No campo da política, Lula e Eduardo Leite jogam para empatar
Com raras exceções, desastres naturais costumam produzir efeitos negativos na popularidade dos governantes

Desastres naturais como o que atinge o Rio Grande do Sul costumam jogar luz sobre o trabalho dos governantes e quase sempre provocam, inicialmente, efeitos negativos na popularidade deles, que são acusados de falhas nas áreas de planejamento e prevenção. Isso não quer dizer que o jogo esteja sempre perdido para as autoridades. O placar final depende, basicamente, da reação oficial à tragédia.
O ex-presidente Jair Bolsonaro, por exemplo, desdenhou da gravidade da pandemia de Covid-19, responsável pela morte de mais de 700 000 pessoas no Brasil, e pagou um preço alto por isso, tornando-se o único mandatário brasileiro a não se reeleger desde a redemocratização.
O presidente Lula e o governador Eduardo Leite conhecem bem essa história, tanto que têm dado prioridade à recuperação do Rio Grande do Sul. Segundo cientistas políticos ouvidos por VEJA, os dois — por melhor que seja o trabalho que façam — provavelmente não ganharão popularidade com a reação à tragédia no sul.
Lula e Leite estariam jogando não para vencer, mas para evitar uma derrota — o que seria inevitável em caso de inércia do poder público.
Obstáculos
Para Marcus André Melo, professor de ciência política da Universidade Federal de Pernambuco, a própria polarização reduziria a margem de ganho do presidente e do governo, já que o eleitor bolsonarista, por exemplo, continuará contrário a Lula mesmo que o governo federal faça um trabalho de excelência no Sul. “Há viés de confirmação: leem os resultados em função de suas preferências prévias”.
Já Alberto Aggio, professor de ciência política da Universidade Estadual Paulista, diz que a popularidade do presidente dependerá, como de costume, do desempenho da economia. “O governo Lula reagiu como podia. Não será um fator relevante para elevar a sua popularidade, como se pudesse ser visto como um herói, um salvador.”
Campo minado
No segundo turno da eleição presidencial de 2022, Lula perdeu para Bolsonaro por 56,35% a 46,35% no Rio Grande do Sul, uma diferença de mais de 800 000 votos. A região Sul como um todo é considerada um reduto bolsonarista ou, pelo menos, antipetista. O desafio do presidente é reverter esse quadro.
Pesquisa Genial/Quaest realizada entre os dias dois e seis de maio, período que engloba as duas primeiras visitas de Lula ao Rio Grande do Sul, mostrou que a aprovação ao trabalho do presidente na região Sul subiu sete pontos desde fevereiro, e a avaliação positiva do governo cresceu nove pontos.
Como a margem de erro para a região é de seis pontos percentuais, os dados foram interpretados como uma possibilidade de inversão de tendência, de desfavorável a favorável ao presidente, o que só poderá ser confirmado no próximo levantamento.