Como ‘trauma André Mendonça’ pode facilitar a vida do indicado ao STF
Operação para barrar indicado de Bolsonaro ao Supremo naufragou, mas produz reflexos até hoje
![André Mendonça durante sabatina com senadores para vaga no Supremo Tribunal Federal (STF) -](https://veja.abril.com.br/wp-content/uploads/2021/12/51716520227_055fc774e1_k.jpg?quality=90&strip=info&w=1280&h=720&crop=1)
Ex-ministro da Justiça, André Mendonça foi submetido a exatos 141 dias de espera até ter seu nome aprovado, em dezembro de 2021, como ministro do Supremo Tribunal Federal (STF). Neste período, senadores trabalharam para inviabilizar a indicação daquele que o ex-presidente Jair Bolsonaro havia classificado como “terrivelmente evangélico” e emplacar um nome mais palatável à classe política – o atual procurador-geral da República Augusto Aras era a preferência de praticamente nove em cada dez senadores.
Embora Mendonça tenha tido a votação apertada para um indicado ao STF nos últimos anos – foram apenas seis votos a mais que o mínimo de 41 necessários para a confirmação –, a operação para rifar o bolsonarista naufragou e, passados quase dois anos, o caso voltou à mesa de discussões porque o presidente Lula prepara-se para fazer uma nova escolha para a Suprema Corte.
Entre supremáveis, o episódio foi apelidado de “trauma André Mendonça” em referência à ousada ofensiva parlamentar de melar uma indicação do Executivo. Mais relevante que o custo político de integrar a linha de frente contra um potencial magistrado, dizem os candidatos de hoje ao STF, é o custo de pilotar a manobra, perder e comprar a inimizade do futuro juiz.
Cálculos como este estão sendo tabulados pelos aspirantes a ministro na tentativa de demonstrar que, independentemente de quem for o indicado, dificilmente o Senado se arvoraria a repetir o erro. Depois do desgaste, Mendonça, por exemplo, ficará pelos próximos 25 anos à frente de uma cadeira na Suprema Corte.
Favorito na bolsa de apostas pela vaga ao STF, o advogado do presidente Lula na Lava-Jato Cristiano Zanin conta de largada com a reprovação do que no Congresso está sendo chamado de “a turma dos dez”, um misto de senadores lavajatistas como Sergio Moro e bolsonaristas ideológicos como Damares Alves, Jorge Seif e Cleitinho, que se recusariam a ratificar um nome tão identificado como o lulismo. Reportagem de VEJA que chega neste fim de semana às bancas e plataformas digitais mostra, no entanto, que apoiadores do ex-presidente Bolsonaro esperam conseguir até 30 votos contra o candidato.
Aliados do presidente do Tribunal de Contas da União (TCU) Bruno Dantas, por sua vez, contabilizam, na pior das hipóteses, 20 votos contrários caso seja o seu o nome apresentado. Terceiro candidato que chegou à peneira final feita pelo Palácio do Planalto, o diretor jurídico da Companhia Siderúrgica Nacional Manoel Carlos de Almeida Neto teria um desafio diferente. Primeiro se fazer conhecido entre os parlamentares para depois tabular eventuais rejeições. Nos três casos, porém, os votos contrários dificilmente colocariam o risco a aprovação do escolhido. É mais do que nunca o “trauma de André Mendonça”.