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Guerra: “Não dividiremos o comando do PSDB em cotas”

Presidente tucano rejeita dividir executiva entre adeptos de Serra e de Aécio

Por Carolina Freitas
23 Maio 2011, 13h52

“Posso garantir que Fernando Henrique será muito mais ouvido. O PSDB precisa dar a ele o papel de propor, inspirar e sustentar o nosso discurso”, Sérgio Guerra

O pernambucano Sérgio Guerra ocupa a presidência do PSDB há quatro anos. Deve ser reeleito para o cargo no próximo sábado, por meio de um acordo de lideranças, durante a convenção nacional da legenda, em Brasília. Até agora, o deputado federal foi o único a apresentar o nome para a vaga. Tem pela frente a missão de vencer a rixa entre o senador Aécio Neves e o ex-governador José Serra e construir uma executiva unitária. Em entrevista ao site de VEJA, Sérgio Guerra afirma: “Nós não vamos dividir a executiva do PSDB em cotas. Não vamos dividir o partido entre os que são de Serra e os que não são. O PSDB não vai ser comitê eleitoral de ninguém”. O cacique tucano admite erros nas eleições de 2010, fala sobre o papel que o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso terá no partido e conta o que espera do governo de Dilma Rousseff e como recebeu as denúncias do repentino enriquecimento do ministro Antonio Palocci. Abaixo, os principais trechos da entrevista: Qual foi a maior conquista do senhor nestes quatro anos à frente do PSDB? Levar o partido aos estados e procurar ouvir todo mundo. A evolução do PSDB foi menos geográfica e mais ideológica, no sentido de desenvolver uma marca, um padrão de discurso e de atuação. Temos de ter mais unidade, mais solidariedade e maior capacidade de desenvolver teses que cheguem ao povo. Qual é a marca do PSDB? A gestão de qualidade. Não à toa continuamos a governar São Paulo e Alagoas e recuperamos Paraná, Goiás, Tocantins e Pará nas eleições de 2010. É a marca da competência, da seriedade. Não transformamos os estados em aparelhos, uma marca do PT. Qual foi o seu melhor momento? O evento de lançamento da candidatura de José Serra para presidente da República, com o partido unido, o DEM, o PPS e lideranças do PMDB.

José Serra fala ao celular no intervalo do debate online FOLHA/UOL
José Serra fala ao celular no intervalo do debate online FOLHA/UOL (VEJA)

A candidatura de Serra perdeu fôlego ao logo da campanha. Por quê? A candidatura de Serra teve um esforço desproporcional dele. Nunca vi ninguém trabalhar daquele jeito. A energia da campanha dele favoreceu nossa vitória no Brasil inteiro. Mas não elegeu Serra presidente. Ele nos deu quase metade dos votos brasileiros. Mas não venceu a eleição. Por quê? Nós cometemos erros, mas esses erros têm de nos ensinar para as próximas eleições. Que erros? Prefiro não comentá-los. Melhor cuidar de corrigi-los. Ficar explicitando dificuldades não ajuda partido nenhum. Os tucanos têm consciência desses erros? Sim, dentro do partido todos temos consciência de erros e de acertos. O saldo foi positivo. Que espaço Serra terá dentro do partido? Nós não vamos dividir a executiva do PSDB em cotas. Não vamos dividir o partido entre os que são de Serra e os que não são, entre os que são de Marconi Perillo ou de Beto Richa, os que são do norte ou do sul. Não tem essa história de pedaço de um e pedaço de outro. Mas as divisões internas existem. As divisões podem até existir, mas não na executiva. A executiva precisa dar espaço para todos os militantes e quadros que queiram contribuir. Certamente pessoas ligadas a Serra estarão conosco. Quando fui indicado presidente da outra vez a alegação era de que eu era uma pessoa próxima de Serra. Sou próximo dele e pretendo continuar sendo, mas sou é do partido. O PSDB não vai ser comitê eleitoral de ninguém. Geraldo Alckmin sugeriu o nome de Serra para a presidência do Instituto Teotônio Vilela. Não vi doutor Geraldo falar nisso. Até agora a única proposição é dos senadores para que Tasso Jereissati ocupe a presidência do instituto. Mas qualquer sugestão de Geraldo ou de Serra é prioritária. Comigo Serra não falou sobre cargos. Até agora só o senhor se apresentou para ocupar o cargo de presidente. Acredita que isso se mantenha até sábado? Tenho tranquilidade completa. Semana passada fui a uma reunião de trinta deputados. Todos disseram que querem ver o partido trabalhar e me autorizaram a fazer isso em nome deles, com absoluta transparência e clareza. Não são apenas os deputados, o partido todo apoia. Então o senhor já se considera reeleito? Não tenho a menor ideia. O que posso dizer é que sou candidato. O secretário-geral, Rodrigo de Castro, também deve ser reeleito? Se o partido aprova, não há por que mexer. Tem espaço para todo mundo que queira trabalhar.

O ex-presidente e sociólogo Fernando Henrique Cardoso
O ex-presidente e sociólogo Fernando Henrique Cardoso (VEJA)
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Qual a opinião do senhor sobre a criação de um conselho político no PSDB? Acho ótimo. O conselho seria um espaço para discutir as divergências e orientar o partido em questões convergentes. O PSDB precisa de orientação. O presidente do conselho seria Fernando Henrique Cardoso. Comporiam o grupo o presidente do partido, os ex-candidatos à Presidência da República Geraldo Alckmin e José Serra, um representante dos governadores e um dos parlamentares. Vou defender essa ideia na convenção de sábado. Fernando Henrique voltaria a ter um papel central no debate político. Ele nunca se afastou desse debate, mas posso garantir que ele será muito mais ouvido. O PSDB precisa dar a Fernando Henrique o papel de propor, inspirar e sustentar o nosso discurso. Em artigo recente, FHC defendeu a classe média como público alvo do PSDB. O senhor concorda? Nosso alvo tem de ser aquela parcela da população menos dependente do governo, menos exposta aos programas sociais e a ação dos sindicatos. Em municípios de Pernambuco com produção de tecidos, por exemplo, Serra teve uma votação muito maior na última eleição do que em cidades onde a base da renda dos moradores era a Bolsa Família. Onde há independência, há mais votos no PSDB. Como o partido se organiza para levar essa mensagem nas eleições municipais? Vamos dar prioridade às cidades com mais de 200.000 habitantes e lançar candidatos nas capitais. O presidente do DEM, José Agripino, propôs uma aliança compulsória com o PSDB em todo o país. O que o senhor acha? Vamos juntar PSDB e DEM no que for possível juntar, para dar resultados positivos para os dois. E qual o plano em São Paulo? Ter candidato do PSDB e ganhar a eleição. O nome do candidato quem decide é o doutor Geraldo. Serra pode disputar a prefeitura? Isso é assunto do doutor Geraldo.

Gilberto Kassab
Gilberto Kassab (VEJA)

Como a criação do PSD, do prefeito Gilberto Kassab, impacta nas próximas eleições? O PSD é uma soma de interesses contrariados, uma soma de descontentes, sem projeto. Na prática, é uma iniciativa contra a democracia, pois serve de janela para a infidelidade partidária, visa a desfazer partidos, não tem conteúdo programático e só desestrutura ainda mais o padrão partidário brasileiro. Enfraquece a oposição? Não. Tirou mais gente de partidos da base do governo do que da oposição. Chateia ver Kassab, um aliado que foi tão ajudado por Serra, tomar essa atitude? Tenho certeza que Serra não tem nada a ver com isso. Ele fez o possível para Kassab não ir embora. A atitude de Kassab não foi correta nem com Serra, nem com o PSDB, nem com o DEM. O DEM ficou ainda mais enfraquecido com a criação do PSD. Quais as chances de uma fusão com o PSDB? Discutir fusão agora é inoportuno. Os partidos antes devem se consolidar. Se marcarem data para deixar de existir, não se consolidarão. A fusão será vista lá na frente, depois das eleições municipais, já no rumo da eleição presidencial. Na semana passada veio à tona o repentino enriquecimento do ministro da Casa Civil, Antonio Palocci. A oposição reagiu de forma tímida. Por quê? A reação tem de ser responsável. Palocci não é um qualquer: foi ministro da Fazenda e é o principal ministro do governo Dilma. Por isso temos que ter prudência em relação a ele. Num primeiro momento esperamos que ele se defendesse. Negar-se a explicar a origem do dinheiro é inaceitável. Ainda mais inaceitável foi a nota divulgada pela Casa Civil, comparando ele a ex-ministros. Isso não é desculpa de gente séria. É atitude recorrente de mensaleiros, não do Palocci. O que distingue Palocci dos mensaleiros? Eu espero que ele esclareça tudo para que não se confunda com os outros. Mas ele caiu do ministério da Fazenda justo por estar envolvido em um esquema com lobistas e ter quebrado o sigilo do caseiro Francenildo. Bom, sobre isso a Justiça já falou. Uma eventual queda dele agora afetaria a estabilidade do Brasil? Qualquer coisa que aconteça com Palocci reflete no ambiente nacional e no funcionamento do governo. Não estamos torcendo pelo quanto pior melhor. O Brasil ficaria pior sem Palocci? Aí já não é problema meu. É problema do governo. O governo vai muito mal. Aliás, nem começou. Dilma não disse a que veio. Não tem ação, não tem resultado, não combate a inflação. Estamos vivendo de gestos tímidos. O que o senhor espera até o final do governo Dilma? Espero que ela faça um governo democrático, respeitoso e o entregue ao final a um tucano que vai governar bem o Brasil.

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