No horário de expediente
Em meio às complicadas negociações com o Congresso, o ministro-chefe da Casa Civil enforca a sexta-feira para descansar em um paraíso ecológico
A agenda do ministro-chefe da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, está sempre cheia. Responsável por conduzir as negociações com o Congresso, acompanhar as políticas públicas e coordenar as ações do governo, o ministro recebe deputados, senadores, governadores, empresários, representantes de entidades de classe, além dos recorrentes despachos que tem com o presidente Jair Bolsonaro. Os compromissos geralmente começam por volta das 8 horas e se estendem até o fim da tarde. Dependendo do dia, invadem a noite. Na sexta-feira 31, no entanto, a agenda oficial do ministro estava vazia — “sem compromissos oficiais”, de acordo com o site. As autoridades de Brasília costumam deixar a agenda vazia quando decidem tirar o dia para resolver questões administrativas, adiantar um serviço atrasado ou cumprir alguma tarefa excepcional. Onyx, de fato, tinha uma tarefa excepcional a cumprir, mas ela nada tinha a ver com o governo.
Enquanto o presidente Bolsonaro ia a trabalho para Goiânia e Anápolis, onde almoçou num posto de combustível com caminhoneiros, o ministro aproveitou a sexta-feira para descansar longe de Brasília. Acompanhado da esposa, Denise Veberling, funcionária do Senado, ele viajou para a Chapada dos Veadeiros, um santuário ecológico na cidade de Alto Paraíso de Goiás (GO), a 224 quilômetros do Palácio do Planalto. O casal ficou lá durante o fim de semana. Onyx casou-se em novembro do ano passado, já indicado como futuro ministro da Casa Civil. O passeio foi uma espécie de segunda lua de mel. A região é conhecida pela exuberante beleza natural, com cachoeiras, trilhas, cânions e vegetação do cerrado. As fotos ao lado foram postadas numa rede social da esposa do ministro a partir de sexta-feira e puderam ser vistas pelos seus mais de 2 000 seguidores.
Tempos atrás, era muito comum que autoridades do governo aproveitassem as sextas-feiras para retornar a seu estado de origem. Alguns ainda fazem isso com certa frequência. Paulo Guedes, da Economia, por exemplo, costuma passar a sexta-feira no Rio de Janeiro — mas trabalhando. Ele sempre tem agenda cheia na sede carioca do ministério. Faz tempo que o último dia da semana deixou de ser calmo em Brasília. Em 31 de maio, o clima não estava nada amistoso no Congresso. Na Câmara, deputados de oposição articulavam-se para convocar o ministro da Economia para mais uma desgastante sessão sobre a reforma da Previdência. No Senado, uma medida provisória importante ameaçava caducar caso não fosse votada até segunda-feira. A assessoria do ministro nega que ele tenha gazeteado. “Após cinco meses sem tirar folga, trabalhando inclusive nos fins de semana (como podem atestar as inúmeras idas dele ao Palácio da Alvorada, testemunhadas pela imprensa), o ministro viajou em uma sexta-feira, com o conhecimento do presidente, por motivos pessoais”, informou a Casa Civil. O amor é lindo. Mas na hora certa.
Colaborou Marcela Mattos
Publicado em VEJA de 12 de junho de 2019, edição nº 2638
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