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Com sinais à base bolsonarista, Tarcísio esquenta guerra da sucessão na direita

Governador de São Paulo mexe com o tabuleiro da disputa dos candidatos a ocupar o espaço do ex-presidente

Por Laísa Dall'Agnol Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO , Pedro Jordão Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 13 set 2025, 10h28 - Publicado em 13 set 2025, 08h00

Na semana que antecedeu o início do julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro pelo Supremo, o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), já dava sinais de que uma inflexão estava em curso. Em entrevista, disse que “hoje eu não posso falar que confio na Justiça” e que, se fosse eleito presidente, daria anistia ao padrinho político. “Primeiro ato”, afirmou. Depois, já com o julgamento em andamento, desembarcou em Brasília para articular a aprovação de um projeto de lei de perdão aos condenados por atos antidemocráticos, entre eles Bolsonaro. Sentou-se com o presidente da Câmara, Hugo Motta, seu colega de partido, e com outros líderes do Centrão, antes de voltar a São Paulo para conversar também com o pastor Silas Malafaia e o líder do PL na Câmara, Sóstenes Cavalcante, porta-vozes mais aguerridos das críticas ao STF e da ofensiva por anistia. Ao lado de ambos, subiu no carro de som bolsonarista na Avenida Paulista no 7 de Setembro e aumentou ainda mais o tom. Discursou dizendo que o processo por tentativa de golpe é “maculado” e “viciado” e fez algo impensável há poucos dias ao bradar que o país não aguenta mais a “tirania de um ministro como Alexandre de Moraes”.

PONTE - Ratinho Jr. e o presidente do Paraguai, Santiago Peña: apelos à união
PONTE - Ratinho Jr. e o presidente do Paraguai, Santiago Peña: apelos à união (Jonathan Campos/AEN/.)

Os acenos explícitos às pautas mais controversas e caras ao bolsonarismo serviram para chacoalhar o tabuleiro eleitoral. Além de reposicionar o discurso mais à direita e agradar aos aliados do ex-presidente, sempre desconfiados de seu estilo mais pragmático, o governador paulista acenou em busca do apoio do capitão para eventual projeto presidencial, um desejo cada vez mais explícito de siglas importantes, em especial do Centrão, que se afasta do governo Lula — e, de forma mais sutil, também de Bolsonaro. Funcionou também ao mostrar, tanto a eventuais concorrentes à direita quanto aos aliados do presidente Lula, que, no ocaso de Bolsonaro, ele estaria disposto a se colocar no jogo pela Presidência em 2026.

A repercussão, de espanto em sua maioria, veio acompanhada de um recuo estratégico na sequência. Rompendo com a rotina de inúmeras agendas públicas, ele optou na semana do julgamento por reuniões fechadas no Palácio dos Bandeirantes com aliados e empresários — a exceção foi um evento na Fiesp, onde passou longe de temas como anistia e Bolsonaro. O movimento de submersão, visto como ação para diminuir o tensionamento político, também se deveu à contraofensiva de Hugo Motta. Cobrado por Tarcísio no 7 de Setembro, o presidente da Câmara disse que não há previsão de votação da anistia. Nos dias de “silêncio”, porém, Tarcísio não deixou o tema de lado: tem conversado com aliados e deve voltar a Brasília na próxima semana para se reunir com membros do Republicanos e lideranças de outras legendas aliadas, como o PL, o União Brasil e o PP.

TORCIDA - ACM Neto, Antonio Rueda, Ciro Nogueira e Arthur Lira: Centrão se afasta de Lula e aposta em Tarcísio para 2026
TORCIDA - ACM Neto, Antonio Rueda, Ciro Nogueira e Arthur Lira: Centrão se afasta de Lula e aposta em Tarcísio para 2026 (Partido Progressista/.)
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Nos meios políticos, é quase um consenso que uma eventual candidatura de Tarcísio ao Palácio do Planalto tem potencial para inibir outros postulantes da mesma pretensão. Restaria a alguns deles tentar um espaço à direita sem vínculo direto com as bandeiras bolsonaristas. É a perspectiva, por exemplo, do entorno do governador do Paraná, Ratinho Jr. (PSD). Ventilado como candidato à Presidência, Ratinho Jr. goza de alta aprovação em seu estado e possui uma gestão com ótimos resultados em áreas importantes como educação. Na direção contrária de Tarcísio, ele tem cada vez mais se afastado da figura do ex-presidente — a última manifestação com o grupo da qual participou foi em abril —, ao mesmo tempo que busca o eleitorado mais moderado de direita e de centro-direita. Lançou o slogan “O Brasil tem que virar a página”, vestiu a camisa do “gestor eficiente e moderado” e tem batido na tecla da necessidade de “pacificação” do ambiente político, evitando comentar temas que envolvam diretamente Lula ou Bolsonaro. Tem se dedicado a agendas destinadas a alavancar investimentos no Paraná, como ao receber na última semana o presidente do Paraguai, Santiago Peña, e uma comitiva do país vizinho para discutir novas parcerias.

DIANTEIRA - Caiado: o primeiro a se lançar como candidato de oposição
DIANTEIRA - Caiado: o primeiro a se lançar como candidato de oposição (Wesley Costa/SECOM/.)

O movimento é diferente do que pretendem fazer outros dois presidenciáveis à direita, os governadores de Goiás, Ronaldo Caiado (União Brasil), e de Minas Gerais, Romeu Zema (Novo). O goiano sempre foi um crítico do STF, mas agora vê Tarcísio mais próximo de seu discurso. Em Goiânia, no 7 de Setembro, Caiado voltou a defender a anistia como uma forma de pacificar o país. Já Zema, que sempre foi o mais incisivo na tentativa de colar seu nome ao de Bolsonaro — ele foi à Avenida Paulista no último 7 de Setembro —, ficou mais emparedado à direita com o movimento de Tarcísio. Segundo um interlocutor do governador mineiro, o gesto de Tarcísio “é ruim para Zema, porque o campo fica mais espremido”, mas isso não significa que ele vai se reposicionar. “Zema é o mais desconhecido de todos, e o discurso mais radical dele é um pouco para chamar a atenção também, para ter relevância”, afirma essa mesma fonte. Na foto atual da disputa à direita, os dois governadores aparecem em desvantagem. “Tanto Zema quanto Caiado são muito restritos a nichos. Zema ainda é de Minas Gerais, um estado de peso, mas Caiado nem isso tem, porque Goiás é um estado com um eleitorado muito pequeno”, avalia Priscila Lapa, doutora em ciência política pela UFPE.

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Os bolsonaristas celebraram a mudança de postura de Tarcísio e avaliam que ele mostrou força ao rearticular os partidos em torno da anistia. Apesar disso, Tarcísio ainda precisa superar a dependência desse grupo em relação ao clã do ex-presidente, principalmente Eduardo Bolsonaro (que ainda sonha em disputar a Presidência), o que impede que reconheçam rapidamente o governador de São Paulo como o herdeiro natural do pai. O pastor Silas Malafaia, tido como um conselheiro do ex-capitão, defende que ainda não se fale em sucessor e compara o caso à prisão e condenação de Lula, em 2018, quando o petista só definiu que seria representado nas urnas por Fernando Haddad nos “45 minutos do segundo tempo”. “Tarcísio deu uma sinalização para a população brasileira e para a direita, a qual ele pertence, de que considera o julgamento de Bolsonaro no STF uma farsa. Agora, só o futuro vai dizer sobre as atitudes dele”, diz. Declaração semelhante veio do ex-ministro Gilson Machado, outro aliado próximo a Bolsonaro: “Sempre tive uma convivência muito boa com Tarcísio, mas o meu candidato é Jair Messias Bolsonaro”, afirma. Nos Estados Unidos, Eduardo não se pronunciou sobre os novos movimentos de Tarcísio, a quem criticou em várias oportunidades pela falta de firmeza em relação ao julgamento. A ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro, que foi ao ato na Paulista, onde chorou ao falar sobre o marido, segue bem nas pesquisas e na bolsa de apostas do bolsonarismo.

NO PÁREO - A ex-primeira-dama Michelle: bons números nas pesquisas recentes
NO PÁREO - A ex-primeira-dama Michelle: bons números nas pesquisas recentes (Humberto Bispo/Ato Press/Folhapress/.)

Quem observa com atenção o movimento é a esquerda governista. Para o entorno de Lula, a radicalização do discurso de Tarcísio dá cada vez mais certeza de que ele conseguirá se impor à direita, viabilizar sua candidatura e ser o principal oponente em 2026. “Ele está deixando claro qual é o posicionamento político e ideológico. Depois, pode tentar moderar o discurso, mas isso também vai deixando claro para a população qual é o projeto político dele. Nós estamos preparados”, diz o senador Humberto Costa (PT-­PE). A avaliação é de que a radicalização à direita de Tarcísio é boa porque abre margem para o governo disputar votos ao centro. Embora também radicalize à esquerda, como ao apostar no antagonismo entre ricos e pobres, Lula vem fortalecendo seu discurso de frente ampla, pela soberania nacional e em defesa da democracia, o que o aproxima do eleitor mais moderado e lhe confere a possibilidade de reeditar a disputa de 2022. “Lula está construindo o cenário que ele mais quer, que é uma nova campanha polarizando democracia versus autoritarismo, com ele representando a democracia e o Tarcísio o autoritarismo”, analisa Eduardo Grin, cientista político da FGV.

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ALTERNATIVA - Eduardo Bolsonaro, nos EUA: sonho de disputar o Planalto
ALTERNATIVA - Eduardo Bolsonaro, nos EUA: sonho de disputar o Planalto (@bolsonarosp/Instagram)

Mesmo condenado à prisão e inelegível, Bolsonaro ainda tem um capital político que não pode ser desprezado por qualquer um que queira desafiar Lula. A última pesquisa presidencial, feita pela CNT/MDA entre os dias 3 e 6 de setembro — portanto, já com o julgamento em andamento e captando a movimentação de Tarcísio —, mostrava o ex-presidente com 37,7% das intenções de voto ante 45,7% de Lula. Os governadores Tarcísio (37,6% a 43,9%) e Ratinho (36,7% a 43,4%) têm índices muito parecidos com os de Bolsonaro, enquanto Caiado e Zema chegam a 30% dos votos e se mostram menos competitivos. A ausência de Bolsonaro nas urnas, cada vez mais consolidada, abre oficialmente a disputa pelo bastão da direita. Tarcísio mostrou que está a fim de ir para o jogo, mas terá ainda uma longa batalha pela frente.

Publicado em VEJA de 12 de setembro de 2025, edição nº 2961

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