Bolsonaro lembra Pastor Everaldo e diz que apoio ‘não tem negociação’
No Rio, presidente insinuou que ex-aliado 'queria negociar alguma coisa' com Crivella, em 2016; religioso rebateu: "Meu caráter não permite"
O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) afirmou nesta segunda-feira, 20, ao lado do prefeito do Rio, Marcelo Crivella (Republicanos), pré-candidato à reeleição, que “quando quer apoiar alguém, não tem negociação”. Bolsonaro lembrou da campanha de 2016, quando ele ainda era filiado ao PSC, chefiado por Pastor Everaldo, hoje seu desafeto. Sem citar o nome do ex-aliado, o presidente disse “ter sentido” que, à época, o religioso da Assembleia de Deus “queria negociar alguma coisa” para se aliar a Crivella no segundo turno.
O evento ocorreu no Palácio da Cidade, em Botafogo, Zona Sul, com a presença de várias lideranças evangélicas, secretários municipais e deputados. Oficialmente, o encontro serviu para discutir a renegociação de dívidas da prefeitura com o BNDES e da liberação de dinheiro para obras da Transbrasil. Os jornalistas não puderam acompanhar. O presidente foi embora sem falar com a imprensa.
Em 2016, o então deputado estadual Flavio Bolsonaro disputou a Prefeitura do Rio pelo PSC. O hoje senador ficou apenas em quarto lugar atrás de Crivella, Marcelo Freixo (PSOL) e Pedro Paulo (então no MDB). Crivella e Freixo foram para o segundo turno. Segundo Bolsonaro, o atual prefeito e bispo licenciado da Igreja Universal “era a única opção”.
“Mas o presidente do meu antigo partido (PSC, Pastor Everaldo) pediu para esperar mais um pouco. Senti que ele queria negociar alguma coisa. Quando eu quero apoiar alguém, não tem negociação”, declarou Bolsonaro, segundo relatos de pessoas presentes no evento. Bolsonaro lembrou também que “decidiu sozinho” gravar um vídeo pedindo votos para Crivella. Eleito, o prefeito ofereceu a Secretaria de Ordem Pública a Bolsonaro, que não aceitou.
Bolsonaro brigou com Everaldo em 2017. O então deputado federal chegou a gravar um vídeo no qual ligava o pastor à Operação Lava Jato. Everaldo é atualmente o principal articulador político do governador Wilson Witzel (PSC) e um dos maiores incentivadores para que o aliado concorra à Presidência da República, em 2022. Um dos filhos de Bolsonaro, Carlos, porém, é vereador no Rio pelo PSC. Inimigos políticos, Bolsonaro e Witzel trocaram acusações em público.
Procurado por VEJA, Pastor Everaldo disse o seguinte:
“O meu caráter não me permite responder a isso. Jamais peço para negociar. Jamais! Com qualquer um que seja”.
Até o momento, Bolsonaro não declarou apoio a nenhum pré-candidato à eleição do Rio este ano. Crivella, por sua vez, insiste em colar sua imagem a do presidente. Os dois tiveram um encontro reservado no próprio Palácio da Cidade nesta segunda-feira. Como revelou VEJA no último dia 10, o prefeito tem reclamado de sua coordenação de pré-campanha, responsável por ainda não conseguir concretizar a dobradinha.
Em troca da aliança com Bolsonaro, Crivella abriu espaço no primeiro escalão do governo à família do presidente. Flávio Bolsonaro foi consultado antes da nomeação do ex-árbitro de futebol Gutemberg Fonseca como secretário de Ordem Pública, um aliado do parlamentar. No entanto, Flávio não bateu o martelo para qualquer acordo. A vaga de vice na chapa de Crivella também estava na mesa de negociações para o clã bolsonarista.
Em entrevista ao jornal “O Globo” no último dia 14, Flavio Bolsonaro admitiu estar conversando sobre um possível apoio da família do presidente ao deputado federal Otoni de Paula (PSC-RJ) para a prefeitura. O senador também explicou o motivo do pai não ter fechado aliança com Crivella:
“Realmente temos conversado com o Otoni. Ele tem um perfil religioso que o Bolsonaro gostaria para a prefeitura e tem se aproximado muito do meu pai, das nossas pautas. Também temos uma relação cordial com o prefeito Crivella, mas seu governo está muito mal avaliado”.