Bolsonaro quer poder sobre dinheiro e diretórios do PSL
Nas negociações, presidente tenta dividir domínio com Luciano Bivar, fundador do partido
Reportagem de VEJA desta semana mostra que o presidente Jair Bolsonaro tentou, durante as negociações para voltar ao PSL, expulsar alguns parlamentares considerados inimigos como condição para o retorno. Entre os alvos do expurgo estão o senador Major Olímpio e os deputados Joice Hasselmann, Junior Bozzella e Julian Lemos. Neste sábado, Lemos reagiu à investida e disse ser parte da solução, e não um problema para resolver o imbróglio entre o PSL e o presidente. “Jair Bolsonaro jamais desceria a um nível tão baixo”, afirmou.
As negociações, porém, vão além da tentativa de retaliação aos adversários. Sem conseguir tirar do papel o Aliança pelo Brasil, o partido ao qual comandaria, o presidente da República tenta resgatar um projeto que lhe dá poder, dinheiro e voz dentro do PSL. O documento foi rascunhado ainda no ano passado como uma alternativa para que Bolsonaro não deixasse a legenda, e teve entre seus principais artífices o deputado Filipe Barros (PSL-PR) e o vice-presidente do PSL, Antônio Rueda.
O texto prevê mudanças no estatuto que colocariam Bolsonaro em pé de igualdade com o presidente e fundador do PSL, deputado Luciano Bivar. Entre as medidas, está a previsão de que caberiam a Bolsonaro e a Bivar prerrogativas como a distribuição de recursos dos fundos partidário e eleitoral – cujos valores são milionários – e a definição dos diretórios estaduais, além de estabelecer a criação de um conselho justamente para definir a necessidade de uma tomada conjunta de decisões.
O acordo de partilha de poder ia na direção do plano de Bolsonaro de ter alguma ingerência sobre o PSL, já que desde o ano passado o presidente tentava interferir nos comandos estaduais do partido e direcionar verbas para seus apoiadores mais próximos. Em busca de diferenciar os parlamentares “bolsonaristas” dentro da legenda, também se chegou a aventar a criação de um corrente dentro do próprio PSL, chamada de Aliança Liberal Conservadora. Já havia inclusive uma logomarca para diferenciar o grupo internamente. Todo o projeto, porém, acabou rechaçado pela equipe jurídica do presidente, que o convenceu a se empenhar na fundação do Aliança e a deter total domínio de seu partido.
Ao ver a criação do Aliança afundando, porém, Bolsonaro sugeriu retornar a primeira etapa das negociações, de modo a se abrigar em um partido que, na prática, lhe dê poderes de um cacique partidário. A reaproximação, como se vê, já começa de forma conturbada e provoca contrariedade entre uma ala do PSL. “Sobre a divisão de espaço, não há o que se negociar. Isso não foi e nem será um objeto de discussão. A briga se iniciou lá atrás porque queriam tomar o poder do Bivar, e não deixamos que isso acontecesse. Mesmo que volte a se filiar, vai ser mais um filiado que vai poder gozar de muitos privilégios para poder ser um candidato competitivo, vai estar em um partido genuinamente de direita, gozar de tempo de televisão e de fundo partidário. Já seria um ganho significativo sem criar mais nenhum ambiente de discórdia e desunião ou tentando tirar o lugar de alguém”, disse o deputado Junior Bozzella, vice-presidente do PSL, a VEJA neste sábado.
Além do PSL, o presidente negocia sua filiação com outras legendas, como o PTB e o Patriota, conforme ele próprio anunciou na última quarta-feira, durante reunião com aliados no Palácio da Alvorada. A decisão sobre seu futuro partidário, no entanto, só deve ser tomada no ano que vem.