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Bolsonaro, Queiroz e os casamentos de Adriano da Nóbrega

Mensagens colhidas na investigação da rachadinha detalharam um pouco da relação entre o clã presidencial e o ex-capitão acusado de chefiar milícia

Por Daniel Pereira 9 fev 2022, 14h44

Morto há dois anos em circunstâncias ainda não esclarecidas, Adriano Magalhães da Nóbrega gozava da confiança da família Bolsonaro. Antes de ser acusado pelo Ministério Público (MP) de integrar uma das mais temidas milícias do Rio de Janeiro, o ex-capitão do Bope, que mergulhou de vez no mundo do crime após ser expulso da Polícia Militar, foi homenageado pelo então deputado estadual Flávio Bolsonaro e chamado de heroi pelo então deputado federal Jair Bolsonaro. Pelas mãos de Fabrício Queiroz, o faz-tudo da família presidencial e operador da rachadinha, Adriano também empregou duas parentes no gabinete do Zero Um na Assembleia Legislativa do Rio: sua mãe, Raimunda Veras, e sua ex-mulher, Danielle Mendonça da Costa, ambas denunciadas à Justiça como integrantes do esquema da rachadinha.

Detalhes da relação de Adriano com Queiroz, de quem era amigo e ex-parceiro de rondas pela PM, e com o clã presidencial constam da apuração do MP do Rio. Um conjunto de mensagens captadas com autorização judicial mostra, por exemplo, Queiroz orientando Adriano e suas parentes sobre como proceder diante dos promotores. Outra troca de mensagens revela que a parceria funcional se desdobrava para outras áreas. Em dezembro de 2017, Queiroz escreve para Danielle dizendo que queria conversar com ela e lhe entregar o contracheque. “É conversa boa ou ruim”, respondeu a ex-mulher de Adriano.

Queiroz adianta o assunto: “Sobre o seu sobre nome (sic). Não querem correrem (sic) o risco, tendo em vista que estão concorrendo e visibilidade que estão”. No ano seguinte, Flávio Bolsonaro, em cujo gabinete Danielle estava empregada, venceria a eleição para o Senado. Já Jair Bolsonaro conquistaria a Presidência da República. “Eu disse que você está separada e está se divorciando”, acrescenta Queiroz. “Ah, entendi. Verdade, meu amigo”, responde Danielle. O diálogo virtual continua. “Vocês estão se divorciando?”, pergunta o operador. “Não. Continuamos casados. Separados de corpo”, esclarece Danielle, externando receio de que sua situação conjugal pudesse lhe trazer algum problema. “Estão fazendo um pente-fino nos funcionários e famílias dele”, retruca Queiroz.

Há uma extensa lista no escândalo da rachadinha de pontos à espera de esclarecimentos, dos quais se destacam por que — e a mando de quem — Queiroz recolhia os salários dos servidores e por que ele transferiu 89 000 reais para a primeira-dama Michelle Bolsonaro. No caso específico da vida amorosa de Adriano, Queiroz e sua turma já tinham elaborado uma versão para as mensagens. Ao pedir satisfação a Danielle, ele não estaria agindo em nome das futuras campanhas eleitorais dos Bolsonaros, como escreveu, mas para forçá-la a se divorciar de papel passado do ex-capitão. Só assim Adriano poderia se casar com Julia Mello Lotufo, com quem já vivia.

Quando foi demitida do gabinete de Flávio Bolsonaro, em 2018, Danielle pediu socorro ao ex-marido, lembrando que tinha contas a pagar. “Contava com o que vinha do seu tbm (sic)”, respondeu Adriano por mensagem. Num primeiro momento, ela seguiu as recomendações de Queiroz sobre como proceder em relação ao avanço das investigações. A ordem era ficar em silêncio. Com o tempo, afastou-se de Queiroz e Adriano e se recusou a receber novas instruções. Como os demais investigados no caso, Danielle foi beneficiada por decisões do Superior Tribunal de Justiça (STJ) que anularam as provas do esquema da rachadinha.

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As famílias de Adriano e Queiroz eram muito próximas. Duas reportagens de VEJA mostraram o grau de intimidade e parceria entre elas. Numa delas, contou-se que o ex-capitão do Bope pagou parte das despesas médicas de Queiroz no Hospital Albert Einstein. Noutra, revelou-se uma intensa troca de mensagens entre Raimunda Veras, a mãe de Adriano, e Márcia de Aguiar, esposa de Queiroz. A conversa deixava claro que Márcia não aguentava mais a situação do marido, que vivia escondido antes de ser encontrado e preso num imóvel de Frederick Wassef, advogado de Jair e Flávio Bolsonaro.

 

 

 

 

 

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