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“Discurso foi inábil porque imagem do Brasil está no chão”, diz embaixador

Para Roberto Abdenur, a fala de Bolsonaro na Assembleia Geral da ONU teve aspecto eleitoreiro e contribui para a perda de protagonismo do país no exterior

Por Edoardo Ghirotto
Atualizado em 24 set 2019, 12h52 - Publicado em 24 set 2019, 12h24

O discurso do presidente Jair Bolsonaro na abertura da Assembleia Geral das Nações Unidas (ONU) só não piora a imagem do Brasil no exterior porque ela “já está no chão”, segundo avaliação do ex-embaixador brasileiro em Washington Roberto Abdenur. O diplomata considerou que a fala de Bolsonaro foi inábil e teve caráter eleitoreiro ao focar em temas que não têm ressonância fora do país. 

“Não foi um desastre, mas é um discurso voltado para o eleitorado dele. Foi um discurso inábil. Não piora a imagem do Brasil no exterior porque, hoje, ela não poderia ser pior. Nossa imagem já está no chão”, declarou Abdenur. “Essa fala será vista por amplos setores como um discurso agressivo, contestatório, de confrontação com a imprensa e com países que têm uma visão crítica à política ambiental brasileira.”

Bolsonaro falou por 31 minutos na ONU e abriu frentes de ataques severos contra governos de esquerda no Brasil, a atitude da França diante dos incêndios na Amazônia e até mesmo o cacique caiapó Raoni Metuktire, uma das principais vozes contra as políticas indigenista e ambiental da sua gestão. Também tratou de temas que marcaram sua eleição para presidente, como a oposição ao Foro de São Paulo e à vinda de médicos cubanos para trabalhar no país.

“São posturas ideológicas de extrema-direita do seu governo. Não foi equilibrado nem veiculou adequadamente quais são os verdadeiros interesses do Brasil. Essa fala de Bolsonaro é muito casuística. A comunidade internacional não sabe o que é Foro de São Paulo nem está a par da questão dos médicos cubanos. São aspectos voltados só para o seu público interno”, afirmou Abdenur.

Na visão do embaixador, Bolsonaro pecou ao não reconhecer a legitimidade das preocupações internacionais com relação à preservação da Amazônia. “Ele só foi explícito na pancada que deu na França. Deixou de trazer um elemento importante, que seria reafirmar o compromisso do Brasil com o Acordo de Paris. O Brasil é central para a discussão da questão ambiental e da questão climática. E o discurso não corresponde à importância do país para esse problema”, disse.

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“Até o governo Bolsonaro, o Brasil se valia da questão amazônica para ter abertura ao diálogo com outros países e para propor soluções voltadas ao desenvolvimento sustentável, por exemplo. Hoje, o governo federal está sendo ultrapassado. A França abriu diálogo direto com os governadores da região amazônica. O governo brasileiro está perdendo as batalhas da imagem e do controle sobre o que será feito a respeito da Amazônia”, declarou Abdenur.

Na segunda-feira, 23, o presidente francês, Emmanuel Macron, apresentou em Nova York uma aliança para proteger a Amazônia e outras florestas tropicais. O lançamento da iniciativa contou com a presença de diversos líderes da região, entre eles o presidente do Consórcio Amazônia Legal e governador do Amapá, Waldez Góes (PDT). Nenhum representante do governo Bolsonaro participou da discussão do plano, que inclui novas ajudas de doadores internacionais, entre elas 100 milhões de dólares do governo francês..

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