Lindôra: Alexandre de Moraes ‘pescador’ e dobradinha com Bolsonaros
De perfil conservador, vice-procuradora-geral subiu o tom contra o ministro Alexandre de Moraes, a quem acusa de arbitrariedades

Dona de um conhecido perfil conservador antes da onda bolsonarista que varreu o país ter saído vitoriosa das urnas pela primeira vez, a vice-procuradora-geral da República Lindôra Araújo é apontada, no universo de mais de 70 subprocuradores-gerais, como a mais identificada com o modo de pensar do ex-presidente. Nos últimos meses, partiram dela diversas decisões favoráveis ao capitão e ao governo, como eximir o então mandatário de responsabilidade por ataques às urnas eletrônicas e à credibilidade de máscaras e vacinas contra a Covid-19.
Em um parecer sigiloso encaminhado ao Supremo Tribunal Federal (STF), como representante do Ministério Público Federal Lindôra agora acusa o ministro do STF Alexandre de Moraes de usar uma investigação específica sobre fraude em cartões de vacinação de Jair Bolsonaro e da filha dele para tentar “pescar” indiscriminadamente qualquer evidência que possa um dia comprometer o ex-chefe do Executivo.
A ofensiva contra Alexandre de Moraes, detalhada na reportagem de capa da edição de VEJA que chega às bancas e plataformas digitais, replica discursos públicos recentes do senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) e do deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP), que acusam o magistrado de usar a apuração sobre burlas a cartões de vacinação como pretexto para decretar a apreensão do celular do ex-presidente e do aparelho móvel do ex-ajudante de ordens Mauro Cid.
No despacho enviado ao STF, Lindôra afirma que até o momento não haveria necessidade de diligências mais efetivas sobre os cartões de vacina e diz que, ao incorporar elementos como a descoberta de um roteiro de golpe de Estado, o processo pode descambar para a pesca probatória. Em seguida, ela emenda com uma provocação: “à semelhança de outras investigações em curso no âmbito do Supremo Tribunal Federal”.
A prática ilegal da prospecção investigatória é uma “pescaria” especulativa e aleatória de indícios que, no futuro, poderiam comprometer um alvo específico. A menção à chamada fishing expedition não é em vão. No último dia 21, o discurso de supostos desmandos de Alexandre contra alvos bolsonaristas foi explorado pelo senador Flávio Bolsonaro durante a sabatina de Cristiano Zanin ao cargo de ministro do STF. “Sabe como é que é? Quando falam que vão buscar o cartão de vacinação na casa de alguém para pegar o telefone celular? É mais ou menos isso”, disse o Zero Um.
Zanin não caiu na provocação e se saiu com uma resposta protocolar. Uma semana depois, em sessão da CPI do 8 de janeiro, Eduardo Bolsonaro afirmou que a ordem de Alexandre de Moraes se assemelha a “essa coisa de você jogar a rede, quebra o sigilo de todo mundo e depois você começa a pegar o que é que te interessa para formar a sua narrativa”.