Justiça do DF rejeita novo pedido de prisão contra Geddel
Desembargador do TRF1 determinou na quarta-feira que o ex-ministro do governo Michel Temer (PMDB) cumprisse prisão domiciliar
O juiz Vallisney de Souza Oliveira, da 10ª Vara da Justiça do Distrito Federal, rejeitou nesta quinta-feira o novo pedido de prisão feito pelo Ministério Público Federal (MPF) contra o ex-ministro Geddel Vieira Lima (PMDB). O magistrado declarou que decretar uma nova prisão preventiva desrespeitaria a decisão do Tribunal Regional Federal (TRF) da 1ª Região de colocar o peemedebista em prisão domiciliar.
O desembargador federal Ney Bello emitiu na quarta a autorização para Geddel deixar o Complexo Penitenciário da Papuda, em Brasília. Nesta quinta, Bello determinou que o ex-ministro do governo Michel Temer (PMDB) fosse para casa sem usar tornozeleira eletrônica. Como não há equipamentos de rastreamento disponíveis em Brasília, o desembargador determinou que a tornozeleira seja instalada assim que Geddel chegar à casa em que cumprirá prisão domiciliar em Salvador.
Vallisney determinou, no entanto, que sejam feitas novas diligências para apurar a procedência das novas provas colhidas pelo MPF. Segundo os investigadores, há evidências de que Geddel, ao demonstrar influência perante o Judiciário, também teria praticado o crime de exploração de prestígio — que prevê pena de um a cinco anos de prisão.
O juiz autorizou que Geddel e o doleiro Lúcio Bolonha Funaro sejam ouvidos novamente para tratar das provas levantadas pelo MPF a partir do depoimento de Raquel Pitta, mulher de Funaro. O ex-ministro foi preso no último dia 3, sob as acusações de pressionar Raquel para tentar impedir a delação de Funaro.
Mala de dinheiro
Conforme antecipou a VEJA nesta quinta, o MPF apresentou em seu pedido de prisão um novo laudo produzido por peritos da Polícia Federal (PF). O documento revela que, num período de dezenove dias, entre 13 de maio e 10 de junho de 2017, Geddel realizou dezessete contatos telefônicos com Raquel Pitta, mulher de Lúcio Funaro, apontado como o operador de parlamentares do PMDB da Câmara.
“Assim, em média, no período examinado, Geddel Vieira Lima telefonou a Raquel Pitta quase uma vez por dia. Tal constatação indica, de forma segura, a tentativa e, em certas ocasiões, o efetivo contato entre o investigado Geddel Vieira Lima e a esposa do também investigado (e réu) Lúcio Bolonha Funaro. Indica, outrossim, não uma pressão esporádica exercida pelo investigado Geddel Vieira Lima sobre a esposa do também investigado Lúcio Bolonha Funaro, mas sim uma atividade de monitoramento diário sobre o humor e a intenção de colaboração deste último”, constata o MPF.
Em depoimento, Raquel Pitta afirmou que não tinha nenhuma intimidade com o ex-ministro, nem sequer tinha o seu contato telefônico — e que passou a receber ligações de Geddel após a prisão de Funaro. De acordo com os investigadores, o ex-ministro tinha receio de ser delatado pelo doleiro. Em depoimento à Polícia Federal, Funaro revelou que “fez várias viagens em seu avião ou em voos fretados, para entregar malas de dinheiro para Geddel Vieira Lima” e que essas entregas eram feitas numa sala reservada do hangar Aerostar, localizada no aeroporto de Salvador, na Bahia, “diretamente nas mãos de Geddel”.
“Permite-se concluir que Geddel Vieira Lima e a organização criminosa da qual faz parte têm interesse explícito e evidente no silêncio de Lúcio Bolonha Funaro, silêncio esse que, caso mantido, dificultaria a responsabilização criminal de Geddel e seu grupo”, conclui o MPF.