“Estou envergonhado”, diz candidato que gastou verba eleitoral com cerveja
Claudinei Rodrigues dos Santos, que tentou ser deputado federal pelo PSOL em Sergipe, se diz arrependido do que fez
O senhor gastou mesmo todo o dinheiro com cerveja? Boa parte, sim. Gastei também com combustível e com uma música que fiz para a campanha. Tenho um carro de som e produzi um jingle para que um cantor, amigo meu, divulgasse a candidatura. Não sabia que seria prejudicado por comprar cerveja. Eu chegava ao meu povoado e meus amigos estavam bebendo. Eles diziam: “Pague uma cervejinha aí”. Não foi compra de voto. Eu também bebi. Paguei inocentemente. Tive 376 votos gastando 1 904,68 reais. Perdi para um candidato que é cunhado de um prefeito. Eu me senti um herói e fui comemorar. Tomei mais uma cervejinha.
O vídeo em que confessa ter gastado a verba com cerveja teve milhares de visualizações. Por que resolveu gravá-lo? Quando recebi a notificação da Justiça, fiquei muito nervoso. Não tenho como prestar contas, pois os bares daqui não dão nota. Um amigo me disse para fazer um vídeo e me explicar. No dia seguinte, cheguei do trabalho e gravei. Mandei para um grupo de WhatsApp que tem só 27 pessoas, um grupo de resenha. Três minutos depois, eu me arrependi. Pedi a elas que não espalhassem, mas a situação ficou incontrolável. Se eu soubesse que seria assim, não teria gravado. Não fiz por gozação ao Ministério Público ou à Justiça Eleitoral.
Como vai devolver a verba? Meus amigos me aconselharam a fazer uma campanha para arrecadar o dinheiro. Estou desempregado, ajudo minha mãe em seu bar. Ela tem 64 anos, vendemos galetos. O carro de som que usei na campanha está parado na oficina. Poderia servir para levantar a grana, mas não tenho dinheiro para o conserto. Quero resolver a situação. Se errei, preciso pagar, porém ainda não sei como fazer isso. Pensei em gravar outro vídeo, mas estou com medo de que isso cause mais confusão.
Qual motivo o fez tentar a política? Eu já tinha me lançado como candidato a vereador nas eleições de 2016, mas desisti no meio do caminho. Desta vez, fui até o fim. Gosto de política e escolhi o cargo de deputado federal porque o povo está cansado de corrupção. Achei que tinha chance porque ouvia o discurso de renovação. A Câmara até se renovou, mas acho que poderia ter sido muito mais.
Por que escolheu se lançar pelo PSOL? Foi a legenda que me deu oportunidade. Eu já conhecia o candidato do partido ao governo do estado (Márcio Souza) e queria trazer o diretório do PSOL para Salgado, onde moro.
Pensa em se candidatar novamente? Na minha campanha, eu dizia que precisamos investir mais em saúde, educação e segurança. São minhas bandeiras. O dinheiro do fundo que sai do bolso do povo deveria servir para isso. Talvez eu concorra de novo a deputado federal, por que não?
Qual a sua cerveja predileta? Eu bebo todas, mas a que mais aprecio é a Schincariol. Não bebo todos os dias, só nos fins de semana. Aqui na minha cidade faz muito calor. Por isso, aos domingos, por exemplo, fico no bar vendendo os galetos e aproveito para tomar uma com meus amigos.
Publicado em VEJA de 2 de outubro de 2019, edição nº 2654