O cobertor curto dos partidos com o fim das coligações
Apesar do aumento dos custos para lançar candidatos próprios, partidos vão receber muito mais verba pública para financiar os políticos

A combinação de dois fatores – o fim das coligações eleitorais e o cumprimento do quociente eleitoral – se transformou na principal dor de cabeça do núcleo financeiro das campanhas parlamentares de outubro. O motivo é que, desde 2020, partidos não podem mais pegar carona na popularidade do candidato aliado para, coligados, alcançarem uma cadeira em Legislativos estaduais e federais. Também não podem mais contar com o financiamento que faziam, em conjunto, na coligação. Tampouco é recomendável que lancem um pequeno número de concorrentes porque correm o risco de ficarem longe do chamado quociente eleitoral, fórmula matemática que definem os eleitos a partir da divisão do número de votos válidos pelo número de vagas em disputa.
O cenário, de difícil compreensão do eleitor comum, mudou a forma como os partidos criam a lista de candidatos a deputados federais e estaduais que apresentarão aos brasileiros no dia 2 de outubro, data do primeiro turno. Com as novas regras, eles têm calculado ser mais vantajoso lançar mais candidatos que as vagas disponíveis em cada estado como forma de, depois de diluídos os votos, conseguirem atingir o quociente eleitoral e emplacarem seus nomes no Legislativo. O efeito colateral desta proposta, dizem dirigentes, é que com a estratégia vem a necessidade de financiar todos esses nomes sem um partido coligado para dividir a conta, o que sobrecarrega os caixas das agremiações.
“Antes tínhamos cinco partidos em uma coligação e cada um entrava com cinco, dez candidatos – e gastava só com eles. Agora, sem a coligação, você tem que lançar preferencialmente chapa completa”, diz o vice-presidente do PL, deputado Capitão Augusto (SP). “Em São Paulo, por exemplo, [que tem 70 vagas na Câmara Federal] todos os partidos buscam lançar 71 candidatos para ajudar no coeficiente eleitoral. E têm que bancar esses candidatos. O custo acaba sendo mais caro com o fim da coligação”, afirma.
Apesar do aumento dos custos, os partidos vão receber valores inéditos de verba pública para financiar os políticos. As campanhas — inclusive para governador, senador e deputado — serão bancadas principalmente com dinheiro público, do fundo eleitoral, que passou de 1,7 bilhão de reais em 2018 para 4,9 bilhões de reais em 2022.