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‘Não percam a fé’: A explicação de Braga Netto para a fala enigmática

A declaração foi feita em novembro a manifestantes que pediam providências para reverter a derrota de Jair Bolsonaro para Lula

Por Marcela Mattos Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO 15 out 2023, 10h42

Uma declaração do general Braga Netto, em 18 de novembro do ano passado, é considerada pela Polícia Federal como um dos indícios de que o ex-ministro de Jair Bolsonaro participou ou, no mínimo, teve conhecimento de um suposto roteiro golpista para reverter o resultado das eleições de 2022. A um grupo de apoiadores do ex-presidente que estava no cercadinho do Palácio da Alvorada e reclamava de estar tomando chuva enquanto cobrava providências da Justiça Eleitoral, Braga Netto profetizou: “Não percam a fé. É só o que eu posso falar para vocês agora”.

À época, Bolsonaro não tinha reconhecido a vitória de Lula e mantinha-se trancado no Alvorada, reunindo-se somente com seu núcleo duro e militares do Alto Comando. De acordo com o ex-ajudante de ordens Mauro Cid, o grupo buscava, nesse momento, encontrar uma fraude na eleição e, assim, contestar o resultado.

Alvo de investigações do Congresso e da Polícia Federal, Braga Netto já tem engatilhada uma explicação para a declaração. A interlocutores, ele minimiza qualquer vinculação golpista e afirma que estava apenas se referindo a uma solução jurídica. Quatro dias depois da fala, o PL ingressou na Justiça Eleitoral solicitando a verificação do resultado eleitoral e a invalidação de mais de 250 mil urnas sob o argumento de mau funcionamento do sistema. A proposta foi sumariamente rejeitada pelo ministro Alexandre de Moraes.

Interlocutores de Braga Netto afirmam que, ao fim das eleições, nada foi discutido “fora das quatro linhas” e que eventuais contestações ao resultado eleitoral se embasaram sobre as previsões constitucionais. Eles constataram, por exemplo, que apenas em relação ao tão citado artigo 142,  que trata sobre a garantia da lei e da ordem pelos militares, há mais de 17 mil estudos acadêmicos – o que mostra, segundo essa tese, que a simples discussão do tema não se enquadraria em um golpe.

Essas seriam algumas das declarações que Braga Netto se preparava para apresentar à CPMI do 8 de janeiro. Ele foi alvo de cinco requerimentos de convocação, chegou a ter três datas de oitiva agendadas e o comando do Exército foi acionado para eventualmente auxiliar na ida do general da reserva. No entanto, as audiências acabaram canceladas – e uma guerra de versões nos bastidores da comissão foi travada para dar uma justificativa.

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Espalha-se que houve uma espécie de acordão entre a base e a oposição na CPI, fazendo uma blindagem dupla a Braga Netto e ao ministro da Justiça, Flávio Dino. Também é dito que os bolsonaristas pediram para que o general, provável candidato a prefeito do Rio de Janeiro no ano que vem, fosse protegido e, em troca, o ex-ministro Augusto Heleno seria jogado aos leões. Há, ainda, a versão de que é tudo responsabilidade do presidente da comissão, Arthur Maia (União-BA), que fez um jogo com a oposição, enquanto um outro deputado baiano, o líder do PSD Antônio Brito, negociava uma pacificação com a relatora.

Apesar das blindagens, Braga Netto fez um planejamento de guerra para dar seus esclarecimentos aos parlamentares. Ele reuniu seu núcleo duro, debruçou-se sobre os principais detalhes das investigações sobre o suposto plano golpista e esmiuçou tudo o que se refere à colaboração do ex-ajudante de ordens Mauro Cid. Membros da CPI dão como certo que ele será alvo dos pedidos de indiciamento que constarão no relatório feito pela senadora Eliziane Gama (PSD-MA). O parecer será apresentado na próxima terça-feira, 17.

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