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João Roma: “Estou transformando um Fusca num bugue”

Ministro da Cidadania fala a VEJA sobre programa de distribuição de renda que vai substituir o Bolsa Família, as eleições e o Centrão

Por Laryssa Borges Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 6 ago 2021, 10h12 - Publicado em 6 ago 2021, 06h00

O presidente já chamou o Bolsa Família de “um projeto para tirar dinheiro de quem produz e dá-lo a quem se acomoda para que use seu título de eleitor e mantenha quem está no poder”. O que mudou? Antes o Ministério da Cidadania era um repositório, um ajuntamento de muitas coisas longe das vitrines liberais do Paulo Guedes e não era a menina dos olhos do governo. Havia o discurso — e, em alguns casos, realmente era fato — de que programas sociais eram misturados com o MST, com ONGs vinculadas ao PT. A pandemia, porém, multiplicou os problemas sociais, mostrou o amplo leque de pessoas em situação de vulnerabilidade e nos deu a dimensão de que o Bolsa Família, embora importante, não é suficiente.

Por que não? O Bolsa Família é meritório, uma conquista, mas falta uma abordagem para a emancipação do cidadão que recebe o benefício. É como se o programa fosse uma compensação do Estado para pessoas em situação de vulnerabilidade, mas sem nenhum agente transformador, um gatilho para o cidadão sair daquela situação. Criou-se um sentimento apartador de que o beneficiário do Bolsa Família só quer receber o benefício e não quer trabalhar, e isso não é verdade. Queremos não apenas dar uma compensação à população vulnerável, mas também reu­nir portas de saída para ela ascender. Sou um liberal com olho no social.

O que o governo pretende mudar? No início, a ideia era pagar, em média, 250 reais por família, com fonte orçamentária definida e sem furar o teto de gastos, mas as discussões são dinâmicas e vão mudando. Queremos reunir portas de saída, trilhas, para o beneficiário ascender na vida, e não apenas ficar recebendo uma compensação em um momento difícil da vida. As trilhas que estamos pensando incluem o governo ampliar a compra da produção agrícola de famílias, conceder crédito consignado à população em situação de vulnerabilidade, criar mecanismos para garantir o benefício até os 21 anos para aqueles que frequentam a escola. Dependendo da combinação de situações, a pessoa pode chegar a receber até 1 000 reais mensais, quatro vezes o valor do tíquete médio do auxílio emergencial.

O presidente Bolsonaro disse que o menor benefício será de 400 reais. A reformulação dos programas sociais concentrando todos eles em apenas um não começa pelo valor, apesar de no meio político e no meio governamental todo mundo só querer saber disso. Onde eu chego, a única pergunta é: “De quanto vai ser o benefício?”. Uma vez brinquei: estou transformando um Fusca num bugue. Quanto vou colocar de gasolina no tanque desse bugue? Quando chegar no Posto Ipiranga, vou saber.

Há quem diga no governo que esse será o maior trunfo para a reeleição de Bolsonaro. O programa social é importante, mas não é apenas isso que vai reeleger o presidente. É importante reaquecer a economia. Área social e área econômica são duas faces da mesma moeda. Repare que não há reação de mercado, bolsa, dólar, quando o assunto é auxílio emergencial, porque esses valores retroalimentam a economia.

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O que o presidente quer dizer quando afirma que não haverá eleição se não houver voto impresso? O presidente é extremamente espontâneo e enxerga algumas coisas com uma visão diferente da dos políticos tradicionais, como eu ou o Ciro Nogueira. Ele não diz nada para fazer jogo de cena nem para criar cortina de fumaça. Quando ele falou sobre voto impresso na última reunião ministerial, eu percebi quanto isso é importante para ele. Ele quer apenas que se criem condições para realizar uma conferência.

O senhor chegou ao ministério pelas mãos do Centrão? Há algo de pejorativo na expressão Centrão. Tenho histórico na política, integrei o PFL Jovem, trabalhei no governo FHC. Fui indicado pelo Republicanos, que com novos filiados deixou um pouco a marca de ser ligado à Igreja Universal. Eu mesmo sou católico. Não gosto dessas caracterizações. O mesmo vale quando se fala em “nova” ou “velha” política. Isso não existe.

Pretende disputar as eleições do ano que vem? Não dá para ignorar os números das pesquisas. Elas são um retrato do momento, mas já vi em quatro eleições passadas o líder das pesquisas ser derrotado. As pessoas na Bahia não saem de casa para votar em um candidato a presidente e em um governador da chapa adversária. Na hora, é uma avalanche de votos e o cenário que as pesquisas mostram pode mudar. Nossa prioridade no momento é trabalhar pelo novo programa social e para desenvolver trilhas que permitam à população em situação de vulnerabilidade melhorar de vida.

Publicado em VEJA de 11 de agosto de 2021, edição nº 2750

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