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Carta ao Leitor: A marca dos 100 dias

Em vez de se empenhar em diminuir as tensões no início do mandato, Lula tem contribuído pessoalmente para acirrá-las

Por Redação Atualizado em 4 jun 2024, 11h07 - Publicado em 31 mar 2023, 06h00

Evidentemente, a marca dos 100 dias é um período exíguo para avaliar um governo, mas suficiente para fornecer pistas concretas sobre o que ele se propõe a fazer nos próximos quatro anos. Em seus primeiros 100 dias, Jair Bolsonaro já havia demitido um ministro, as relações com o Legislativo e o Judiciário começavam a se esgarçar e 30% dos brasileiros consideravam o governo ruim ou péssimo — um recorde de rejeição, e um ano antes da eclosão da pandemia de Covid-19, espelho para a faceta mais constrangedora e irresponsável do mandachuva radical. Contudo, o ex-presidente cortou despesas, encaminhou ao Congresso a reforma da Previdência e deu continuidade a projetos relevantes iniciados na gestão anterior, de Michel Temer. Próximo da marca simbólica, Lula prepara uma pomposa solenidade para anunciar o balanço dos seus meses iniciais no Planalto. Ele dará destaque a programas como Bolsa Família, Minha Casa, Minha Vida e aos renascidos Mais Médicos e PAC — todos, como se sabe, testados nas administrações petistas de passado recente. Repaginados, serão apresentados como demonstração de que o governo cumpriu o compromisso assumido com os mais pobres, e que não pode ser negligenciado. Embora seja falho no quesito criatividade e ignore os novos problemas do país, é um começo interessante de trabalho.

Na campanha, Lula também pregou a pacificação e prometeu que, se eleito, governaria para todos, deixando de lado as rixas e os efeitos deletérios da perversa polarização. Sessenta milhões de eleitores acreditaram nele. Não há, por enquanto, sinais de que essa promessa seja implementada. Pelo contrário. Em vez de se empenhar em diminuir as tensões, desejo declarado pela maioria dos brasileiros em pesquisa recente, o presidente tem contribuído pessoalmente para acirrá-las, ora provocando os adversários, ora deixando escapar ressentimentos pretéritos. Neste início de mandato, Lula tem se comportado de maneira irascível e reagido mal quando algum assessor ousa criticá-lo. Esses arroubos preocupam a equipe encarregada de zelar pela imagem do presidente, que vem identificando uma perda de apoio em faixas da população que estavam cansadas de Bolsonaro, mas que, mesmo com severas críticas a Lula, votaram nele, em nome de estabilidade. O espírito revanchista demonstrado até aqui, voltado para a própria bolha, infelizmente vai na contramão dessa direção.

A questão, já apontada por alguns analistas, é que Lula hoje tem poucos conselheiros de peso ao seu redor. Nas outras duas gestões, havia ao seu lado uma espécie de estado-maior — petistas históricos que ascenderam com ele ao poder e tinham intimidade suficiente para contrariar o chefe. Esse grupo não existe mais. O resultado é que, sem freios, o presidente tem falado o que lhe vem à cabeça, provocando turbulências desnecessárias, especialmente no terreno da economia. É postura absolutamente estranha para alguém que já viveu a experiência de ser criticado pelo radicalismo e superou essa imagem com extrema habilidade política. Rancor, demonstrações de ódio e expectativa de vingança não combinam com a figura de um estadista — e muito menos com os desafios que o Brasil tem pela frente. O país precisa urgentemente de união e de um plano concreto para retomar o crescimento e melhorar a vida da população. Cem dias, vale ressaltar, é pouco tempo para alcançar conclusões. Mas um dado é certo: não houve nem paz nem amor nesse período.

Publicado em VEJA de 5 de abril de 2023, edição nº 2835

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