Defesa vê delação de Mauro Cid ‘inflada’ e minimiza ação de Bolsonaro
Advogados do ex-presidente ainda não tiveram acesso aos depoimentos e não acreditam que o ex-ajudante de ordens tenha incriminado seu antigo chefe
Advogados que compõem a defesa do ex-presidente Jair Bolsonaro ainda adotam cautela ao tratar da colaboração premiada feita pelo tenente-coronel Mauro Cid com a Polícia Federal. O acordo foi firmado no início de setembro, e é mantido sob sigilo pelos investigadores. Sem ter tido acesso ao conteúdo, a defesa de Bolsonaro demonstra desacreditar que o ex-ajudante de ordens tenha feito relatos que possam incriminar o ex-presidente.
Conforme revelou VEJA, Cid admitiu à PF que vendeu dois relógios de luxo que haviam sido presenteados a Bolsonaro durante viagens oficiais. Segundo o ex-auxiliar, a ação se deu após uma determinação do então presidente, e todo o dinheiro – mais de 300 mil reais – foi entregue a ele em mãos.
Além disso, o jornal O Globo e o portal UOL informaram que o militar detalhou uma reunião entre Bolsonaro e os três comandantes das Forças Armadas na qual foi discutida a hipótese de um golpe militar para contestar o resultado das eleições. No encontro, segundo as publicações, o então comandante da Marinha, Almir Garnier, demonstrou apoio à ação, que teria sido freada pelo então comandante do Exército, Freire Gomes.
Sobre a venda das joias, advogados tentam minimizar a influência de Bolsonaro na ação. A linha de defesa vai no sentido de que os presentes são catalogados em um setor específico, o Gabinete Adjunto de Documentação Histórica (GADH), que informou que os itens eram privados – ou seja, poderiam, segundo essa tese, ter qualquer destinação. Eles ainda argumentam que o presidente não deu nenhuma ordem sobre a comercialização dos bens e minimizou o fato de um dos itens vendidos sequer ter sido registrado como recebido, o que infringe a regra. Não seria, dizem os defensores, o presidente o responsável por encaminhar os regalos ao GADH, e sim o Ministério das Relações Exteriores e a ajudância de ordens.
Cid, porém, contesta essa versão. Em conversas recentes, ele chegou a dizer que não seria “maluco” de vender os presentes se não fosse por ordem direta do seu chefe. “Militar cumpre missão”, afirma.
Já sobre o suposto plano golpista, advogados afirmam que as declarações podem ter sido “infladas” pela Polícia Federal e demonstram ter dúvidas se o relato de fato aconteceu nesses termos. Mas, considerando essa hipótese, eles dizem que nada teria passado de um mero ato de cogitação e que sequer teria avançado para além do imaginário.
Conforme VEJA mostrou, Cid contou que o ex-presidente se esforçou para encontrar uma fraude no resultado eleitoral, o que lhe daria guarida para contestar o pleito.