Irmão de senador denuncia corrupção e acusados querem cassá-lo
Prefeito de Divinópolis revelou que vereadores vendiam lei por 20 mil reais, entregou áudios à Justiça e agora está ameaçado de impeachment pelos envolvidos
Um escândalo de corrupção no interior de Minas Gerais desaguou no Senado Federal. O prefeito de Divinópolis (MG), Gleidson Azevedo (PSC), irmão gêmeo do senador Cleitinho (Republicanos-MG), denunciou tempos atrás um esquema de venda de projetos de lei na Câmara Municipal. O golpe foi comprovado e a Justiça afastou os vereadores envolvidos. Porém, a exemplo do que tem acontecido muito no plano nacional, houve uma inversão de papéis. Agora são os vereadores acusados de envolvimento na tramoia que querem o impeachment do prefeito. Na semana passada, Cleitinho foi ao plenário do Senado defender o irmão.
A investigação revelou que vereadores vendiam a empresários de Divinópolis projetos de lei que alteravam o zoneamento urbano da cidade, transformando, por exemplo, um imóvel residencial em comercial. O prefeito Gleidson entregou ao Ministério Público gravações mostrando a negociata. O juiz de Divinópolis afastou o presidente da Câmara Municipal, Eduardo Alexandre de Carvalho (PSDB), e o vereador Rodrigo Vasconcelos de Almeida Kaboja (PSD).
As gravações mostram empresários admitindo que pagaram 20 000 reais aos vereadores “porque senão eles não votava (sic) o treco”. O “treco” eram os projetos de lei. “Os vereadores agora pedem a cassação do meu irmão por pura perseguição”, diz o senador Cleitinho.
Eduardo Alexandre de Carvalho disse a VEJA que não participou do esquema. Ele afirmou que seu nome foi envolvido porque, como presidente da Câmara, tinha que sancionar os projetos. Kaboja não foi localizado.
Veja abaixo o diálogo entre dois empresários da cidade investigados no esquema de corrupção:
Juquinha: Hum. Pois é. As custas que nós tivemos lá, o Kaboja… o que que o Kaboja fez? O Kaboja tem que, ele tem que passar, ele tem que passar, ele tem que passar, ele tem que passar… Ele me prometeu, no telefone, que ia passar essa área toda pra, pra comercial.
Hamilton: Passou, uai
Juquinha: A área toda
Hamilton: Passou toda, toda a área
Juquinha: Hã?
Hamilton: Então tá, o cara foi lá e pediu aquele incentivo que o senhor já sabe o valor. (…)
Hamilton: É, tem outra lei também que foi votada pelo Print Júnior que beneficia igualmente a região aqui, mas é outra lei. Vou te mandar as duas
Juquinha: Uhum. Essa primeira que cê vai mandar pra mim é a que cê deu os dez mil pro Kaboja lá. Num foi isso?
Hamilton: Vinte
Juquinha: É vinte?
Hamilton: É
Juquinha: É, é. Tem, cê deu dez e tem que dar mais dez, num é isso então?
Hamilton: Não, eu já dei já
Juquinha: Pois é, pois é. Mas ocê deu os outros dez também?
Hamilton: Já, uai. Porque senão eles não votava o treco, uai
Juquinha: Hum, é. Cê já acertou tudo com ele?
Hamilton: Já
Juquinha: Hum, hum. Os vinte mil?
Hamilton: Sim