Datas: Dalmo de Abreu Dallari, Mimi Reinhardt e Eduardo Guardia
O jurista, a secretária da lista de Schindler e o ministro da Fazenda do presidente Michel Temer

A democracia brasileira seria mais frágil sem a atuação do jurista Dalmo de Abreu Dallari, ex-diretor e professor emérito da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo. Depois do Golpe Militar de 1964, ele teve destacada participação na oposição e resistência à ditadura. A partir de 1972, ajudou a organizar a Comissão Pontifícia de Justiça e Paz da Arquidiocese de São Paulo, em permanente defesa dos direitos humanos. Com acesso às prisões em decorrência de sua atividade pastoral, a comissão teve papel decisivo na defesa dos presos políticos e nas denúncias de torturas e desaparecimentos. Em 1980, durante a primeira visita do papa João Paulo II ao Brasil, Dallari foi designando para representar seu grupo com a leitura de um texto na missa celebrada no Campo de Marte, em São Paulo. Na véspera, foi sequestrado e espancado. No dia seguinte, de cadeira de rodas, foi impedido de subir ao palco pelo acesso normal por um militar. Amigos o ergueram à revelia das autoridades e o puseram próximo ao púlpito. O arcebispo de São Paulo, dom Paulo Evaristo Arns, resumiria a agressão em conversa com o pontífice, assustado com os ferimentos: “Fizeram isso com ele porque não tiveram coragem de fazer comigo, mas é um recado para mim”. Dallari morreu em 8 de abril, em São Paulo, aos 90 anos, com um quadro de insuficiência respiratória.
A secretária da lista de Schindler

A Lista de Schindler, de Steven Spielberg, vencedor de sete estatuetas do Oscar em 1994, inclusive a de melhor filme e a de melhor diretor, fez o mundo conhecer a história do industrial alemão que salvou 1 200 judeus do Holocausto nazista ao empregá-los em suas fábricas de esmaltados e munições, atalho para que não fossem deportados para os campos de concentração. Fez parte da empreitada heroica o trabalho de Mimi Reinhardt, judia nascida na Áustria, secretária encarregada de preparar o rol de pessoas que poderiam ser contratadas e, depois, salvas. Mimi trabalhou com Schindler até o fim da II Guerra Mundial, em 1945. Depois imigrou para os Estados Unidos. Passou os últimos anos de vida em Israel, ao lado do filho único. Morreu em 8 de abril, aos 107 anos.
Responsabilidade fiscal

Quando teve seu nome indicado para o cargo de ministro da Fazenda do presidente Michel Temer em 2018, ao suceder Henrique Meirelles, que concorreria à Presidência, Eduardo Guardia virou estorvo para a ala política do governo. Para essa turma, à direita ou à esquerda no espectro ideológico, as finanças públicas são apenas sinônimo de votos, em flagrante descuido com os gastos públicos. Zeloso, organizado e preparadíssimo do ponto de vista técnico, Guardia não cedeu um milímetro em suas convicções, como convém a um bom servidor público. Brigava pelas reformas dentro de tetos previamente estabelecidos, numa gestão de nove meses pautada pela responsabilidade fiscal. Depois de deixar Brasília, e passada a quarentena regulamentar, em 2019 ele foi nomeado CEO do BTG Pactual Asset Management. Morreu em 11 de abril, aos 56 anos, em decorrência de um câncer.
Publicado em VEJA de 20 de abril de 2022, edição nº 2785