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Bolsonaro, Valdemar e a troca de caneladas da direita em Campo Grande

Ex-presidente surpreende ao fazer o PL apoiar o PSDB e cria uma saia justa com aliados históricos do PP, como Tereza Cristina e Ciro Nogueira

Por Laísa Dall'Agnol Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO 20 jul 2024, 08h00

Uma das capitais mais jovens do país, Campo Grande, em Mato Grosso do Sul (criado em 1977), não é frequentemente lembrada no noticiário nacional. Com a aproximação da sucessão municipal, no entanto, uma movimentação que envolve alguns dos maiores caciques nacionais colocou a cidade no mapa da confusão eleitoral. A disputa pela prefeitura virou palco para uma troca de caneladas entre partidos à direita, em especial o PP e o PL, e criou uma saia justa entre aliados históricos, como o ex-­presidente Jair Bolsonaro e a senadora e sua ex-ministra Tereza Cristina, que tem reduto eleitoral no estado, e dois chefes de partidos, Valdemar Costa Neto (PL) e Ciro Nogueira (PP).

O pano de fundo da encrenca é um movimento inusual feito pelo partido de Bolsonaro. Inicialmente fechado com a prefeita Adriane Lopes (PP), o PL abandonou a empreitada e se aliou ao PSDB, sigla que nacionalmente não figura na órbita de aliados preferenciais do bolsonarismo. Em 2022, o tucanato liberou seus diretórios para apoiar Lula ou Bolsonaro, mas os principais líderes tucanos, como FHC, José Serra, Tasso Jereissati e Eduardo Leite, apoiaram o petista. Já o PP é um aliado tradicional e fez parte da trinca que caminhou ao lado de Bolsonaro na campanha presidencial, com PL e Republicanos. Mais do que isso, o PP ocupou espaços importantes no governo do ex-presidente, com a Casa Civil chefiada por Ciro e a Agricultura comandada por Tereza Cristina.

ESTRATÉGIA - Valdemar: cacique diz que acordo foi firmado por ex-presidente e que o horizonte é 2026
ESTRATÉGIA - Valdemar: cacique diz que acordo foi firmado por ex-presidente e que o horizonte é 2026 (Beto Barata/PL//)

O apoio do PL, sacramentado por Bolsonaro, ao candidato tucano, Beto Pereira, desencadeou o curto-circuito na direita. A movimentação enfureceu o deputado Marcos Pollon, que publicou um vídeo em que diz que jamais apoiaria um tucano e lançando-se pré-­candidato à prefeitura. O arroubo teve reação imediata: ele foi afastado por Valdemar do comando estadual da sigla, da qual pode se desfiliar por ter se sentido traído. Tereza e Ciro também não gostaram e foram até Brasília para dizer isso pessoalmente a Bolsonaro na sede do PL na semana passada — o encontro terminou com sorrisos amarelos para fotos e promessas de que não haveria nenhum rancor, mas o ex-presidente avisou que não abandonaria o acordo com o PSDB. Tereza Cristina, que em 2022 foi preterida na escolha do vice por Bolsonaro, que preferiu o general Braga Netto, não está contente. “Tínhamos a nossa aliança, mas são estratégias partidárias do PL, sobre as quais não tenho interferência”, diz.

A lógica do acordo pode ser explicada pelo fato de Mato Grosso do Sul ser considerado hoje um “tucanistão”. O partido comanda nada menos que 51 dos 79 municípios do estado, que é administrado pelo tucano Eduardo Riedel. A aliança, que atende ao interesse do PL de fazer o maior número de prefeitos e vereadores, foi firmada com Reinaldo Azambuja, ex-governador por dois mandatos e cotado para uma vaga ao Senado em 2026 — não pelo PSDB, mas pelo PL. “O Bolsonaro é quem tem escolhido os candidatos nas principais capitais, e eu aceitei”, diz Valdemar. “Com isso, o ex-­presidente convidou o Azambuja a vir para o PL. Estamos negociando.” O alto tucanato desconfia. “Não vejo a possibilidade de o Azambuja ir para o PL. Ele é muito enraizado no partido, é tucano histórico, presidente do PSDB estadual e secretário-geral da legenda”, diz Marconi Perillo, presidente nacional da sigla. “A verdade é que o PSDB está se desintegrando, e o Azambuja é um tucano que não quer ficar sem galho em 2026”, avalia um importante político local.

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ESTRANHO NO NINHO - Azambuja, Pereira e Riedel: tucanos terão vice do PL
ESTRANHO NO NINHO - Azambuja, Pereira e Riedel: tucanos terão vice do PL (//Divulgação)

O surpreendente imbróglio entre PP e PL rachou a direita na cidade. Além da prefeita do PP e de Beto Pereira, que terá um vice do PL, está na corrida a ex-deputada Rose Modesto (União Brasil), ex-vice de Azambuja, que é quem lidera as pesquisas. O arco de alianças em torno de Pereira, aliás, vai alinhar do mesmo lado de Bolsonaro políticos do MDB da ministra Simone Tebet (que é do estado) e do Podemos, da senadora Soraya Thro­nicke, que virou um dos desafetos do bolsonarismo em 2022. A divisão pode favorecer a única candidata de esquerda, a deputada Camila Jara (PT), que terá como vice um nome bem tradicional no estado: Zeca do PT, governador por dois mandatos.

Está certo que a política no Brasil é conhecida por produzir malabarismos, principalmente em ano eleitoral, mas não é preciso voltar muito no tempo para achar estranha a aproximação entre Bolsonaro e PSDB. Em dezembro, quando consolidou a retomada de seu protagonismo no ninho tucano, Aécio Neves foi categórico ao dizer que a prioridade era acabar com a polarização entre PT e bolsonarismo. “Existe vida inteligente entre esses extremos, e o PSDB tem a responsabilidade de liderar um novo caminho”, disse em entrevista a VEJA. O novo PSDB, porém, chamou de “natural” a aliança com Bolsonaro em um dos estados que governa (os outros são Rio Grande do Sul e Pernambuco). Os antigos aliados do ex-presidente, como se vê, não acharam tão natural assim.

Publicado em VEJA de 19 de julho de 2024, edição nº 2902

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