Governo Lula temeu ataque do PT após o resultado do segundo turno
Ministros ficaram apreensivos com a possibilidade de a executiva nacional do partido divulgar nota responsabilizando a equipe do presidente pela derrota petista
No dia seguinte ao segundo turno, o presidente Lula recebeu no Palácio da Alvorada o ministro Alexandre Padilha, responsável pela articulação política do governo, e a presidente do PT, a deputada Gleisi Hoffmann, para analisar o resultado da eleição municipal, na qual o partido ganhou em apenas 252 de 5569 municípios, ficando na nona colocação entre as legendas que mais conquistaram prefeituras.
Na reunião, Gleisi defendeu a tese de que o PT iniciou um processo de recuperação depois de ter “afundado num buraco” a partir de 2016, em razão das consequências da Operação Lava-Jato e do impeachment de Dilma Rousseff. O tom do encontro foi cordial, apesar de Lula e Padilha acharem que os petistas não aproveitaram a volta ao poder — e um suposto sucesso do governo atual na economia e nos programas sociais — para recuperar terreno.
Na eleição municipal de 2004, por exemplo, disputada no primeiro mandato de Lula, o partido mais do que dobrou o número de prefeituras e venceu em nove capitais. Em 2012, na gestão inicial de Dilma, ganhou em 630 cidades, incluindo São Paulo.
Fissura pública
Para a coordenação política do governo, o PT continua no “buraco”. Após a reunião no Alvorada, Padilha reconheceu isso numa entrevista: “O PT é o campeão nacional das eleições presidenciais, mas na minha avaliação não saiu ainda do Z4 (zona de rebaixamento) que entrou em 2016 nas eleições municipais”.
A declaração pegou de surpresa Gleisi, que reagiu numa rede social: “Pagamos o preço, como partido, de estar num governo de ampla coalizão. E estamos numa ofensiva da extrema direita. Ofender o partido, fazendo graça, e diminuir nosso esforço nacional não contribui para alterar essa correlação de forças”.
A resposta da deputada deixou apreensivos integrantes do governo. Eles ficaram preocupados com a possibilidade de a executiva nacional do PT, que se reuniria naquele mesmo dia, soltar uma nota reclamando da atuação de ministros de Lula, que, por incompetência ou omissão, não teriam ajudado os candidatos da esquerda na eleição municipal.
No debate da cúpula petista sobre o resultado da eleição, Padilha e outros ministros foram duramente criticados. Desde antes da votação, petistas reclamam que a equipe de Lula não se empenha na disputa política e peca na comunicação das ações oficiais. O presidente, por sua vez, viveria encastelado e só conversaria com meia dúzia de auxiliares, os quais não têm coragem ou estofo político para criticá-lo ou defender mudanças de rota. Lula, segundo esse grupo, teria perdido o pulso das ruas.
Apesar dessas queixas, a executiva nacional do PT não soltou nota responsabilizando o governo pelo resultado eleitoral da legenda. Lula ainda impõe respeito, disciplina e hierarquia a seus comandados.