Assine VEJA por R$2,00/semana
Continua após publicidade

Lula trava nova ofensiva no STF, agora para reaver seu patrimônio pessoal

Após recuperar a liberdade e os direitos políticos, o petista dá início a uma terceira batalha na Justiça

Por João Pedroso de Campos Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 11 jun 2021, 10h57 - Publicado em 11 jun 2021, 06h00

Primeiro, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva conseguiu adiar o cumprimento de uma pena de oito anos e dez meses de prisão ao ganhar a liberdade após 580 dias no cárcere em Curitiba em razão do fim da prisão em segunda instância. Depois, mudou a sua condição de barrado pela Lei da Ficha Limpa, que o impediu de disputar a Presidência da República em 2018, para candidatíssimo e um dos favoritos nas pesquisas para 2022, com a anulação de suas condenações pela Justiça. Agora, o petista está empenhado em uma terceira ofensiva: recuperar o patrimônio pessoal bloqueado pela Justiça. A fatia em discussão é de 6,39 milhões de reais, entre imóveis, veículos, aplicações financeiras e saldos bancários. O campo de batalha é o mesmo onde obteve as vitórias anteriores, o STF. Nos pouco mais de três meses desde que o ministro Edson Fachin anulou as sentenças contra ele nos processos que tramitavam ou tinham passado pelo Paraná, a defesa de Lula protocolou três pedidos para liberar seus bens. O patrimônio do petista quase quadruplicou desde que ele deixou a Presidência, em 2011, e o desafio de seus advogados é provar que essa evolução é lícita, algo que tem sido feito com alguma dificuldade desde que ele entrou na mira da Lava-Jato. A principal argumentação é a de que a maior parte que amealhou é oriunda de palestras proferidas por ele após ter deixado o comando do país e em relação às quais as investigações da Polícia Federal não apontaram nenhum crime.

arte patrimonio Lula

A maior parte do valor estimado do patrimônio bloqueado corresponde à metade do que possuíam Lula e Marisa Letícia, casados em comunhão universal de bens (ela morreu em 2017). A outra metade, conforme o inventário apresentado à Justiça, será dividida igualmente entre os quatro filhos: Fábio Luís, Marcos Cláudio, Sandro Luís e Luís Cláudio. Encontra-se indisponível o quinhão do ex-presidente em três apartamentos, um sítio e um terreno em São Bernardo do Campo, veículos, dois planos de previdência privada e pouco mais de 600 000 reais em bancos (veja o quadro). Lula já havia conseguido junto à Lava-Jato o desbloqueio de uma conta no Bradesco na qual recebe a pensão, com cerca de 63 000 reais (em 2017), e valores equivalentes a quarenta salários mínimos (em 2020). A juíza Gabriela Hardt autorizou também a liberação de metade dos valores retidos, relativa à “meação” da ex-primeira-dama, mas a decisão ainda não teve efeito porque não transitou em julgado. “A parte substancial de valores continua bloqueada”, reclama Cristiano Zanin Martins, advogado do ex-presidente.

 

**ATENÇÃO**NÃO REUTILIZAR ESTA IMAGEM, SUJEITO A COBRANÇA POR USO INDEVIDO**FOTO EXCLUSIVA PARA A UTILIZAÇÃO APENAS NA REVISTA VEJA**
REVÉS – Imóvel no ABC: o lugar onde Lula vivia com Marisa Letícia está bloqueado – (Leandro Moraes/Folhapress/.)

A nova batalha de Lula, mais do que para anular o que foi imposto pela Lava-Jato, visa a garantir o próprio direito de defesa, segundo argumento apresentado nas três ações junto ao STF — ou seja, o petista jura não ter como arcar com os custos de seus advogados e seus processos. Zanin não dá detalhes de sua relação contratual com Lula, mas a assessoria do petista afirma que “assim que possível, o ex-­presidente vai retomar o pagamento do custeio da sua defesa”. Dinheiro, porém, não é exatamente hoje um dos maiores problemas do ex-presidente. Enquanto o STF não toma uma decisão, ele embolsa um salário de 30 421 reais mensais que recebe do PT enquanto presidente de honra da legenda, sob o regime da CLT, e uma pensão de anistiado político de cerca de 6 000 reais. Lula mora em um apartamento em São Bernardo do Campo com a noiva, Rosângela da Silva, imóvel que não está entre seus bens — pessoas próximas não dão detalhes sobre a propriedade da moradia. “Ele é muito modesto, tem uma vida simples”, garante Paulo Okamotto, ex-presidente do Instituto Lula, com aquela dose de exagero de quem é amigo do petista de longa data.

**ATENÇÃO** NÃO REUTILIZAR ESTA IMAGEM, SUJEITO A COBRANÇA POR USO INDEVIDO**FOTO EXCLUSIVA PARA A UTILIZAÇÃO APENAS NA REVISTA VEJA**
CONFLITO - Bonat (à esq.) e Zanin: a defesa do ex-presidente diz que o STF é desrespeitado pelo juiz, o que ele nega – (Nathan D’ornelas/Justiça Federal do Paraná; Aloisio Mauricio/Fotoarena/.)

Depois de se livrar do ex-carrasco Sergio Moro, a agonia de Lula em sua terceira batalha na Justiça tem um novo nome: Luiz Antônio Bonat, o magistrado que comanda a 13ª Vara Federal de Curitiba. A sua defesa sustenta ao ministro Edson Fachin que o juiz desrespeita a Corte ao manter o bloqueio dos bens depois de o STF considerar que os processos contra Lula não poderiam tramitar no Paraná. Bonat determinou há dois anos o arresto de até 77 milhões de reais em bens do petista no processo sobre o suposto recebimento da Odebrecht de um apartamento em São Bernardo do Campo e um terreno que abrigaria o Instituto Lula. O reconhecimento de que a vara de Curitiba não tem jurisdição sobre os casos de Lula foi o pressuposto para que as decisões fossem anuladas, inclusive os recebimentos das denúncias — se os bloqueios foram decretados nesse momento, diz a defesa, eles não poderiam mais estar de pé. Ao Supremo, o juiz argumenta que não afrontou a decisão da Corte. A PGR já se manifestou contra um dos pedidos.

FORA DA LISTA - Sítio em Atibaia: o processo da Lava-Jato foi mandado ao Distrito Federal -
FORA DA LISTA - Sítio em Atibaia: o processo da Lava-Jato foi mandado ao Distrito Federal – (Jefferson Coppola/.)

Embora o esforço dos advogados seja no sentido de garantir uma vitória completa sobre as decisões da Lava-Jato, o ex-presidente não pode comemorar o fim de suas encrencas com a Justiça. Os quatro processos anulados pela decisão de Fachin no STF foram para Brasília — onde já tramitavam quatro ações da Zelotes — e vão recomeçar a partir das provas colhidas pelo MPF. Ali, Lula poderá ser cobrado novamente a explicar bens atribuídos a ele pela Lava-Jato, como os notórios tríplex do Guarujá, que seria propina da OAS, e o sítio em Atibaia, utilizado pelo ex-presidente e que recebeu melhorias de empreiteiras com contratos com a Petrobras. Somados, esses dois endereços são avaliados em quase 4 milhões de reais. A única certeza daqui para a frente é que o patrimônio do petista seguirá como assunto dos tribunais ainda por um bom tempo.

Continua após a publicidade

Publicado em VEJA de 16 de junho de 2021, edição nº 2742

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Domine o fato. Confie na fonte.

10 grandes marcas em uma única assinatura digital

MELHOR
OFERTA

Digital Completo
Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de R$ 2,00/semana*

ou
Impressa + Digital
Impressa + Digital

Receba Veja impressa e tenha acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de R$ 39,90/mês

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$96, equivalente a R$2 por semana.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.