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Erundina, sobre disputar presidência da Câmara: ‘Temos nossas convicções’

Candidata do PSOL critica a opção da esquerda pelo apoio a Baleia Rossi (MDB-SP) e diz que só vota nele em um eventual segundo turno, mas ‘fechando o nariz’

Por Tatiana Farah Atualizado em 29 jan 2021, 13h15 - Publicado em 28 jan 2021, 15h31

Aos 86 anos, a deputada federal Luiza Erundina (PSOL-SP) mal descansou da campanha para vice-prefeita de São Paulo no final do ano passado — na qual percorreu a cidade em uma espécie de papamóvel de vidro para evitar o novo coronavírus — e mergulhou na campanha para a presidência da Câmara dos Deputados.

Nessa eleição, no entanto, ela tem bem menos chances – para ser mais exato, nenhuma — do que a disputa ao lado do candidato a prefeito Guilherme Boulos (PSOL), que acabou chegando ao segundo turno da corrida pela prefeitura paulistana. Mas a sua decisão de entrar no páreo causou polêmica, inclusive entre os colegas de partido, que chegaram a criticar a sua candidatura abertamente nas redes sociais.

A eleição da nova presidência da Câmara será na segunda-feira, 1º de fevereiro. O escolhido para suceder Rodrigo Maia (DEM-RJ) terá um mandato de dois anos, com direito a reeleição. Há nove candidatos, mas os favoritos são Arthur Lira (PP-AL), apoiado pelo presidente Jair Bolsonaro, e Baleia Rossi (MDB-SP), escolhido por Maia.

Em entrevista a VEJA, ela falou por que não apoiou a candidatura de Baleia como fez a maioria dos partidos de esquerda, entre eles PT, PDT e PCdoB.

Tem sido dito até por integrantes do PSOL que a sua candidatura acaba fortalecendo o candidato do governo, deputado Arthur Lira (PP-AL), que pode levar a presidência em primeiro turno. Como a senhora vê isso? Ninguém tem chance de ganhar em primeiro turno numa disputa em que tem nove candidatos e dois turnos. Nós já afirmamos reiteradamente que, no segundo turno, entre os dois mais votados, nós votaremos, fechando o nariz, na candidatura de Baleia Rossi (MDB-SP), para não dar a vitória ao mais declaradamente candidato de Bolsonaro. Mas não há chance de que os dez votos do PSOL possam fazer a diferença no resultado. Mas, independentemente disso, nós temos nossas convicções, nossas orientações políticas e programáticas, e não é em um evento importante como esse que vai flexionar nossas posições e nossas convicções. Um partido também tem uma função de educação política.

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“Temos nossas convicções, nossas orientações políticas e programáticas. Um partido também tem uma função de educação política”

Por que a senhora não apoiou a candidatura de Baleia Rossi neste primeiro turno? Baleia Rossi tem posições iguais às do governo Bolsonaro. Só que não tem coragem de assumir. E eu espero que, na decisão final de voto, se atentem para essas posições. Rodrigo Maia teve sucessivos mandatos de presidente, com mais de 60 requerimentos de impeachment, e não encaminhou nenhum. Em todo momento, ele diz que não houve crime de responsabilidade por parte de Bolsonaro. Isso não é verdade. É tapar o sol com a peneira e não cumprir sua prerrogativa. Isso vai deixá-lo mal com a História, como alguém leniente, alguém que não usou de suas prerrogativas em relação a uma demanda clara e consistente da sociedade civil em relação ao desastre para o país que tem sido esse governo Bolsonaro.

A senhora considera constrangedor para o PT apoiar Baleia Rossi, que foi, segundo Eduardo Cunha, um dos artífices do impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff? Deveria constranger, né? A gente sabe que há companheiros e companheiras do PT que não concordaram com esse apoio ao Baleia. Essa bancada está bastante dividida. Inclusive os partidos que dão sustentação ao Baleia, que são o DEM e o PSDB, estão divididos. Eu acredito que o PT, com essas denúncias do Eduardo Cunha sobre o golpe em Dilma Rousseff, que teria sido decidido na casa de Rodrigo Maia, eu imagino que deva ser mais constrangedor manter esse apoio.

Essas notícias sobre o envolvimento direto de Maia no impeachment, vindas do novo livro de Eduardo Cunha, ajudam a senhora ou ajudam o Lira? Depende do impacto dessas notícias, que são muito graves. Mas a gente sabe de onde vêm essas notícias, a origem. Por que elas não vieram em outro tempo? Também o Eduardo Cunha estava na gestação do golpe. Eu também, se estivesse entre esses partidos de apoio ao Baleia, diante disso, ficaria muito infeliz, constrangida e abriria o debate interno sobre se era o caso de manter ou não esse apoio. É um momento de questionamento desses partidos.

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“Nós já afirmamos reiteradamente que, no segundo turno, entre os dois mais votados, votaremos, fechando o nariz, na candidatura de Baleia”

Se a senhora fosse eleita a presidente da Câmara, qual seriam suas três primeiras ações? Seria encaminhar o processo de impeachment do presidente Bolsonaro. Seria recriar o auxílio emergencial no limite daquilo que foi estabelecido pela Câmara no começo, ou seja, 600 reais, porque sem isso a população não sobrevive e a economia também se afunda cada vez mais. É provado que nos primeiros meses do auxílio emergencial a economia reagiu, melhorou, porque dinamizou a economia local. Portanto, recriar esse auxílio emergencial que, na nossa proposta, deve se tornar permanente para os setores que estão fora do mercado de trabalho. E a terceira seria ter uma presença mais ativa, de pressão e exigência, sobre o Executivo em relação ao processo de vacinação em massa, agilizar esse processo para criar as condições que não foram dadas para diminuir o impacto dessa tragédia sobre o nosso país.

A senhora está ansiosa para tomar a vacina? Estou tranquila. Acho que tem outras pessoas que estão mais necessitadas disso. Eu vou esperar a minha vez. A gente sabe que não tem vacina para os grupos prioritários. Mas vou exigir que esse direito seja estendido a todo brasileiro e brasileira.

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