Carlos é ‘doido’ e ‘radical’ e Eduardo Bolsonaro é ‘deslumbrado’, diz Maia
Em entrevista ao 'BuzzFeed', presidente da Câmara afirma que Jair Bolsonaro está por trás dos arroubos digitais do filho, que tem atacado o vice-presidente
O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), disse em entrevista ao site BuzzFeed, publicada nesta sexta-feira, 26, ter “convicção” de que o presidente Jair Bolsonaro está por trás dos arroubos digitais de seu filho Carlos Bolsonaro (PSC), classificado por Maia como “doido” e “radical”. Nos últimos dias, Carlos tem usado seu perfil no Twitter para fazer sucessivos ataques ao vice-presidente, Hamilton Mourão, acusando-o de conspirar para tomar o lugar do pai.
“Ninguém fica preocupado com Carlos, todo mundo tem convicção de que o Bolsonaro é que comanda isso. E eu não acredito, e ninguém acredita mais, que é o Carlos que comanda esse jogo”, disse Maia, que atua como um dos principais articuladores da reforma da Previdência na Câmara.
O deputado lembrou o polêmico tuíte com cenas pornográficas publicado na conta do próprio Jair Bolsonaro durante o Carnaval e o atribuiu a Carlos, que tem livre acesso às contas do presidente nas redes sociais. “Alguém coloca aquilo do golden shower sem o pai ver? O filho pode ser doido à vontade, mas num negócio daquela loucura só com autorização do dono da conta”, disse Rodrigo Maia.
Sobre o impacto dos ataques de Carlos Bolsonaro a Mourão no governo, Maia disse que “não atrapalha muito, não” e que “para quem está aqui perto, todo mundo sabe que é uma briga idiota”. Ele ponderou, no entanto, que entre investidores pode haver reflexos negativos. “Quem vai investir no país e vê o filho do presidente batendo no vice questiona isso. Acho que pode gerar insegurança em alguns atores que estão mais distantes”, afirmou.
Questionado sobre se imaginava que um vereador do Rio de Janeiro, como Carlos, poderia criar crises de amplitude nacional, Rodrigo Maia se limitou a responder que “o filho do presidente é um radical”.
O presidente da Câmara ainda comentou o fato de Jair Bolsonaro ter estimulado a candidatura de Carlos à Câmara Municipal do Rio em 2000, quando o vereador tinha apenas 17 anos, em uma eleição na qual teve como candidata a própria mãe, Rogéria Nantes.
“O Bolsonaro colocou o filho com 17 anos para disputar contra a própria mãe desse filho. Ele derrotou a mãe para vereador. Isso deve ser normal na cabeça de um ser humano? Derrotar uma mãe com 17 anos? Isso deve ter gerado muito problema na cabeça do Carlos. A informação que eu tenho, apenas de ouvir falar, é que eles ficaram sete anos sem se falar, ele e o pai”, afirmou Maia.
Ele ainda questionou o fato de o presidente atribuir sua vitória eleitoral em 2018 à atuação de Carlos Bolsonaro nas redes sociais. Bolsonaro diz com frequência que o filho deveria ser ministro e foi o responsável por ter virado presidente. “O que influenciou muito a eleição foi a facada que quase o matou. Se Bolsonaro achar que foi a internet que elegeu ele…”, avaliou.
Rodrigo Maia também comentou a atuação do deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), que tem influência no Ministério das Relações Exteriores comandado pelo chanceler Ernesto Araújo. Maia classifica a política externa do governo Bolsonaro como “loucura” e afirma que Eduardo “não era nada, era um deputado do baixíssimo clero” da Câmara e agora está deslumbrado com o poder.
“Ele não era nada, era um deputado do baixíssimo clero, o pai vira presidente, ele passa a ser chamado pela equipe do Trump, pela equipe de não sei o quê… Um pouquinho de vaidade é um direito, não é? Não vamos exagerar também, achar que ele não pode ter um momento de deslumbramento. Quem é que nunca teve? Quando eu ganhei minha primeira eleição para presidente da Câmara eu também tive. Todo mundo tem, mas com o tempo você vai vendo que isso ai tudo é passageiro”, disse. “Não foram eles que fizeram o ministro [Ernesto Araújo]? Eles que comandam o ministro, a agenda deles é a mesma, essa loucura aí…”, completou.
A respeito da influência de Olavo de Carvalho na chamada “ala ideológica” do governo, Rodrigo Maia disse entender que vê “influência demais” do guru na agenda do presidente, mas que “ele [Olavo] vai perder relevância”.
Questionado se a ala militar do governo ganharia com a diminuição da influência do escritor radicado nos EUA, Maia respondeu que “os militares ganham e o governo ganha na relação com a política, porque sai esse ambiente de radicalismo e de grosseria desse cara [Olavo] e do entorno dele”.
Reforma da Previdência
Na entrevista, Rodrigo Maia avaliou que a articulação política do governo pela reforma da Previdência “melhorou muito” depois que, nas palavras de Maia, o ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, antes “meio acanhado”, “compreendeu que se ele não fizer articulação ele vai cair”. “Ele está começando a mudar. Estou dizendo. O Onyx está conversando mais, estive com o Onyx três dias seguidos. Ele dizendo que quer construir junto, construir o processo eleitoral de 2020 junto com todo mundo. E isso vai acalmando todo mundo”, declarou.
O presidente da Câmara classificou o líder do governo na Casa, o novato Major Vitor Hugo (PSL-GO), como “muito fraquinho” e que sua atuação “dá dó”. “[Vitor Hugo] Faz a antipolítica achando que o Bolsonaro vai ficar feliz porque ele está fazendo a antipolítica. E ao mesmo tempo ele quer ser articulador político, o que cria uma confusão na cabeça das pessoas”, avaliou.
Maia disse ainda que “não dá para dizer quantos votos” a reforma tem hoje no plenário da Câmara, mas que “está longe” dos 308 necessários. Questionado sobre se a proposta, em tramitação em uma comissão especial que terá quarenta sessões para analisá-la, será aprovada ainda no primeiro semestre, o deputado respondeu que “parece que está apertado”. “Mas são só duas semanas de recesso, tanto faz metade de julho ou início de agosto… Isso não é o mais importante, o mais importante é aprovar. Um mês, um mês e meio a mais ou a menos não vai tirar pedaço de ninguém”, afirmou.