Lula rejeita autocrítica e diz que o PT vai polarizar de novo em 2022
Em Salvador, ex-presidente também volta a atacar o presidente Jair Bolsonaro e afirma que 'a Lava Jato está julgando meu mandato’
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva fez um discurso longo, de cerca de uma hora, e se empenhou em enaltecer a militância petista em seu primeiro compromisso partidário após decisão do STF (Supremo Tribunal Federal) sobre preisão em segunda instância que culminou em sua saída da cadeia após 580 dias, na sexta-feira 8.
Na reunião da Executiva Nacional do PT, em Salvador, na Bahia, na tarde desta quinta-feira, 14, Lula falou sobre o período na prisão, as eleições municipais e o pleito presidencial de 2022, e atacou o presidente Jair Bolsonaro, como já havia feito no primeiro discurso, em Curitiba, logo depois de deixar a carceragem da Polícia Federal.
Em Salvador, ele também agradeceu a solidariedade dos militantes. anunciou planos de casamento com a socióloga Rosângela Silva, e de se mudar para a Bahia. “O PT vai polarizar em 2022. São poucos outros partidos nacionais como o PT, por isso nos vamos sempre polarizar”, disse Lula, ao lado da presidente da sigla, Gleisi Hoffmann, do ex-candidato petista à Presidência em 2018, Fernando Haddad, do governador da Bahia, Rui Costa, e do senador Jaques Wagner.
“Todo ano têm que inventar um candidato [para disputar com o PT]. Agora tem o Caldeirão do Huck, o [governador de São Paulo, João] Doria. Não vão conseguir tirar o PT da disputa eleitoral desse país”, completou ao citar os principais adversários na próxima disputa presidencial. E criticou o ex-aliado Ciro Gomes (PDT), que foi ministro em seu governo, mas rompeu com o PT na eleição de 2018 e não apoiou Haddad no segundo turno. “Nós não vamos fazer o que o Ciro quer, nos encolher para ele crescer.”
Durante maior parte do discurso, Lula se dedicou a elevar a autoestima dos seguidores do partido, abalada desde a sua prisão por corrupção passiva e lavagem de dinheiro no caso do tríplex do Guarujá. “O PT é o maior partido de esquerda da América Latina”, disse. “Muita gente bota defeito no PT, e às vezes nós acatamos essas críticas. Mas vocês já viram pedirem para o Fernando Henrique Cardoso, para o Bolsonaro, fazer autocritica? Quer fazer uma crítica ao PT? Faça ao PT. Esse partido é encrenqueiro, não presta? É, mas esse é o meu partido”, disse, antes de ser ovacionado pela plateia. “Eu estava mais popular que o presidente eleito”, disse em determinado momento em relação à solidariedade que recebeu ao sair da cadeia. “Os erros que cometemos, as leis que nos puniram são nossas, nós que as fizemos”, continuou o ex-presidente após dizer que não cabe ao partido fazer uma autocrítica.
Lula também detalhou os 580 dias que passou na cadeia. Ele contou que ouvia reuniões do PT gravadas em pendrives, lia sobre a história do país, escravidão e revoltas nacionais, e ouvia discursos de pastores evangélicos na TV. “Tem que ensinar o PT a discusar igual a eles, que sabem falar com os pobres”, disse. “Eu saí da cadeia mais humano, mais certo das lutas que temos que fazer”, completou; “Eu preciso me conter, não posso ter ódio. Não quero me vingar de ninguém. Eles não vão conseguir me devolver 580 dias”, declarou o ex-presidente. O petista também explicou a decisão de não ter aceitado a progressão da pena, quando o preso cumpre um terço da pena e passa a ter direito ao regime semiaberto. No caso, Lula teria que usar uma tornozeleira eletrônica, o que não aceitou. “Os meus advogados foram os primeiros a saber, a minha casa não é cadeia, eu também não sou pombo correio.”
Em relação à Operação Lava Jato, Lula disse ter certeza de que a investigação “matou a Marisa [Silva, que morreu em fevereiro de 2017], ou antecipou a morte dela” e que é preciso desvendar a farsa armada pelo Ministério Público Federal, Polícia Federal e pelo ex-juiz Sergio Moro para incriminá-lo. “A Lava Jato está julgando o meu mandato. A primeira coisa que eles fazem é desacreditar tudo o que eu fiz. Eles querem fazer acreditar que a desgraça desse pais foi o PT que fez”, disse. “Na verdade, não era ódio do Lula, era ódio de vocês. Imagina pobre ir para Miami? Tudo isso incomodou. E ele pensaram: ‘precisamos tirar esses caras de lá e colocar logo na cadeia'”, continuou.
A respeito das eleições municipais, Lula voltou a reforçar sua expectativa de que o partido tenha candidatura própria em municípios com mais de 50 mil habitantes e, portanto, atendam a pré-requisito para a realização de segundo turno. “PT não nasceu para ser partido de apoio”, disse ele, ressaltando a histórica dificuldade do partido em fazer parcerias com outras siglas.
Lula falou sobre os planos de se casar com a namorada, a socióloga Rosângela da Silva, e de se mudar para a Bahia porque “na outro encarnação devo ter sido baiano”, disse – ele nasceu em Pernambuco. “Eu aprendo que um homem sem amor não vale muita coisa”, disse Lula ao se referir ao novo relacionamento.