Eduardo Bolsonaro encurralado: aliados já tratam deputado como passado
Mesmo com tendência ao arquivamento, o filho do ex-presidente enfrenta isolamento político e risco real de perder o mandato por faltas
O Conselho de Ética da Câmara dos Deputados retomou nesta quarta-feira (18) a votação sobre o processo que pede a cassação do mandato de Eduardo Bolsonaro (PL-SP). O parlamentar é acusado pelo PT de quebra de decoro, por ter participado, nos Estados Unidos, de articulações ligadas ao chamado “tarifaço” — episódio que envolveu declarações e ações consideradas de interferência política internacional.
O relator do caso, deputado Marcelo Freitas (União-MG), já emitiu parecer favorável ao arquivamento do processo, decisão que deve prevalecer. Mas, como revelou o presidente do Conselho, Fábio Schiochet (União-SC), o caso pode não estar encerrado: Eduardo ainda é alvo de outra investigação — desta vez, por excesso de faltas desde que se mudou para os Estados Unidos.
“Se o relatório não for aprovado, designo novo relator e o processo recomeça. O Conselho precisa aprovar um parecer — de arquivamento ou admissibilidade”, afirmou Schiochet.
Mesmo com a tendência ao arquivamento, o cenário político de Eduardo Bolsonaro é de desgaste e isolamento, como destacou o editor José Benedito da Silva no programa Ponto de Vista, de VEJA.
A paciência acabou: “Eduardo atrapalha muita gente”
“O relator é amigo da família Bolsonaro, então o parecer pelo arquivamento já era esperado. Mas o Eduardo está muito desgastado. É difícil encontrar quem o apoie, fora o núcleo duro do bolsonarismo, que mal chega a duas dezenas de deputados”, disse Benedito.
Segundo o editor, o deputado enfrenta rejeição até dentro do próprio PL, onde já se discute quem ocupará seu espaço político em São Paulo.
“Ele virou um ativo tóxico. A direita acha que ele atrapalha o bolsonarismo, atrapalha o Tarcísio, atrapalha o Parlamento. O PL de Valdemar Costa Neto já trata o Eduardo como passado”, afirmou.
Nos bastidores, o partido cogita o nome do deputado Cezinha de Madureira (PSD-SP) — líder evangélico da Assembleia de Deus e aliado de Gilberto Kassab — para disputar o Senado por São Paulo em 2026, caso a vaga de Eduardo seja aberta.
“O próprio PL já está discutindo quem vai substituir o Eduardo Bolsonaro ao Senado. Isso mostra o nível de abandono político”, avaliou Benedito.
Da aposta internacional ao isolamento político
Eduardo Bolsonaro, que atualmente vive nos Estados Unidos, fez uma aposta arriscada ao se alinhar com setores da direita americana, tentando se projetar como ponte entre o bolsonarismo e o trumpismo.
Durante a gestão de Donald Trump, chegou a defender medidas de pressão comercial e política sobre o governo brasileiro, imaginando que isso o fortaleceria internamente.
“Ele apostou numa estratégia kamikaze. Parecia que daria certo quando surgiram as sanções e o discurso da direita americana crescia. Mas tudo ruiu. Hoje, ele é um personagem esvaziado — sem base, sem agenda e sem espaço no Brasil”, comentou Benedito.
Com Jair Bolsonaro inelegível, o deputado chegou a tentar assumir a dianteira do bolsonarismo no exterior, mas perdeu força à medida que Lula se aproximou do próprio Trump em encontros diplomáticos recentes. “Até isso o desarmou como arma política”, resumiu o editor.
O risco real das faltas e o futuro incerto
Embora o processo do Conselho de Ética deva ser arquivado, as ausências do deputado — que vive há meses fora do país e não comparece às sessões presenciais — podem resultar em perda automática do mandato.
O presidente do Conselho, Fábio Schiochet, rejeitou a tese do PL de que, desde a pandemia, sessões virtuais compensariam as faltas presenciais, reforçando que os parlamentares precisam comparecer às sessões de terça e quarta-feira.
“A regra da pandemia não se aplica mais. O deputado precisa estar presente. Esse será o problema real de Eduardo Bolsonaro”, afirmou Schiochet.
Um bolsonarista sem bancada
O processo no Conselho de Ética é mais um episódio do declínio político de Eduardo Bolsonaro, que hoje vive sem mandato efetivo, sem prestígio e sem grupo.
“A vida política do Eduardo virou um processo de derretimento. Ele se isolou, perdeu aliados e sobrevive de uma militância virtual que já não tem o mesmo poder de fogo. No Congresso, virou peso morto”, concluiu Benedito.
Mesmo que escape da cassação, o deputado mais polêmico da família Bolsonaro se vê diante de um cenário inescapável: poucos aliados, muitos inimigos e um futuro que o próprio PL já escreve sem ele.