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Intrigas e traições esquentam o cenário que Lula vai encontrar no Rio

Atuando nos bastidores, Rodrigo Maia se mexe para emplacar o pai como vice, faz a corte ao PT, irrita aliados e embola o meio de campo na eleição

Por Caio Sartori Atualizado em 2 jul 2022, 13h46 - Publicado em 2 jul 2022, 08h00

As peças do tabuleiro eleitoral do Rio de Janeiro, onde Lula desembarca no próximo dia 6, pareciam definidas, com um cenário de alianças pouco volátil. Reflexo da polarização nacional na política, os candidatos a governador Marcelo Freixo (PSB), colado a Lula, e o atual mandatário, Cláudio Castro (PL), de mãos dadas com Jair Bolsonaro, caminhavam para uma certa garantia de estabilidade nas respectivas campanhas. Em meio a isso, o prefeito Eduardo Paes (PSD) e seu grupo político padeciam de um isolamento inesperado e aparentemente difícil de sacudir. Eis que, em junho, o movimento — com contornos de traição — de um aliado de Paes despertou cobiças, acirrou rixas e embaralhou o jogo. O atiçador da fogueira eleitoral no Rio foi o ex-presidente da Câmara dos Deputados Rodrigo Maia, poderoso da República que saiu do cargo em baixa e hoje amarra conchavos de bastidor enquanto se reparte entre dois empregos: é secretário estadual em São Paulo e presidente do PSDB fluminense.

Nas últimas semanas, Maia intensificou articulações para colocar o pai, o ex-prefeito Cesar Maia, aliado e padrinho político de Paes, como vice na chapa de Freixo, em uma configuração parecida com a de Lula e Geraldo Alckmin — que não é mais tucano, mas não perdeu totalmente a plumagem. Em paralelo, o deputado chegou a alfinetar publicamente que a insistência de Paes em apoiar um candidato próprio, o advogado Felipe Santa Cruz, ajudaria o bolsonarista Castro a se eleger. Isolado e irritado, Paes decidiu ir a Lula declarar que fará campanha para ele e lhe ofereceu espaço no palanque de seu protegido Santa Cruz, que até agora vai mal nas pesquisas — mas palanque é palanque. Para Lula, apoio vindo de uma figura de tamanha envergadura local não é algo desprezível. E Santa Cruz, na esperança de amealhar votos, celebra a aproximação sem meias-palavras. “Estou pronto para marchar com Lula, sempre votei nele. Sou filho, neto e sobrinho de fundadores do PT”, afirma a VEJA.

A movimentação de Maia agitou as labaredas nos bastidores de uma eleição marcada por intrigas. Manobrar para pôr Cesar Maia como vice de Freixo pegou mal no grupo de Paes, claro. Mas a mágoa maior é com a sugestão, expressada pelo deputado em uma conferência em Oxford, na Inglaterra, de que insistir com Santa Cruz acaba por contribuir para a candidatura Castro. Maia não disse, mas ficou subentendido que reeleger o atual governador poderia interessar a Paes, favorecendo seu projeto de chegar ao Palácio Guanabara em 2026.

BASTIDOR - Rodrigo Maia: tentativa de reedição no Rio do acordo Lula-Alckmin -
BASTIDOR - Rodrigo Maia: tentativa de reedição no Rio do acordo Lula-Alckmin – (Marcelo Camargo/Agência Brasil)

A sinalização também escancara a obsessão de Maia por se aproximar de Lula, manifestada por ele a gente próxima do petista, como a presidente do PT, Gleisi Hoffmann. Políticos graúdos relatam conversas de pé de ouvido em que o ex-deputado reforçou a necessidade de união em torno do líder petista. Comenta-se que o sonho dourado de Rodrigo Maia é ser uma espécie de elo entre Lula e o mercado financeiro, caso ele ganhe a eleição presidencial — e, nessa empreitada, alguma posição ministerial ou nas estatais do setor viria a calhar. Cesar Maia, por sua vez, desconversa sobre a indicação a vice, mas não regateia apreço a Freixo. “Independentemente de meu nome na chapa, avalio a candidatura dele de forma muito positiva”, diz.

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Embalado pelo bom desempenho nas pesquisas e pelo desejo de impulsionar quadros que renovem a esquerda, Lula abraçou de forma intransigente a candidatura de Freixo depois que ele trocou seu partido desde sempre, o PSOL, pelo PSB, com quem o PT firmou uma ainda oscilante aliança nacional. No outro prato da balança estadual, o petista André Ceciliano é o candidato da aliança ao Senado, um trato entre os dois partidos desde os primórdios. Também aí, porém, a rede de intrigas tece seus nós. Parte do diretório petista fluminense acha que Freixo agrega pouco para Lula no estado e desconfia da lealdade do PSB — temor intensificado pela insistência do deputado Alessandro Molon, do partido, em se lançar para a mesma vaga do Senado, trombando com Ceciliano, que está atrás nas pesquisas.

Como se não bastasse, o PSB reluta em considerar Freixo um quadro genuíno do partido, dado seu passado e sua atual proximidade com o PT. “O PSB tem de obedecer ao acordo nacional, não pode se limitar ao projeto de uma pessoa só”, dispara o presidente do PT-RJ, João Mauricio de Freitas, sobre Molon. Soltos no meio de campo, Paes e seus aliados devem intensificar as conversas com Lula. Têm grandes chances de sucesso, dado o pragmatismo do petista e de seu partido no esforço para alcançar sua prioridade cristalina neste ano: voltar ao Palácio do Planalto. Se isso implicar pisar em calos, os incomodados que protejam os dedos dos pés.

Publicado em VEJA de 6 de julho de 2022, edição nº 2796

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