Carta ao Leitor: A disputa no terreno digital
A batalha nas redes pode ser determinante para definir quem será o próximo presidente da República
Orçamentos milionários, tempo de sobra na propaganda gratuita da TV, marqueteiros consagrados e vídeos caprichados utilizando as melhores técnicas da linguagem publicitária. A receita incluía ainda poses testadas em exaustivas pesquisas internas e um script decorado sob medida para ir ao encontro de corações e mentes dos eleitores. Parecia não haver outra forma de pavimentar o caminho de um postulante rumo ao Palácio do Planalto sem fazer uso desses recursos. Até que veio a disputa presidencial de 2018. O triunfo do azarão Jair Bolsonaro não apenas contrariou todas as expectativas; representou também um divisor de águas na história do marketing político brasileiro. O capitão foi o primeiro a obter um êxito nessa escala priorizando as plataformas digitais. À base de selfies com os eleitores em cada cidade visitada, vídeos espalhados por grupos de WhatsApp e posts em redes como o antigo Twitter, atual X (incluindo fake news e golpes baixos contra os adversários), ele foi ganhando visibilidade, tendo como principal arma um celular na mão.
Ficou comprovada nesse episódio a força dos meios digitais, e nenhuma campanha mais é feita sem um grande e profissional investimento na área. Com a aproximação do pleito presidencial de 2026, a batalha na internet tende a se tornar cada vez mais feroz. Nos últimos anos, a direita vinha dominando completamente esse campo, puxada pela força do ex-presidente, da ex-primeira-dama Michelle e dos filhos Flávio, Eduardo e Carlos Bolsonaro. A isso se somou a popularidade de parlamentares como o deputado Nikolas Ferreira. Ciente da superioridade dos rivais, a esquerda começou a se movimentar para tentar reduzir a desvantagem. De olho na reeleição em 2026, o presidente Lula deu a Sidônio Palmeira, titular da Secretaria de Comunicação do Planalto, a missão de priorizar investimentos para melhorar a propaganda digital do governo. Segundo um levantamento inédito, tema de reportagem desta edição, o esforço tem dado resultado. Uma pesquisa da Nexus, da FSB Holding, mostra que o petista ganhou mais espaço que seus adversários diretos nas redes entre janeiro e julho deste ano.
Esse avanço está longe de representar vitória, vale ressaltar. A família Bolsonaro segue com muita força e o governador paulista, Tarcísio de Freitas, possível candidato da oposição, já possui um patrimônio digital digno de respeito. Há também outras medições do comportamento das redes, com metodologias diferentes, mostrando que a recuperação de Lula no período pesquisado pela Nexus não foi suficiente para encurtar substancialmente a distância entre direita e esquerda. De acordo com alguns estudos, quase metade dos eleitores toma sua decisão de voto acompanhando esses conteúdos. Por isso, a batalha nas redes pode ser determinante para definir quem será o próximo presidente da República.
Publicado em VEJA de 24 de outubro de 2025, edição nº 2967
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