Política

Choque com PL do Ceará escancara rancor de líderes da direita com Michelle

Indisposição com a esposa de Jair Bolsonaro, que tenta exercer voz de comando sobre chapas para 2026, vai muito além de uma divergência local

Por Nicholas Shores SEGUIR SEGUINDO 1 dez 2025, 16h33

Michelle Bolsonaro ao lado do senador Eduardo Girão (Novo-CE), em evento de lançamento da pré-candidatura dele ao governo do Ceará, realizado em Fortaleza no domingo, 30 (Redes sociais/Reprodução)

O choque de Michelle Bolsonaro com o presidente do PL no Ceará, deputado federal André Fernandes, escancarou o rancor que os irmãos Flávio, Carlos, Eduardo e Jair Renan Bolsonaro e lideranças da direita em geral nutrem pela conduta da ex-primeira-dama na política.

A indisposição com a esposa de Jair Bolsonaro, que é presidente do PL Mulher e tenta fazer uso do capital político do marido para exercer voz de comando na definição de chapas para as eleições de 2026, vai muito além de uma divergência local.

Lideranças da direita comentam entre si que o episódio no Ceará teria feito cair a “máscara” de Michelle, que estaria se comportando da maneira que pede para bolsonaristas evitarem – ou seja, provocando desunião entre aliados rumo a uma eleição contra Lula para a qual a oposição ainda não tem um candidato ungido pelo ex-presidente.

Há contendas entre Michelle e caciques bolsonaristas também em relação às chapas e alianças em Santa Catarina, onde Carlos Bolsonaro pretende se candidatar a senador; em São Paulo, onde a ex-primeira-dama tenta emplacar a deputada Rosana Valle (PL) para o Senado; e no Distrito Federal.

Repreendida pelos irmãos Flávio e Carlos depois da queixa pública sobre as costuras de André Fernandes com Ciro Gomes (PSDB), a ex-primeira-dama perdeu cacife na disputa interna pela condição de representante da família Bolsonaro nas urnas e pelo espólio eleitoral do capitão, preso na superintendência da PF em Brasília.

Continua após a publicidade

Além de escancarar a indisposição no campo da direita com sua forma de fazer política, considerada “desrespeitosa com tudo e todos”, a conduta de Michelle teve o efeito colateral de unir ainda mais os quatro irmãos Bolsonaro, avalia um interlocutor da família. Sua única filha com o ex-presidente é Laura, de quinze anos.

Um senador bolsonarista recorre a uma analogia popular do campo conservador para ilustrar a situação. “A Michelle tenta fazer fora de casa o que ela faz dentro de casa. O presidente Bolsonaro atura para não brigar com a esposa, só que o resto não tem essa obrigação”, diz o parlamentar, reservadamente.