece Verillo, afirma que nunca se reuniu com ele e acusa o advogado da J&F Francisco de Assis Silva de atacá-lo. Além de indenização por danos morais, o procurador afirma que a procuradoria-geral da República deve analisar se Silva pode ter o acordo de delação premiada que firmou rescindido por suposta falta de boa-fé.
Em maio de 2017, a partir de uma gravação de Joesley Batista, o país conheceu a célebre declaração do ex-presidente Michel Temer – ‘Tem que manter isso, viu?’ – no que o Ministério Público interpretou como um aval do político para que fosse paga propina em troca do silêncio do ex-presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha. Foram abertos quase 90 inquéritos em decorrência dos depoimentos prestados pelos sete delatores da J&F, incluindo Francisco de Assis Silva. Os irmãos Batista receberam a “imunidade processual”, o que equivale a uma garantia de perdão pelos crimes que cometeram, para produzirem provas contra Temer e políticos do quilate dos ex-presidentes Lula e Dilma Rousseff e do ex-presidenciável tucano Aécio Neves.
Nenhum dos delatados foi penalizado e, a partir das mensagens hackeadas, a Lava-Jato foi à lona e acordos de delação caíram em descrédito. A maré também virou para a J&F quando o então procurador-geral da República Rodrigo Janot acusou Joesley de burlar a delação premiada, omitir fatos e usar informações privilegiadas para enriquecer as empresas do grupo.