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Decisão do STF eleva tensão entre Poderes e ameaça projetos decisivos para o país

Ao contrário de políticos e magistrados, a população não quer saber de “PEC da blindagem”, seja para o Legislativo, seja para o Judiciário

Por Laryssa Borges Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 5 dez 2025, 11h19 - Publicado em 5 dez 2025, 06h00

Antes de ser preso por tramar um golpe de Estado, Jair Bolsonaro combinou com a cúpula de seu partido, o PL, que teria a palavra final sobre as candidaturas para o Senado em 2026. A prioridade do ex-presidente é conquistar maioria expressiva na Casa para atingir pelo menos dois objetivos. Um é a aprovação de uma anistia aos condenados pelos ataques do 8 de Janeiro e pelo atentado contra a democracia, o que não parece possível com o elenco atual de senadores. O outro é garantir quórum suficiente para a votação do impeachment de ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), com destaque para Alexandre de Moraes, relator do processo que resultou na condenação de Bolsonaro a 27 anos e três meses de prisão. Numa demonstração de que seu plano é para valer, o capitão cogitou inicialmente que sua mulher, a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro, e seus três filhos mais velhos, Flávio, Carlos e Eduardo, concorressem ao Senado, o que só não deve ocorrer no caso do rebento exilado nos Estados Unidos. Mais do que nunca, conquistar a supremacia no Salão Azul do Congresso é peça-chave na tentativa de redenção do bolsonarismo.

PRESSÃO - Ministros Gilmar Mendes e Alexandre de Moraes: alvos preferenciais dos pedidos de impedimento
PRESSÃO - Ministros Gilmar Mendes e Alexandre de Moraes: alvos preferenciais dos pedidos de impedimento (Pedro Ladeira/Folhapress/.)

Essa estratégia não é nova e foi ignorada durante um bom tempo pelo Supremo, transformado em alvo preferencial do capitão quando ele governava o país. Na última quarta-feira, 3, no entanto, a situação mudou radicalmente graças a uma canetada monocrática do decano da Corte, ministro Gilmar Mendes. Tomada como reação preventiva aos movimentos políticos do ex-presidente, essa decisão provocou a repulsa dos parlamentares, reacendeu o embate entre Legislativo e Judiciário e, como consequência, pode atrapalhar a tramitação de projetos de interesse do país. Em um despacho com longas considerações sobre riscos à democracia no mundo e a escolha do Judiciário como alvo vilipendiado por governos extremistas de direita, Mendes declarou inconstitucionais diversos trechos da Lei de Impeachment, de 1950, e fixou a tese de que apenas o procurador-geral da República pode apresentar eventuais processos de destituição de juízes da Suprema Corte.

O Senado, que atualmente é responsável por dar ou não seguimento aos procedimentos, teria suas atribuições esvaziadas, e a ele caberia apenas decidir, na hipótese de o chefe do Ministério Público investir contra a cúpula do Judiciário, abrir ou não a ação contra o magistrado. Como os procuradores-gerais são historicamente alinhados ao Supremo, pelos padrões delineados por Mendes, as chances de um processo de impeachment ser levado adiante beiram a zero. A iniciativa foi definida por oposicionistas como uma tentativa de blindagem contra eventual desforra de uma possível maioria bolsonarista no Senado na próxima legislatura. Ela também reacendeu a queixa dos congressistas sobre o fato de ministros do STF derrubarem ou modificarem individualmente leis aprovadas pelo Parlamento e sancionadas pelo presidente da República, o que representaria usurpação de prerrogativas e, de quebra, incentivaria o ambiente de vale-tudo institucional que há anos impera na Praça dos Três Poderes.

CONFLITO - Davi Alcolumbre: uma “ofensa à separação dos poderes”
CONFLITO - Davi Alcolumbre: uma “ofensa à separação dos poderes” (Waldemir Barreto/Agência Senado)
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Atualmente, tramitam entre os senadores mais de sessenta pedidos de impeachment contra alvos do STF, trinta só neste ano. Mesmo sem andarem, eles atuam como uma eterna espada sobre a cabeça dos magistrados. Fazia tempo que Mendes defendia que o tribunal analisasse a validade das normas de afastamento de ministros do Supremo por suposto conflito com a Constituição, mas diferentes movimentos políticos da Corte evidenciaram que os magistrados não queriam levar adiante apenas uma discussão teórica sobre uma legislação antiga. A ambição era muito maior. Na terça 2, por exemplo, o ministro pediu que o julgamento sobre o tema fosse realizado a partir da próxima semana e de forma virtual, expediente normalmente usado para assuntos pouco polêmicos ou de consenso. No dia seguinte, suspendeu, por liminar, dispositivo que permite a cidadãos comuns ingressarem com pedido de impeachment de magistrados, derrubou a possibilidade de afastamento temporário de juiz que eventualmente responda a processo de impeachment, criticou a “intimidação do Poder Judiciário por meio do impeachment abusivo”, dificultou o quórum de deliberação para a destituição de magistrados e definiu que o teor de decisões judiciais não pode ser utilizado como fundamento para a acusação de crime de responsabilidade.

Em 2021, não custa lembrar, o próprio Bolsonaro protocolou pedido de impeachment de Moraes. Caso o plano do ex-presidente de conquistar maioria no Senado tenha sucesso, é provável que tanto Moraes como Mendes sejam alvo de iniciativa parecida na próxima legislatura. “Ao atacar a figura de um juiz da mais alta Corte do país, a ponto de se buscar sua destituição, não se está apenas questionando a imparcialidade ou a conduta do magistrado, mas também minando a confiança pública nas próprias instituições que garantem a separação de poderes e a limitação do poder”, escreveu o decano. No ano passado, durante um fórum jurídico no exterior, integrantes do tribunal chegaram a discutir com um grupo de empresários a importância de implantar o regime semipresidencialista no Brasil para tolher eventuais empoderamentos indevidos do Congresso.

VINGANÇA - Jair Bolsonaro: anistia e impeachment de ministros do Supremo são prioridades do ex-presidente
VINGANÇA - Jair Bolsonaro: anistia e impeachment de ministros do Supremo são prioridades do ex-presidente (Sergio Lima/AFP)
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Quem ouviu a peroração a resumiu como um temor de que o colchão de proteção que os juízes do STF hoje acreditam ter no Senado se desfizesse com a eleição em massa de bolsonaristas. A um graduado interlocutor do Congresso, o recado foi mais claro: a pressão de senadores eleitos na próxima eleição, somada ao cenário político potencialmente conflagrado, poderia levar a Casa a entregar pela primeira vez na história a cabeça de um magistrado na bandeja. Consta que pelo menos sete integrantes do STF receberam alerta semelhante.

A decisão de Gilmar Mendes desencadeou uma enxurrada de críticas da classe política, a começar pelo presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União Brasil-AP), que nas últimas semanas protagonizou embates com o governo ao trabalhar abertamente para derrubar a indicação do advogado-geral da União (AGU), Jorge Messias, para a vaga aberta no STF com a aposentadoria de Luís Roberto Barroso no Supremo (veja o quadro).

PLANO ELEITORAL - Senado: direita aposta que irá emplacar ampla maioria
PLANO ELEITORAL - Senado: direita aposta que irá emplacar ampla maioria (Carlos Moura/Agência Senado)
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Em discurso proferido no plenário, Alcolumbre disse que o veredicto “usurpa as prerrogativas do Poder Legislativo” e representa “grave ofensa à separação dos poderes”, e dobrou a aposta ao acenar com a aprovação de uma emenda à Constituição que deixe evidentes os direitos do Congresso no andamento de pedidos de impeachment que alvejam o tribunal. Na sequência, o senador também ameaçou colocar em votação projeto que limita a possibilidade de juízes da Suprema Corte darem decisões individuais. Numa tentativa de reduzir as resistências de Alcolumbre a seu nome, Messias enxergou na cizânia uma oportunidade e pediu ao Supremo, por meio da AGU, que reformasse a decisão de Mendes, negada no dia seguinte.

Partidário da escolha de Rodrigo Pacheco (PSD-MG) para a Corte, Alcolumbre lembrou que o senador mineiro — que contava com o apoio de Mendes e Moraes e acabou preterido por Lula para o Supremo — é autor de um projeto que atualiza as regras de impeachment e não blinda integrantes do Judiciário. Ao contrário, prevê a destituição do cargo inclusive por “manifestar opinião sobre processos ou procedimentos pendentes de julgamento”. Na Câmara, a oposição classificou o despacho como algo sem precedentes, a verdadeira “PEC da blindagem”. A batalha entre Legislativo e Judiciário recrudesceu com força. Ela nunca foi interrompida nos bastidores, especialmente em razão das investigações sobre desvios de emendas parlamentares, mas andava em banho-maria diante do entendimento de que cada poder tem arsenal de sobra para retaliar o outro.

PREJUÍZO - Violência: projetos de interesse da sociedade em segundo plano
PREJUÍZO - Violência: projetos de interesse da sociedade em segundo plano (Egberto Ras/Agência Enquadrar/Agência O Globo/.)
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Um conflito aberto pode trazer prejuízos sérios ao país. Enquanto energia é gasta com esse cabo de guerra sobre prerrogativas e ameaças de retaliações, projetos de interesse da sociedade ficam em segundo plano. A PEC da Segurança Pública até agora não avançou na Câmara. O projeto de lei apresentado pelo governo contra as facções criminosas aguarda a análise dos senadores. Os dois textos são destinados a combater a criminalidade, que lidera o ranking de preocupação dos eleitores, segundo as pesquisas. Ao contrário de políticos e magistrados, a população não quer saber de “PEC da blindagem”, seja para o Legislativo, seja para o Judiciário. O Brasil tem desafios e prioridades bem mais urgentes. Autocontenção, diálogo e prudência fariam bem a meritíssimos e excelências.

Publicado em VEJA de 5 de dezembro de 2025, edição nº 2973

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