Filho mais novo de Lula assume o posto de líder da família nas redes
Luis Cláudio Lula da Silva provoca os bolsonaristas e apela para baixarias
O preparador físico Luis Cláudio Lula da Silva, filho mais novo do presidente eleito, ficou conhecido pelo sucesso alcançado como empresário do ramo esportivo, numa modalidade de pouquíssima tradição no Brasil — o futebol americano. A LFT Marketing e a Touchdown Eventos, firmas fundadas pelo caçula, faturaram 10 milhões de reais em quatro anos com publicidade e consultorias contratadas por companhias que tinham interesses em certas decisões do governo petista. Essa relação foi investigada pelo Ministério Público, mas nada de ilegal foi comprovado. Desde que Lula retornou ao centro do palco político, Luis Cláudio tem chamado a atenção, mas agora por outro motivo: a militância nas redes sociais que não economiza em provocações aos adversários e também em baixarias.
No último fim de semana, por exemplo, ele trocou farpas com o vereador Carlos Bolsonaro, filho do atual presidente, que havia publicado um post com críticas à escolha do futuro chefe da Polícia Federal. “Será que teremos o berreiro da tal interferência e todo aquele circo criado em passado recente?”, ironizou o Zero Dois de Bolsonaro em suas redes sociais. Carlos fazia um paralelo com a confusão estabelecida quando Jair Bolsonaro indicou, em 2020, um delegado que havia atuado em sua segurança pessoal para comandar a PF. Na época, dizia-se que a intenção do presidente era proteger os filhos das investigações sobre as rachadinhas. Na semana passada, Lula confirmou o delegado Andrei Rodrigues, que coordenou sua segurança durante a última campanha, como o próximo diretor do órgão. Carlos, então, insinuou que o objetivo do presidente eleito seria idêntico: interferir na polícia para proteger os filhos — e anexou um post com uma notícia sobre a recente reativação de uma das empresas de Luis Cláudio. O Zero Cinco de Lula, então, rebateu: “Quem interferiu foi seu pai. Você e seus irmãos são imundos. Quando falam dos imóveis, das rachadinhas”.
Em suas postagens, Luis Cláudio chama o Zero Dois de Bolsonaro de “Carlixo” e o pai dele de “monstro”. Antes desse embate, aliás, o filho do presidente eleito já havia disparado contra outro filho do atual presidente, lançando mão de palavras chulas. O deputado Eduardo Bolsonaro foi filmado no Catar, ao lado da esposa, durante um jogo da seleção brasileira. As imagens repercutiram muito mal. Criticado pelos próprios apoiadores, o parlamentar saiu-se com uma explicação um tanto bizarra. Segundo ele, o motivo da viagem ao Oriente Médio não era o futebol, mas, sim, uma visita às autoridades para levar pen drives com imagens sobre a situação do Brasil. Luis Cláudio publicou um post sobre o assunto com expressões impublicáveis, mostrando a predominância de um vocabulário juvenil, muito semelhante, em termos de vulgaridade, ao dos próprios desafetos.
O Zero Cinco de Lula tem 37 anos. O Zero Dois de Bolsonaro tem 40. A diferença entre o perfil dos dois nas redes sociais é, por enquanto, apenas no número de seguidores (ao menos, por enquanto). Luis Cláudio tem 233 000, enquanto Carlos passa dos 7 milhões. Fora isso, os métodos são similares. Nos últimos três meses, Luis Cláudio publicou 120 mensagens. Postou uma foto ao lado do pai, comentou a Copa do Mundo, criticou Neymar e homenageou a mãe, já falecida. A maioria de seus posts, porém, trata de temas políticos, principalmente sobre Bolsonaro e seus filhos, alvos de metade das publicações.
Os seguidores do atual presidente são chamados de “bosoloides estúpidos que não conseguem ter uma interpretação de texto clara”. Memes reproduzidos em sua conta também comparam os eleitores de Bolsonaro a animais. Em uma mensagem publicada no início de dezembro, Lula aparece cavalgando Jair Bolsonaro, seguido da legenda “Perdeu Mané”, expressão utilizada pelo ministro Luís Roberto Barroso, do Supremo Tribunal Federal, quando foi perseguido por manifestantes nas ruas de Nova York. Bolsonaro nunca censurou o filho pelas provocações ou pelas grosserias de suas publicações. O futuro presidente, que prega a paz e a reconciliação, ainda tem chance de fazê-lo.
Publicado em VEJA de 21 de dezembro de 2022, edição nº 2820