Bolsonaro termina 2021 em dificuldade, mas não está derrotado
Apesar da impopularidade, presidente avançou na aliança com o Centrão e aprovou medidas capazes de fortalecer seu projeto de reeleição

Jair Bolsonaro (PL) termina o ano em situação desconfortável. Segundo as pesquisas, seu governo é considerado ruim ou péssimo por mais da metade da população — 53% no Datafolha e 54% no Ipespe. Em intenções de voto para a Presidência da República, ele aparece em segundo lugar, mais de 20 pontos percentuais atrás do ex-presidente Lula (PT), por quem seria derrotado com folga no segundo turno. O ex-capitão ainda lidera em rejeição, com um percentual que varia, conforme diferentes levantamentos, de 55% a 64%.
Apesar do evidente derretimento de sua imagem, decorrente dos problemas econômicos e dos desatinos que não cansa de cometer, como a insistência na postura negacionista em relação à pandemia de Covid-19, Bolsonaro conseguiu recentemente avanços importantes em termos políticos e eleitorais, que têm potencial não apenas para mantê-lo competitivo como para dar tração à sua campanha à reeleição. Essas conquistas se deram principalmente na relação com os partidos e o Congresso.
Ao se filiar ao PL, o presidente deu mais um passo para formar uma coligação em 2022 que reúna a nata do Centrão, que incluiu ainda o PP do ministro Ciro Nogueira (Casa Civil) e o Republicanos do ministro João Roma (Cidadania). Essa aliança, que hoje parece encaminhada, dará a Bolsonaro fatias da propaganda eleitoral na TV e de recursos públicos comparáveis às do PT, além de lhe garantir uma campanha com capilaridade pelo país. Esses ativos são considerados fundamentais, já que, ao contrário de 2018, ninguém acredita — nem mesmo os bolsonaristas — que o mandatário terá chance de se reeleger recorrendo apenas a suas milícias digitais.
Com o apoio do Centrão, o presidente também conseguiu aprovar medidas legislativas capazes de turbinar seu projeto eleitoral. Uma delas foi a indicação do pastor presbiteriano André Mendonça para o cargo de ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), que contemplou os evangélicos, uma das principais bases de apoio ao presidente. O senador Flávio Bolsonaro, por exemplo, considera essa a maior vitória política do governo. Outra medida importante foi a aprovação da PEC dos Precatórios.
Com o projeto, Bolsonaro conseguiu recursos para bancar o Auxílio Brasil, programa que promete distribuir uma média de 400 reais para 17 milhões de famílias e no qual o governo deposita suas esperanças de recuperar popularidade entre os mais pobres. A PEC também viabilizou a inclusão no Orçamento de 2022 de 16,5 bilhões de reais em emendas de relator. Desde 2019, essa rubrica é usada pelo presidente, em acordo com o Centrão, para distribuir verbas a aliados e seus respectivos berços eleitorais nos municípios. Bolsonaro aposta que esses recursos, com os quais a oposição não conta, funcionarão como uma vantagem competitiva na busca por votos.
Mesmo acuado, o presidente ainda conta com o apoio de cerca de 20% da população. Parece pouco, mas até aqui tem sido suficiente para ele resistir à ofensiva da chamada terceira via e manter sua posição num eventual segundo turno protegida. “A partir do Auxílio Brasil, o presidente pode ter uma subida interessante nas intenções de votos. É só ele querer e saber usar outra linguagem que não seja a de quartel ou de valores”, diz o publicitário Elsinho Mouco, que trabalha com o ex-presidente Michel Temer e foi sondado para comandar a propaganda eleitoral de Bolsonaro.
Apesar da crise econômica e a perda de popularidade, Bolsonaro conseguiu no fim de 2021 colher vitórias no Legislativo que podem dar fôlego à sua recuperação. O presidente está nas cordas, como mostram as pesquisas, mas até petistas admitem que ele não está derrotado.