Motorista de Uber, Fabrício Queiroz tenta de novo entrar na política; agora, em Saquarema
Pré-candidato a vereador pelo PL, nome central do escândalo das rachadinhas nega ter “caído de paraquedas” na cidade: “Sempre frequentei Saquarema”
PM da reserva, Fabrício Queiroz já revelou ser um poço de mágoas com a família Bolsonaro. Em 2022, sem apoio do clã, obteve apenas 6,7 mil votos para deputado estadual. Mas o pivô do escândalo das rachadinhas no gabinete de Flávio Bolsonaro na Assembléia Legislativa do Rio (Alerj) não desistiu de entrar na política. Hoje, ele trabalha como motorista de Uber em Saquarema e é pré-candidato a vereador na cidade pelo PL. O município não estava nos planos originais do ex-assessor de Flávio, agora senador. No ano passado, ele chegou a divulgar que disputaria uma vaga na Câmara do Rio pelo Democracia Cristã (DC), de José Maria Eymael. Depois, mudou de rota, e passou a mirar o Legislativo de Campos.
Em Saquarema, finalmente, encontrou abrigo no PL – em 2022, sem vaga no partido, concorreu pelo PTB. Diz que quem deu o aval para sua entrada na legenda no município foi Flávio. Lá, o PL comanda a cidade com a prefeita Manoela Peres, alvo de ação civil pública do Ministério Público por improbidade administrativa devido a denúncias de fraudes em um programa educacional. Ela lançou como sua sucessora a ex-secretária de Educação Lucimar Pereira Vidal da Costa. Queiroz, que conheceu Jair Bolsonaro na Brigada Paraquedista, na Vila Militar do Exército no Rio, rebate críticas sobre a falta de afinidade com Saquarema: para políticos locais, ele teria “caído de paraquedas”. “Meu filho jogou futebol aqui. Nunca tive casa de veraneio (em Saquarema), mas sempre frequentei, ficando na casa de amigos”, afirmou ele a VEJA, dizendo que hoje tem dois contratos de aluguel na cidade. “Já estou morando em Saquarema há mais de dois anos”.
Para reforçar o laço com a cidade, garante que frequentou o lugar mesmo na época em que a pergunta “Cadê o Queiroz?” virou meme – a vida quase clandestina durou do final de 2018 a junho de 2020, quando foi preso num sítio em Atibaia do advogado Frederick Wassef, dentro da Operação Anjo. “Nesse tempo todo em que falavam “Queiroz está em São Paulo”, sempre estive em Saquarema”, diz. Seu filho mais novo, Felipe, jogava na época no Sampaio Corrêa, time de futebol da cidade. As idas à Região dos Lagos, no entanto, eram às escondidas. Já no atual momento o que ele mais quer é ser reconhecido, e nega que tenha virado motorista de aplicativo por dificuldades financeiras. “Ganho razoavelmente bem, eu sou subtenente da PM remunerado, tenho salário de R$ 14 mil e pouco, e tem mais minhas coisinhas que rendem dinheiro. Minha mulher tem os negocinhos dela, e meus filhos estão encaminhados. Não é por necessidade financeira, e não é depreciativo ser motorista de Uber”, justifica, completando. “Minha estratégia é, além de ter uma renda extra, conhecer todos os cantos de Saquarema, conversar com o povo”.
Sobre o desejo de se candidatar no Rio, teria recuado da ideia pelo “cálculo político”, ao ver mais oportunidade fora da capital. Em relação a Campos, afirma que até o prefeito Wladimir Garotinho (PSD) o convenceu de que essa era uma ideia sem futuro. “Eu queria ir para Campos porque tive grande apoio político da direita. Porém, os meninos lá estavam com outro vereador e falaram que não poderiam mais me apoiar. E não tinha tempo hábil: eu precisava estar morando há um ano na cidade. Então, era um tiro no pé”, dá sua versão.
No Instagram, o ex-assessor na Alerj faz pré-campanha tentando colar sua imagem à de Jair Bolsonaro. Mas, qté o ano passado, ele disparava críticas ao ex-presidente e preocupava bolsonaristas que o viam como “homem-bomba”. “Os Bolsonaro são do tipo que valorizam quem os trai. Para eles, eu sou um leproso”, chegou a declarar. Junto às lamentações sobre o abandono de amigos e falta de dinheiro, vinham insinuações de que teria informações comprometedoras. Hoje, o discurso é mais suave, e em Saquarema ele se intitula como “soldado do Bolsonaro”.
“Se para deputado estadual eu tivesse tido apoio direto (de Bolsonaro), com certeza eu seria eleito. Não tive esse apoio. Porém, eles sabem o que estão fazendo. Na urna dele, não teve voto meu. Certamente, votou em alguém mais preparado. Fiquei chateado, mas ele como político raiz sabe o que está fazendo”, expõe ele a mágoa, sem saber se terá a chance de estar na campanha ao lado do velho amigo. “Se ele me apoiar individualmente, ótimo. Mas não forço a barra de nada. Tenho meu potencial, sou ficha limpa, e tentarei ser eleito vereador”, defende Queiroz, que vai convidar Flávio Bolsonaro para a inauguração, em Saquarema, de uma casa voltada para os militantes de direita. Ainda não faz ideia se ele irá.