Bolsonaro x Globo: a guerra que não aconteceu
Estrategistas da campanha prepararam o presidente a reagir se fosse questionado sobre temas como a rachadinha e os cheques para a primeira-dama
A postura menos beligerante do presidente Jair Bolsonaro durante os 40 minutos de entrevista ao Jornal Nacional, na última segunda-feira, 22, deixou na gaveta uma série de provocações que o presidente havia se preparado para fazer caso alguns temas fossem abordados na sabatina.
Antes de sentar-se frente a frente com os jornalistas William Bonner e Renata Vasconcellos, o presidente e sua equipe fizeram uma verdadeira varredura em questões internas da TV Globo relativas a transparência, composição do Conselho de Administração e acusações já antigas feitas contra a emissora.
A ideia era utilizar o arsenal quando questionado sobre assuntos considerados sensíveis e espinhosos ao presidente – e responder com ataques diretos às organizações, de modo a repetir a performance de 2018, quando Bolsonaro questionou, por exemplo, uma suposta diferença salarial entre Bonner e Renata e o apoio da emissora ao golpe militar de 1964.
Havia respostas para os cheques depositados pelo assessor Fabrício Queiroz na conta da primeira-dama, Michelle Bolsonaro, para as acusações de rachadinha no gabinete do filho e coordenador da campanha, Flávio Bolsonaro, e também sobre declarações consideradas racistas e misóginas feitas pelo presidente.
Não à toa, em uma clara provocação, o candidato à reeleição escreveu em sua mão o nome de Dario Messer, doleiro que, em delação premiada, afirmou que fazia repasses de dólares em espécie para a família Marinho – o que é negado pelo comando da emissora.
Aliados de Bolsonaro que acompanharam diretamente o “plano de ataque” dizem que também fazia parte da estratégia uma defesa de Queiroz, assessor outrora mantido em esconderijo, e até a divulgação da campanha dele a deputado federal.
No fim das contas, os temas não foram abordados, e houve um alívio entre os aliados do presidente que temiam que, apesar do treinamento prévio, Bolsonaro pudesse acabar se irritando e, no limite, chegar a deixar a bancada antes do fim da sabatina.