Lula atua para barrar manifestações sobre o golpe de 1964
Presidente chegou a dizer, no mês passado, que não pode ficar ‘remoendo sempre’ a história
Em meio ao desgaste dentro das Forças Armadas com as apurações sobre uma suposta tentativa de golpe após as eleições de 2022, o presidente Lula tenta evitar um novo flanco de problemas no próximo 31 de março, data que marcará os 60 anos do início da ditadura militar no Brasil.
A efeméride foi celebrada durante o governo de Jair Bolsonaro com divulgações de mensagens que saudavam um dos períodos mais sombrios da história brasileira – a última nota, assinada pelo então ministro da Defesa Walter Braga Netto, assinalava que o “movimento” foi um “marco histórico da evolução política brasileira”.
A Comissão Nacional da Verdade acusa o regime militar de ser responsável por ao menos 434 mortes e desaparecimentos, além de incontáveis casos de perseguição e tortura.
Nova postura
Agora, o Ministério da Defesa de Lula determinou aos quarteis um silêncio total sobre o dia – postura já adotada no ano passado. Por outro lado, há um movimento dentro do próprio governo para fazer manifestações atacando o regime.
No ano passado, o Ministério dos Direitos Humanos, chefiado por Silvio Almeida, lançou no 31 de março um documentário com a narrativa de sobreviventes do regime ditatorial, além de ter encabeçado uma série de eventos na “Semana do Nunca Mais – Memória Restaurada, Democracia Viva”.
A ideia seria repetir a dose neste ano, promovendo novos atos para rememorar o dia.
Lula foi acionado para tentar abafar qualquer grande evento sobre o assunto. O ministro da Defesa, José Múcio, levou o recado de que as Forças Armadas não iriam fazer nenhuma manifestação, voltando ao silêncio total adotado antes do governo de Jair Bolsonaro. E pediu reciprocidade do outro lado, alegando que os fardados têm, de uma vez por todas, de sair da cena política.
O presidente, contam interlocutores, teria garantido que não haveria nenhuma ação federal relativa aos 60 anos do golpe. Não à toa, no fim de fevereiro, o petista afirmou em entrevista à RedeTV! que o regime é “história”, que os generais que estão hoje no poder “eram crianças naquele momento” e que não vai ficar “remoendo sempre” o assunto.
Procurado, o Ministério dos Direitos Humanos não respondeu se promoverá algum evento ou campanha relativos ao 31 de março.