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Bivar faz nova revelação sobre Anderson Torres e a ‘minuta do golpe’

Ex-presidente do União Brasil relata em livro que ex-ministro da Justiça do governo Bolsonaro exibiu texto a dirigentes do partido

Por Laryssa Borges Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO , Hugo Marques Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 26 jul 2024, 13h02 - Publicado em 26 jul 2024, 06h00

No quarto mandato como deputado federal, Luciano Bivar (União Brasil-PE) sempre transitou abaixo do radar das principais decisões políticas do país. O auge de sua carreira se deu quando ele presidiu o partido que abrigou e elegeu Jair Bolsonaro em 2018. Na condição de cacique do PSL, o parlamentar acompanhou de perto os principais momentos da ascensão da direita ao poder e teve acesso como poucos aos bastidores do turbulento governo do capitão. Com o ex-presidente enroscado em investigações criminais que podem render-lhe anos de cadeia, Bivar se prepara agora para contar em livro experiências pessoais e episódios emblemáticos que testemunhou nesse período. No capítulo mais barulhento de Democracia Acima de Tudo, livro que lançará em breve, ele revela, por exemplo, que o ex-ministro da Justiça Anderson Torres exibiu em segredo a dirigentes do seu partido a famosa minuta que daria guarida para um golpe de Estado no país.

O ano era 2022 e, àquela altura, políticos de diferentes matizes conversavam, com relativo grau de preocupação, sobre tendências golpistas do governo Bolsonaro. O presidente havia transformado o Supremo Tribunal Federal (STF) em inimigo figadal e colocado em xeque a credibilidade das urnas eletrônicas. Segundo a Polícia Federal, o capitão receberia tempos depois versões de um decreto que buscava anular as eleições e prender adversários e autoridades. Em dezembro daquele ano, segundo a investigação, ele se encontrou com militares para discutir a sublevação. Foi nesse contexto que Luciano Bivar teria certo dia recebido de Anderson Torres um convite para uma reunião em Brasília. Torres havia se aproximado do partido por influência do presidente da sigla no Distrito Federal, Manoel Arruda, de quem o ex-ministro é amigo.

Em viagem ao Recife, Bivar designou que o seu então braço direito, Antônio Rueda, fosse ao encontro. Ex-­presidente do União Brasil, legenda criada a partir da fusão do PSL com o Democratas, o deputado relata em suas memórias que nesse encontro o então ministro da Justiça apresentou a Rueda a famosa “minuta do golpe”, que mais tarde seria apreendida pela polícia. Pela versão de Bivar, Rueda relatou o ocorrido e afirmou a Torres que o documento deveria ser destruído. Torres, porém, não destruiu o documento. Em vez disso, informou que não o assinaria, dobrou-o e guardou no paletó diante dos olhos do aliado. Em linhas gerais, a minuta previa intervenção na Justiça Eleitoral e a decretação do Estado de Defesa, situação que, conforme o plano, permitiria reverter o resultado das eleições que deram vitória a Lula.

Deposto da presidência do União Brasil, Bivar e Antônio Rueda, dirigente que o sucedeu, hoje estão rompidos e, desde o início do ano, travam uma pesada troca de acusações. Um processo em tramitação no STF imputa ao deputado ordens para que a casa do ex-aliado e um imóvel da irmã dele fossem incendiados em Pernambuco. Rueda ainda acusa o parlamentar de ameaçar sua filha e de contratar um pistoleiro para executá-lo. Ex-mandachuva do PSL, Bivar também se transformou em desafeto de Jair Bolsonaro quando, ainda no início do governo, o então presidente pediu a expulsão de seis deputados que ele considerava infiéis e brigou para impor o filho Eduardo Bolsonaro na liderança da sigla. Com a rixa, Bolsonaro deixou a legenda e disputou a reeleição pelo PL. Procurado, Rueda negou o encontro e prometeu tomar as medidas cabíveis se Bivar levar a história adiante. “Isso é uma ficção. Nunca houve encontro meu com o Anderson Torres para tratar de minuta”, afirmou o atual presidente do União Brasil.

Luciano Bivar, por sua vez, garante que o relato do encontro foi feito pelo próprio Rueda. “Meu livro reúne depoimentos que eu presenciei e fatos sobre os quais tenho provas”, afirmou. A chamada minuta do golpe é considerada pela PF como peça-chave na investigação sobre a suposta tentativa de subverter a democracia e serviu como prova no julgamento que decretou a inelegibilidade do ex-presidente. O documento foi encontrado pela polícia na casa do ex-ministro dois dias depois dos atos de vandalismo de 8 de janeiro de 2023. Acusado de participar da trama golpista, Torres também afirma que a conversa não existiu. “Nunca tratei desse tema”, disse ele, na primeira entrevista que concedeu desde que foi apanhado pelas investigações (veja entrevista). O deputado conta que o livro está praticamente pronto e que a maioria dos capítulos será dedicada ao ex-presidente da República. Um acerto de contas com os desafetos? Ele jura que não.

Publicado em VEJA de 26 de julho de 2024, edição nº 2903

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