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Como foi o depoimento da médica Nise Yamaguchi na CPI

A oncologista é uma das maiores defensoras da cloroquina no tratamento da Covid-19 e tida como integrante do chamado 'gabinete paralelo' do governo

Por Da Redação
Atualizado em 2 jun 2021, 06h01 - Publicado em 1 jun 2021, 08h52

A médica oncologista e imunologista Nise Yamaguchi prestou depoimento à CPI da Pandemia nesta terça-feira, 1. Bolsonarista, Nise é diretora do Instituto Avanços em Medicina, de São Paulo, e defensora do chamado “tratamento precoce” contra a Covid-19, com remédios ineficazes como a cloroquina e a ivermectina. Ela também é tida como uma das integrantes do chamado “gabinete paralelo” do governo para assuntos relacionados à crise sanitária e suspeita de ter pedido a alteração da bula da cloroquina por decreto.

O depoimento

Em seu discurso de abertura, a médica afirmou que sua defesa pelo chamado ‘tratamento imediato (ou precoce)’ é “baseada em ciência”. Nise disse que os “artigos científicos publicados” endossados por notas técnicas que provam que remédios como cloroquina e ivermectina não funcionam foram feitos em “pacientes moderados e graves” e não nos “pacientes iniciais”. “Essa eterna discussão entre cientistas vai ocorrer sempre. O que a gente não pode é impedir os médicos de expressarem sua opinião baseado naquilo que já está publicado. O grande inimigo comum é o vírus, é a mortalidade”, salientou.

Ao ser questionada sobre a “imunidade de rebanho”, a médica defendeu a tese, dizendo que se trata de um “fato”. Ao tentar continuar o raciocínio, foi interrompida pelo senador Rogério Carvalho, que é médico e pediu que a população não seja desinformada sobre o assunto. Na sequência, os senadores discutiram. Ao voltar a responder, a oncologista foi questionada por Renan Calheiros se retirava ou mantinha o que falou sobre a defesa da imunidade de rebanho. Ela disse que “mantinha a posição para aquele momento [início da pandemia]”, mas que para hoje “novos algoritmos devem ser considerados”.

Após a reprodução de um vídeo, Calheiros afirmou estar “demonstrada a existência de um gabinete paralelo ao Ministério da Saúde”. Nise, então, negou: “Não participo de nenhum gabinete paralelo. Eu entendo que o governo é um só”. A doutora afirmou que as conversas sobre a dosagem de cloroquina em pacientes com Covid-19 ocorreram dentro de um “ambiente técnico do Ministério da Saúde”. Na sequência, Renan citou diversos nomes que fariam parte do gabinete paralelo, como Carlos Bolsonaro, Osmar Terra, Carlos Wizard e Arthur Weintraub e pediu que Nise informasse outros nomes que compõem o suposto grupo. “Desconheço a existência de um gabinete paralelo e não teria nem como enunciar pessoas que participam”, ressaltou. “Eu só participo como consultora individual”, acrescentou.

Questionada pelo relator após a exibição de vídeos do presidente Bolsonaro com críticas às vacinas contra a Covid-19, Nise disse que nunca conversou com ele sobre o assunto. A oncologista também afirmou que teve poucos encontros com o presidente e que nunca debateu imunidade de rebanho com ele. Negou que a tese possa ter sido a causadora da demora na compra de vacinas pelo governo federal. Revelou que esteve com Bolsonaro “umas quatro vezes” e sempre na companhia de outros médicos e técnicos. Renan afirmou que no dia 15 de maio ela teve um encontro com o presidente a sós, mas Nise disse que não se recordava.

Após ser exibido um vídeo no qual a médica afirma que tratamento precoce seria mais importante que vacinação e que por isso “não é necessário vacinar aleatoriamente a população inteira”, Renan questionou se a médica mantinha o entendimento. Ela, então, afirmou que “vacina não é tratamento, mas prevenção”. Após o vídeo ser reexibido, Nise defendeu que “não se deve vacinar aleatoriamente dizendo que a única saída é a vacinação”. “Tratamento é tratamento, vacinação é vacinação e prevenção é prevenção”, repetiu. A resposta causou revolta no presidente da CPI, Omar Aziz, que a interrompeu e pediu que as pessoas que assistem à CPI “desconsiderem as questões que ela disse sobre a vacina”, porque “ela não está certa”. “Não acreditem nela. Vacina salva, tratamento precoce, não”, ressaltou Aziz. O tema causou discussão entre os senadores.

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Renan Calheiros apresentou vídeos de depoentes como do presidente da Anvisa, Antonio Barra Torres, e do ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta falando sobre a reunião onde se apresentou minuta para mudança da bula da cloroquina e questionou se foi a médica que solicitou a alteração. “De forma alguma, não”, respondeu a médica. Ela acrescentou que não havia minuta para realizar a mudança e que “não houve minuta de bula e nem discutiu” o assunto, mas “a resolução de caráter excepcional” do medicamento. Renan perguntou se ela acreditava que o presidente da Anvisa mentiu e Nise pediu que Barra Torres apresentasse a minuta. Questionada diversas vezes sobre o tema, a oncologista reforçou a negativa: “Não houve nenhuma tentativa de decreto de mudança de bula nessa ocasião”.

O requerimento

Em seu requerimento, o senador Eduardo Girão (Podemos-CE) lembra que, em depoimento à comissão, o diretor da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), Antonio Barra Torres, disse que, numa reunião com o governo federal, a pesquisadora defendeu alterar a bula da cloroquina. Sua intenção, segundo Barra Torres, seria definir o medicamento como eficaz contra o coronavírus.

“Yamaguchi é conhecida por defender a hidroxicloroquina e a cloroquina no tratamento de pacientes infectados com o Sars-Cov-2 (vírus causador da pandemia). E foi convidada pelo presidente Jair Bolsonaro a integrar o comitê de crise ainda na gestão do ex-ministro Luiz Henrique Mandetta”, cita Girão em seu requerimento.

O depoimento da médica também atende a pedido do senador Marcos Rogério (DEM-RO). Para ele, a audiência “será de importância singular para que [a pesquisadora] exponha sua atuação e conhecimentos, com o objetivo único de restabelecer a verdade, oferendo informações transparentes e esclarecedoras. Tem muito a colaborar”, finaliza o senador no requerimento.

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Ouvido pela CPI em 11 de maio, Barra Torres explicou que a alteração da indicação da cloroquina seria impossível, pois só quem pode modificar uma bula de um medicamento registrado é a agência reguladora do país de origem, desde que solicitado pelo detentor do registro.

“Agora, eu não tenho a informação de quem é o autor, quem foi que criou, quem teve a ideia. A doutora [Nise Yamaguchi], de fato, perguntou sobre essa possibilidade e pareceu estar, digamos, mobilizada com essa possibilidade”, esclareceu.

No dia 27 de maio, o relator da CPI, senador Renan Calheiro (MDB-AL), afirmou que a comissão investiga a existência de uma consultoria informal ao governo a favor de métodos considerados ineficazes de enfrentamento à pandemia.

“Não estamos apenas discutindo a eficácia da cloroquina ou do ‘tratamento precoce’. Queremos investigar se essas coisas foram priorizadas em detrimento da vacinação dos brasileiros. E isso poderia ter salvado muitas vidas”, definiu, opinando que o governo não comprou vacinas suficientes por não acreditar em sua eficácia.

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A CPI também ouvirá críticos da cloroquina, como a microbiologista e pesquisadora da Universidade de São Paulo (USP), Natalia Pasternak, e o doutor em virologia Átila Iamarino.

Outros depoimentos

Dimas Covas foi o décimo a depor na CPI, que apura ações e possíveis omissões do governo federal no enfrentamento da crise sanitária, bem como eventual desvio de verbas federais enviadas a estados e municípios. Também já foram ouvidos os ex-ministros da Saúde, Luiz Henrique Mandetta e Nelson Teich, o atual titular da pasta, Marcelo Queiroga, o presidente da Anvisa, Antonio Barra Torres, o ex-chefe da Secom Fabio Wajngarten, Carlos Murillo, representante da farmacêutica Pfizer, o ex-chanceler Ernesto Araújo, o ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello, a secretária de Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde do Ministério da Saúde, Mayra Pinheiro e o diretor do Instituto Butantan, Dimas Covas.

(com Agência Senado)

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