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Carta ao Leitor: Um grito de retrocesso

Bolsonaro, que aparece atrás de Lula nas pesquisas, parece estar disposto a dobrar a aposta de cunho autoritário no 7 de Setembro deste ano

Por Redação Atualizado em 4 jun 2024, 11h20 - Publicado em 29 jul 2022, 06h00
ÀS MARGENS DO IPIRANGA - A tela de Pedro Américo, e Bolsonaro no 7 de Setembro do ano passado: discurso insensato para alimentar a polarização -
ÀS MARGENS DO IPIRANGA – A tela de Pedro Américo, e Bolsonaro no 7 de Setembro do ano passado: discurso insensato para alimentar a polarização – (Marcelo Camargo/Agência Brasil)

Há 200 anos, dom Pedro ergueu a voz às margens do enlameado riacho do Ipiranga, em São Paulo, para declarar que o Brasil, enfim, estava livre de Portugal. Naquele 7 de setembro de 1822, a independência da Coroa do governo de ultramar representou um extraordinário avanço histórico e o início da ideia de nação que seríamos — com sobressaltos, como convém a toda reviravolta política e aos movimentos de libertação. José Bonifácio de Andrada e Silva, o ministro do Reino e dos Negócios Estrangeiros, braço direito do príncipe regente, personagem fundamental da revolta contra Lisboa, ajudaria logo em seguida a montar a Assembleia Constituinte de 1823. Ele mesmo, contudo, acabaria sendo forçado ao exílio, pressionado pelo imperador recém-empossado, desgostoso com os passos firmes de Bonifácio pela formação de uma monarquia constitucional e pelo fim da chaga da escravidão. Não seria, portanto, uma transição calma, de estrada única e unânime. Mas o Brasil, apesar de tudo, tinha dado o maior de seus passos.

Desde então, o 7 de Setembro, a mais destacada de nossas datas cívicas — ainda que nunca tenha tido a relevância festiva da celebração da independência de outras nações das Américas —, virou marco para o registro da autossuficiência e força do país. Na democracia, foi símbolo de resgate dos direitos do povo. No tempo da ditadura, serviu como celebração militar. Até que, na Presidência de Jair Bolsonaro, se transformou em comédia, não fosse trágico, em evidente gesto de afronta às instituições. No ano passado, ele foi à rua para soltar diatribes contra o Supremo Tribunal Federal, chamou o ministro Alexandre de Moraes de “canalha” e aproveitou para bater na estúpida tecla de sempre, contra as urnas eletrônicas. Disparou suas estultices à frente de tanques de guerra, em desfile tosco.

Agora, em 2022, Bolsonaro, que aparece atrás de Lula nas pesquisas de opinião pública para as eleições de outubro, e com reais chances de derrota, parece estar disposto a dobrar a aposta de cunho autoritário. Na cerimônia de lançamento de sua candidatura à reeleição, no ginásio do Maracanãzinho, no domingo 24, ele foi claríssimo em suas intenções, ecoadas pelas milícias eletrônicas que propagam suas ideias pelas redes sociais, usando expressões como “ revolução” e “ guerra civil”. Disse Bolsonaro: “Nós somos a maioria, somos do bem, temos disposição para lutar pela nossa liberdade, pela nossa pátria. Convoco todos vocês agora para que todo mundo, no 7 de Setembro, vá às ruas pela última vez. Estes poucos surdos de capa preta têm que entender o que é a voz do povo”.

Ao presidente, caberia nesse momento defender as conquistas de seu governo e os argumentos que podem fazer com que o eleitorado o escolha. Alimentar a polarização (“somos do bem”, em exagerado mimetismo do “nós contra eles” do PT), sem freio algum, é o contrário do momento simbólico registrado em 1822 no brado às margens plácidas. Busca­va-se, ali, aos trancos e barrancos, o caminho do progresso. Ao utilizar essa retórica de guerra, o presidente parece querer trilhar a direção contrária, berrando barbaridades que, se implementadas, nos levarão a um terrível atraso. Cabe pedir sensatez e torcer para que as forças republicanas não autorizem esse retrocesso vergonhoso que pode culminar num sério abalo, ou talvez na morte, da nossa democracia.

Publicado em VEJA de 3 de agosto de 2022, edição nº 2800

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