Lula encenou constrangimento ao dar posse a ministros do Centrão
Desde o início de seu terceiro mandato, presidente faz concessões ao grupo, que aumenta de forma sucessiva seus espaços na máquina pública

Na última quarta-feira, 13, Lula empossou André Fufuca e Silvio Costa Filho nos ministérios do Esporte e de Portos e Aeroportos, formalizando a adesão das bancadas de deputados do PP e do Republicanos — ou pelo menos de parte delas — ao governo. Ao contrário da praxe em ocasiões desse tipo, a solenidade ocorreu a portas fechadas, sem as pompas típicas e de forma quase envergonhada, por decisão do presidente. Foi mais um jogo de cena de Lula.
Durante a campanha do ano passado, o petista atacou o Centrão e criticou o deputado Arthur Lira, comandante da Câmara, mas após vencer a disputa passou a negociar um acordo com o parlamentar e o grupo político dele, como forma de garantir o apoio da centro-direita, majoritária no Congresso, a projetos considerados prioritários. A relação entre as partes começou muito antes da posse dos novos ministros.
Líderes de partidos do Centrão mantiveram no governo Lula muitos dos cargos que receberam ainda na gestão de Jair Bolsonaro, como na Codevasf, no Banco do Nordeste e na Sudene. Eles também conseguiram manter o direito de indicar pelo menos metade das verbas herdadas do antigo orçamento secreto. Em breve, ganharão novos postos de destaque. Diretorias da Caixa, por exemplo, estão na mesa de negociação.
Lula só tem aversão ao Centrão no discurso de palanque. Pragmático, ele contou com o apoio do grupo também em seus dois primeiros mandatos presidenciais e sabe de sua importância para a chamada governabilidade. Mas, como seus aliados de esquerda reclamam da perda de espaços e cobram mais coerência entre a retórica e a prática, o presidente finge estar contrariado com as concessões que faz. A política também é teatro.