Joesley e Wesley: delação poderia ‘melar’ governo Temer
Em mensagens de áudio, donos da JBS discutem as chances de acordo inviabilizar a “turma que está aí”
Mensagens de WhatsApp trocadas entre Joesley e Wesley Batista mostram que eles tinham a exata dimensão do impacto que a delação causaria no mundo político. Em áudios trocados em 5 de abril, exatamente um mês antes da assinatura do acordo com a Procuradoria-Geral da República, a dupla troca impressões sobre o que seria o timing ideal da equipe de Rodrigo Janot. Àquela altura, estava em curso o julgamento da chapa Dilma-Temer pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Wesley diz que as revelações da delação poderiam ser usadas pela Procuradoria “para melar, de uma vez, a viabilidade da turma que está aí”. Para a Polícia Federal, ele se referia ao presidente Michel Temer (PMDB) e seus aliados. “Essa é uma arma que eles têm e estão pensando (…) que está na hora de usar”, responde Joesley.
Eis as mensagens:
Wesley – A impressão que eu estou é que, com esse negócio aí da chapa, que vão ouvir mais gente. Com esse negócio das reformas, que estão no “pipeline ”, não sei não. Estou achando eu esses caras estão com vontade de pôr isso, pôr isso na discussão logo, a questão nossa, para melar, de uma vez, a viabilidade da turma que está aí. Não sei não, estou com a impressão de que a velocidade está ligada a não dar tempo de deixar a turma que está aí conquistar avanços, tanto do lado do julgamento lá, que começou anteontem, e como do lado de reformas, essas coisas. Sei não, pode ser que não, mas estou com impressão de que pode ser isso.
Joesley – Eu também tenho exatamente essa impressão. Essa é uma arma que eles têm e estão pensando que está precisando usar, que está na hora de usar.
Para a Polícia Federal, as afirmações dos empresários deixam evidente que eles tinham plena consciência do estrago que a delação causaria – e, por tabela, de suas consequências no mercado financeiro. Escreveram os policiais em um dos relatórios da investigação: “Esse trecho mostra como Wesley entendia que as informações encaminhadas à Procuradoria teriam capacidade de ‘derrubar’ o presidente, principalmente no momento em que a chapa Dilma-Temer estava sendo julgada no TSE.”