O mistério da ‘afilhada’ do ex-ministro Eduardo Pazuello
Além conseguir contratos no Exército, arquiteta passou a trabalhar em fundação, pouco depois que general começou a comandar ministério
A indicação de uma “afilhada” do ex-ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, para um cargo financiado pela pasta que o general comandou por 10 meses do governo Bolsonaro virou um verdadeiro jogo de empurra. A arquiteta Larissa Denardin de Mesquita trabalha para a Fundação de Estudos e Pesquisas Socioeconômicos (Fepese) desde setembro de 2020. Começou na vaga pouco tempo depois que o oficial chegou ao comando do ministério. Lá, ela vem recebendo um salário de 8.000 reais por mês para atuar em um projeto contratado pela Saúde voltado a aperfeiçoar mecanismos de gestão em hospitais federais do Rio.
Sua condução para o posto nessa entidade privada tem explicação. Deu-se graças à estreita relação que Larissa construiu com Pazuello ao longo do tempo. A arquiteta, aliás, já foi beneficiada outras vezes pelo padrinho. Em 2013, por exemplo, Larissa conquistou contratos com o Exército justamente depois de Pazuello ter entrado em campo para assumi-la como afilhada. É o que revela uma troca de e-mails entre os dois a que VEJA teve acesso. Depois de Larissa reclamar ao amigo sobre as dificuldades para se habilitar no sistema e disputar o contrato, Pazuello escreveu: “ “Larissinha, o sinal aqui é uma m… As coisas só acontecem quando você tem um padrinho. No caso deve ser eu mesmo”.
E, de fato, os negócios de Larissa começaram a prosperar. Segundo o Portal da Transparência, a arquiteta recebeu 8.000 reais por com um contrato, firmado sem licitação, para realizar serviços de consultoria em arquitetura. Na sequência, ela fundou a YEX Arquitetura e Design. No mesmo período, assinou pelo menos mais três contratos com o comando do Exército, todas sem licitação. No ano passado, a empresa de Larissa foi novamente agraciada: mais 16.000 reais para tocar um projeto de revitalização da sede da guarda da Bateria Mallet, corpo de artilharia montada do Exército.
A Fepese nega que tenha sido a responsável pela seleção de Larissa. Segundo a fundação, o processo de escolha dos funcionários é uma incumbência do coordenador de cada projeto. A entidade afirma que apenas dá encaminhamento às contratações feitas a partir de uma lista de indicações que recebe dele. Já o coordenador do projeto em questão, o professor da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Luiz Alberton, afirma que não participa do processo de seleção e que essa é uma função da Fepese.
No Ministério da Saúde, conta-se que Larissa chegou à fundação pelas mãos de George Divério, ex-superintendente da pasta no Rio. Amigo de Pazuello, Divério foi demitido do cargo em maio deste ano, depois de se envolver na contratação irregular de empresas. Procurado, o ex-ministro não comentou o assunto.