O general perdeu a guerra
Santos Cruz cometeu um grande erro estratégico: abriu várias frentes de batalha simultâneas, e perdeu todas
O ministro-chefe da Secretaria de Governo, general Carlos Alberto Santos Cruz, cometeu um grande erro estratégico: abriu várias frentes de batalha simultâneas, e perdeu todas. Como articulador político, comprou briga com o ministro-chefe da Casa Civil, Onyx Lorenzoni. Os dois vinham se desentendendo havia tempo em torno das estratégias de negociação com o Congresso. A rusga alcançou altas temperaturas, a ponto de Santos Cruz ter faltado a diversos encontros decisivos com parlamentares convocados por Onyx — em alguns casos, quando comparecia, atrasava de uma a duas horas. Houve cenas de constrangimento, segundo relatos de assessores do Planalto. Além disso, o general barrou nomeações que sabia terem vindo da Casa Civil. Onyx reclamou do comportamento do colega ao presidente Jair Bolsonaro.
Em outro flanco, o general trocou tiros com o secretário de Comunicação da Presidência, Fabio Wajngarten. Os dois divergiam sobre as campanhas de publicidade do governo. Discordavam das estratégias, dos custos, da forma — de praticamente tudo. O general achava desnecessário investir em campanhas nos veículos tradicionais da grande imprensa e nunca gostou de ver Bolsonaro em programas populares de televisão, como o do apresentador Ratinho, no SBT, e o de Luciana Gimenez, na RedeTV!. Foi vencido na discussão. Wajngarten abriu portas diretas com Bolsonaro e ganhou a queda de braço.
À margem desses dois embates principais, comprou brigas paralelas. O general também se indispôs com o ministro Ernesto Araújo, das Relações Exteriores. Foi a cizânia mais barulhenta. Santos Cruz recebeu sucessivos ataques nas redes sociais do filósofo Olavo de Carvalho, guru de Ernesto e do próprio Bolsonaro. Foi xingado de “fofoqueiro”, insultado com palavrões e acusado de querer usar o cargo para censurar a internet. O general havia declarado que postagens na internet poderiam até ser um instrumento relevante de governo para a divulgação de ideias e projetos, mas que deveria antes existir uma legislação mais adequada.
Em maio, circulou também nas redes sociais uma conversa por WhatsApp que Santos Cruz teria mantido com um interlocutor desconhecido. No diálogo, ele atacava Bolsonaro e revelava simpatia por um governo liderado pelo vice-presidente Hamilton Mourão. Santos Cruz disse que tudo não passava de uma contrafação e pediu que a PF investigasse o caso. Na quinta-feira, logo depois da demissão do ministro, Mourão afirmou ter sido informado pela imprensa.
Santos Cruz foi demitido por Bolsonaro diretamente. Em sua carta de despedida, informou, sem maiores detalhes, que deixou o governo por decisão do presidente, a quem agradeceu e desejou “saúde, felicidade e sucesso”. Em seu lugar entrou outro general, Luiz Eduardo Ramos Baptista Pereira, comandante militar do Sudeste, homem de bom trânsito com os parlamentares, com Onyx e Wajngarten, a dupla de desafetos do demitido. Bolsonaro pensou em nomear para o lugar de Santos Cruz o atual secretário da Reforma da Previdência, Rogério Marinho, mas foi convencido a manter a cota militar no círculo mais próximo do poder. O general foi o terceiro ministro a deixar o governo.
Publicado em VEJA de 19 de junho de 2019, edição nº 2639
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