O impasse que Silveira e Jefferson têm que resolver – sem poder se falar
Os dois pretendem concorrer ao Senado nas próximas eleições caso o STF não os condene, mas estão proibidos de manter contato entre si

O deputado federal Daniel Silveira e o ex-deputado Roberto Jefferson, do PTB, têm duas coisas em comum. Ambos foram presos no ano passado por proferir ameaças às instituições e desejam concorrer ao Senado na eleição deste ano, caso não sejam condenados no Supremo Tribunal Federal (STF).
O problema é que os dois têm o Rio de Janeiro como reduto. Só há espaço para um deles na eleição para o Senado, e o partido quer que o outro seja candidato a deputado federal para funcionar como um puxador de votos, na esteira dos holofotes que receberam após as prisões. Se estivessem em situação normal com a Justiça, eles poderiam resolver o impasse conversando entre si. Hoje, no entanto, não podem – literalmente. Entre as medidas restritivas cumpridas pelos dois ex-presidiários – Silveira em liberdade, Jefferson em cárcere domiciliar – está a proibição de fazer contato com outros investigados pelo STF nas apurações sobre ameaças à democracia. Também não podem usar as redes sociais.
Acredita-se que tanto Silveira quanto Jefferson têm potencial para receber mais de 100 mil sufrágios para deputado e impulsionar outros nomes, além de colaborar para a obtenção de uma fatia maior do fundo partidário – calculado com base no número de votos que cada legenda tem na eleição para a Câmara.
Caberá a interlocutores solucionar o problema, num partido já envolvido em uma série de brigas internas. A presidência da sigla, depois que Jefferson foi preso, virou uma disputa acirrada. Hoje, está com o deputado estadual fluminense Marcus Vinícius, eleito após a dissolução de Graciela Nienov do comando do diretório. Ex-aliada do cacique petebista, ela passou a ser vista como traidora e a sofrer pressão interna para ser afastada da presidência, o que de fato aconteceu.
Nos últimos tempos, o PTB vem se reorganizando para ser uma casa alternativa para bolsonaristas que não têm espaço no PL, onde a disputa nas fileiras partidárias está acirrada para a eleição. Com nominatas robustas para a Câmara, o partido do presidente Jair Bolsonaro acaba sendo visto como pouco atraente para candidatos que não devem conseguir abocanhar fatias generosas dos recursos partidários, que tendem a ser bem concentrados na eleição presidencial – e, no caso do Rio, na reeleição do governador Cláudio Castro.