O jogo truncado de Pacheco para ser o nome de Lula ao governo de Minas
Ex-presidente do Congresso pode ter que deixar o PSD, que flerta com a hipótese de apoiar o candidato de Zema

Há pouco mais de um mês, em evento em Mariana, região central de Minas Gerais, para anunciar o acordo de reparação pelo rompimento da barragem do Fundão em 2015, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva mandou um recado ao se dirigir ao senador e ex-presidente do Congresso, Rodrigo Pacheco (PSD): “Futuro governador, futuro governador”, disse duas vezes para enfatizar a mensagem. O cortejo não foi sem motivo. Pacheco é o único nome viável de Lula para disputar o governo de Minas, o segundo maior colégio eleitoral do país e hoje um reduto da direita, comandado desde 2019 pelo adversário Romeu Zema (Novo). Para tanto, Pacheco já tem andado pelo estado e aparecido com Lula em inaugurações e anúncios de obras, mesmo sem ainda se colocar como pré-candidato. Com o PT enfraquecido, a ideia de Lula é apoiar Pacheco na construção de uma frente ampla capaz de levar um aliado ao poder. O plano do petista está cada vez mais claro, mas, a julgar pela movimentação nos bastidores da política mineira, a execução não será fácil.
O principal obstáculo está no próprio partido de Pacheco, o PSD. A sigla, comandada por Gilberto Kassab — que tem se inclinado cada vez mais à direita para 2026 —, pode não só optar por apoiar o candidato de Zema, o vice-governador Mateus Simões (Novo), como filiá-lo à legenda. O partido tem a maior bancada da base governista na Assembleia Legislativa (dez deputados) e é muito próximo de Simões. A percepção governista é de que é possível formar uma grande chapa de direita que incluiria PSD, PL, União Brasil, PP e, claro, o Novo. Um fator que ajudaria a atrair aliados é a aprovação do governo, que está em torno de 65%, segundo as pesquisas recentes. “O círculo de apoios vai se consolidando, porque é um apoio ao atual governo. Eu acredito que o PSD estará conosco”, afirma Simões.

A trajetória recente do PSD no estado estimula apostar em qualquer cenário. O partido cresce em tamanho (é o maior de Minas Gerais, com 141 prefeituras), mas também em ambiguidades. Considerado o mais leal a Zema no estado, faz parte da base de Lula, com três ministros, entre eles Alexandre Silveira (Minas e Energia), um importante quadro político mineiro. Em 2022, o PSD contou com o apoio do PT na candidatura de Alexandre Kalil ao governo e, em 2024, na de Fuad Noman à prefeitura de Belo Horizonte. Agora, o presidente estadual da legenda, deputado Cassio Soares, sinaliza uma mudança. “O alinhamento que Kassab tem dado é um pouco divergente do campo do governo Lula. Mas o PSD é equilibrado. Nós vamos aguardar o momento adequado para discutir à mesa”, afirma.
Pacheco já percebeu o problema e vem insistindo que o PSD não deve se aliar a Zema. “O PSD é o maior partido de Minas, muito pela contribuição que eu dei. Acho que ele não pode se entregar a um projeto que não é adequado e já se mostrou ineficaz para soerguer o estado”, disse na segunda 14, em entrevista à Rádio Itatiaia. De qualquer forma, o senador já avalia outras possibilidades, como o MDB (ao qual foi filiado entre 2009 e 2018), o PSB (que é mais próximo a Lula) e o União Brasil. A equipe do senador nega que a mudança do PSD esteja sendo negociada. Simões, por outro lado, aposta que a movimentação irá ocorrer e disse que aguarda para negociar melhor o seu futuro: “Estou esperando a saída de Pacheco para fazer isso abertamente. Respeito muito o senador e, enquanto ele estiver no PSD, não vou ficar cortejando o Kassab”.

Independentemente de como a direita irá se organizar, não há dúvida de que ela será o rival a ser batido por Lula e seu candidato em 2026. Segundo o Paraná Pesquisas, a depender do cenário, o senador Cleitinho Azevedo (Republicanos) e o deputado Nikolas Ferreira (PL) chegam perto de 40% das intenções de voto, enquanto Kalil tem 20% e Pacheco, 15%. Já Simões patina em 3%, o que torna mais necessária uma aliança de peso. “A esquerda está muito fraca, soma pouco, mas a direita também precisa se acertar. O cenário está em aberto, só sabemos que vai ficar entre o centro e a direita”, analisa Carlos Ranulfo, doutor em política pela UFMG. A direita, embora forte, pode ir rachada para a eleição. “Se eu continuar liderando as pesquisas no ano que vem, chegando a mais de 50%, é o povo que está querendo que eu seja governador. Eu não posso fugir disso”, afirma Cleitinho.
O xadrez em Minas é um dos mais relevantes para as decisões nacionais, dado que, desde a redemocratização, nenhum presidente chegou ao Palácio do Planalto sem vencer no estado. Kassab, que elegeu dois governadores pelo PSD em 2022, mas pode chegar com seis em 2026, será, com o seu partido, uma figura central para ajustar as peças no intrincado tabuleiro.
Publicado em VEJA de 18 de julho de 2025, edição nº 2953