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Gregório Duvivier sugeriu a hacker nomes da alta cúpula da Globo, diz PF

Em troca de mensagens, humorista diz a invasor que informação sobre a direção da emissora 'poderia ser bem forte'

Por Thiago Bronzatto Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO , Laryssa Borges Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 20 dez 2019, 12h53 - Publicado em 19 dez 2019, 19h45

O humorista Gregório Duvivier protagonizou conversas amistosas com o hacker Walter Delgatti Neto, responsável por roubar mensagens privadas de autoridades da República, e sugeriu nomes de figurões da Rede Globo como possíveis alvos das interceptações, segundo relatório da Polícia Federal encaminhado à Justiça Federal.

O primeiro contato entre Delgatti e Duvivier, diz a PF, ocorreu no dia 14 de julho de 2019. No computador do hacker foi encontrado um atalho chamado “GREGORIO DUVIVIER.Ink” com diálogos do humorista obtidos dentro do aplicativo Telegram. O teor das conversas foi encaminhado pelo hacker a Duvivier, que respondeu com ironia. “Feliz de conhecer o hacker”, disse no fim da manhã daquele dia 14 de julho.

Na troca de mensagens entre Delgatti e Duvivier, o humorista recebe a informação de que o teor das mensagens de autoridades hackeadas foi passado ao jornalista Glenn Greenwald por “livre e espontânea vontade” e, na sequência, estimula o hacker, afirmando que ele iria “mudar o destino do país” ao revelar as conversas impróprias de procuradores da Lava-Jato e do então juiz e atual ministro da Justiça Sergio Moro.

Na sequência, Duvivier pergunta se haveria algo de comprometedor contra a família do presidente Jair Bolsonaro – ou, em suas palavras, sobre a “família bolso”. Diante de uma resposta negativa, o comediante instiga o hacker sobre outras potenciais vítimas. “Tem algo da Globo?”, questiona Duvivier.

Na conversa, Walter Delgatti Neto diz que “tem bastante” informação envolvendo a emissora de televisão e afirma que “pega 50 por dia e acaba não lendo”. Em seguida, relata uma espécie de frustração. Diz que havia “pegado” o aplicativo do apresentador do Jornal Nacional William Bonner, mas não teve acesso a nenhum conteúdo, porque tudo havia sido apagado. Deletar mensagens era uma prática que “muita gente” utilizava, lamentou o hacker.

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Duvivier continua indicando novos alvos globais como o diretor-geral de Jornalismo Ali Kamel e o diretor-geral da emissora Carlos Henrique Schroder e diz que informação sobre a cúpula da emissora “poderia ser bem forte”. O humorista ainda sugere que o governador do Rio de Janeiro Wilson Witzel e o juiz federal Marcelo Bretas, responsável pela Lava-Jato no estado, “poderiam ser alvos”.

De acordo com a Polícia Federal, não foram encontrados indícios de que Kamel, Schroder ou Witzel tenham sido vítimas de ações dos hackers. Marcelo Bretas e William Bonner, no entanto, acabaram caindo na rede de ataques, apesar de a invasão nos aparelhos celulares deles terem ocorrido em data anterior à sugestão de Duvivier. Na conclusão do inquérito, não há imputação de crimes a Gregório Duvivier.

Em depoimento aos investigadores da Operação Spoofing, o ator e humorista negou que tenha solicitado ou sugerido a invasão das contas de Telegram da cúpula da Rede Globo ou de autoridades do Rio de Janeiro. Segundo ele, seus questionamentos ao hacker eram motivados por “curiosidade” em saber se o invasor tinha tido acesso às contas de uma série de personalidades do cenário nacional.

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Duvivier declarou que, durante a conversa com Delgatti, sugeriu diversos nomes de forma aleatória e disse que em nenhum momento recebeu mensagens ou qualquer informação das pessoas citadas por ele. Conforme a versão apresentada por ele à Polícia Federal, ele não tinha nenhum interesse em obter o conteúdo das mensagens de contas invadidas e em nenhum momento o hacker disse ter invadido a conta de Telegram de pessoas como Bonner ou Ali Kamel.

Gregório Duvivier apresentou à PF a cópia de um pendrive com todas as mensagens trocadas entre ele e o hacker Walter Delgatti Neto. Nelas, uma revelação sobre o comediante: a de que ele teria recebido orientações do jornalista Gleen Greenwald para que não encomendasse o nome de nenhuma autoridade para ser hackeada. Às 13:36:41, Duvivier é explícito sobre a orientação que recebeu: “nao tava pedindo pra investigar ninguem ta [sic]?”. Menos de um minuto depois, o ator faz nova ressalva: “glenn me explicou que nao posso nem falar nomes, haha”.

Procurado, o advogado Augusto de Arruda Botelho, que defende Duvivier, afirmou que o humorista disponibilizou espontaneamente para a Polícia Federal toda a troca de mensagens com o hacker e que “explicou detalhadamente em seu depoimento, no intuito de colaborar com as investigações, que aleatoriamente mencionou uma série de nomes, em uma conversa informal, sem qualquer intenção ou interesse de que tais nomes de fato fossem interceptados ou muito menos investigados”.

A comunicação da Globo divulgou uma nota sobre o caso: “Os diálogos revelados no inquérito são claros. O público saberá julgar a atitude de Gregório Duvivier e suas explicações posteriores. Ali Kamel e Carlos Henrique Schroder, citados, preferem guardar para si suas opiniões a respeito. Apenas afirmam que se a quebra de sua privacidade tivesse sido levada adiante nada revelaria de desabonador. E nenhum contato com participantes da Operação Lava-Jato.”

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